O prefeito de Blumenau, Egidio Ferrari (PL), diz estar satisfeito com o primeiro ano de mandato. Em entrevista exclusiva concedida à coluna em seu gabinete na última quarta-feira (17), ele fez um balanço dos primeiros 12 meses de gestão.
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A conversa de pouco mais de uma hora passou por realizações, como a ativação do hospital universitário da Furb, e também polêmicas, a exemplo das revogações de um aditivo no contrato de concessão do esgoto, alvo de uma CPI na Câmara de Vereadores, e de uma lei que obriga a presença de cobradores dentro dos ônibus do transporte coletivo.
O prefeito disse ainda que a criação de uma nova guarda municipal armada, uma das principais promessas de campanha, deve avançar ao longo de 2026, com mudanças legislativas e previsão de lançamento de um concurso público para formação e contratação dos agentes no segundo semestre.
Na sua lista de metas, tudo que estava previsto para 2025 aconteceu? Como o senhor avalia esse primeiro ano de mandato?
Avalio como muito positivo. Mês a mês a gente precisou ir equilibrando o caixa para encaixar no orçamento, não daria para fazer tudo. Foi um ano de muitas revisões, apertando e fiscalizando contratos em todas as áreas, verificando obras em andamento. Existem algumas dificuldades para dar agilidade, tirar a burocracia, isso sempre me incomodou. Nesta semana eu estava com o secretário de Planejamento (Daniel Maffezzolli) e ele me disse que conseguimos diminuir em 30% o tempo de espera para alvarás, de construção e reforma. Isso se deve à digitalização que temos feito. Hoje eu não assino mais nada em papel. O que ainda vem é de algum projeto de lei que a gente está estudando, aí no papel é melhor para dar uma olhada e fazer algumas anotações. O restante é digital. Só aí a gente prevê uma economia por ano de meio milhão de reais. Fiz um decreto no início do ano, precisávamos segurar em pelo menos 30% os gastos, e a gente tem atingido. Claro que tem secretaria que é mais difícil. Na saúde e na educação, por exemplo, não é para sobrar dinheiro para tirar, mas para reaplicar. Nas duas áreas estou batendo praticamente 30% do orçamento, sendo que educação precisa (por determinação constitucional) ser 25% e saúde, 15%.
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Em janeiro o seu governo anunciou que havia uma previsão de déficit no orçamento de R$ 372 milhões para 2025, o que até gerou uma certa polêmica na época. Como a prefeitura está fechando o ano nas contas?
Estamos conseguindo equilibrar agora. Como eu disse, são várias ações que a gente tem feito ao longo de todo o ano para conseguir equilibrar. É um grande desafio esse exercício, orçamento versus caixa, porque temos os nossos compromissos com folha de pagamento, pagamentos de contratos já em andamento. Nessa semana, por exemplo, praticamente quitei o chamado extra-teto com os hospitais Santo Antônio, Santo Isabel e Misericórdia, que não é minha responsabilidade, é do governo federal. Eu falei durante o ano que o governo federal deve para Blumenau R$ 27 milhões do excedente desse extra-teto. Agora eu paguei mais R$ 5,5 milhões, mais ou menos. Então a gente já está falando de mais de R$ 30 milhões que o governo federal não repassou nos últimos anos.
Aproveitando que o assunto é saúde, o senhor reativou o Hospital Universitário da Furb. Por outro lado, Blumenau abriu mão da verba de R$ 30 milhões que o governo federal havia disponibilizado para a construção de uma nova policlínica. Por que um e não outro? Não dava para fazer os dois?
Uma coisa só precisa ficar clara: sobre o hospital, eu vinha trabalhando (nesse projeto) desde o início do ano, até antes da polêmica da policlínica. Cada dia que passa eu tenho mais certeza, até com a policlínica indo para Indaial, que a escolha foi acertada. E digo isso de forma técnica. Eu tenho praticamente duas policlínicas em Blumenau e diversas clínicas credenciadas pelo município. Então eu não preciso de mais uma estrutura para atender a população, esse é o ponto. Eu preciso de dinheiro, de recursos. Esses mais de R$ 30 milhões (que o prefeito alega que o governo federal deve para Blumenau) já batem com o valor previsto para a policlínica. Eu não sei quando a policlínica vai ficar pronta, pode levar dois, três, quatro anos ou até mais. E principalmente depois, quem vai manter essa estrutura? Eu também não sei nem quanto pode ser, R$ 2 milhões, R$ 3 milhões, já que é regional. Tenho fala de prefeitos da nossa região dizendo que não teriam dinheiro para pagar. O hospital da Furb já é uma estrutura construída, terminada em 2012, com a promessa de se tornar um hospital universitário com recursos federais, e depois daquilo não veio mais nenhum centavo. Então eu não lido com polêmica no sentido de que o governo federal não é do partido do Egidio e por isso ele não quis. Isso foi algo construído por quem aponta o dedo para o outro e faz aquilo que ele na verdade está fazendo.
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Então não houve rixa partidária nesse caso?
De forma alguma. O que eu optei como gestor é o seguinte: pessoal, me paguem os R$ 27 milhões porque aí o povo não precisa esperar dois, três, quatro anos para ter uma nova policlínica. Eu começo a atender amanhã se esse dinheiro começar a cair na conta. Os serviços (com as clínicas credenciadas) estão cadastrados. O profissional está ali esperando. Eu só não chamo mais gente para atender porque eu não tenho dinheiro e porque essa responsabilidade é do governo federal. Por que me prometer algo que eu não sei, que é incerto, do que pagar o que deve agora? Se viesse falando, olha, vamos pagar os R$ 27 milhões e vamos construir uma policlínica, aí é diferente. O hospital vem com outra proposta, atendimento de emergência. São mais de 100 anos que Blumenau não ganhava um hospital, atendimento SUS, público. Ali a gente vai fazer cirurgias, diminuir o tempo de espera das pessoas para uma consulta, para uma cirurgia. Hoje eu tenho mais um equipamento. Para isso eu preciso de dinheiro e estou buscando, e não me importa se o governo é do PT. Eu preciso de recursos, a cidade precisa de recursos. Já sentei com a deputada (federal) Ana Paula (Lima), por exemplo, que é da cidade. Já pedi isso, a gente já levou em mãos os ofícios mais de uma vez, pedindo esse valor de R$ 27 milhões, que Brasília aumente o recurso das médias e altas complexidades para que Blumenau possa receber mais dinheiro e os hospitais também terem a saúde financeira que precisam. Afinal de contas, se eles estão cobrando é porque foi feito, é justa a cobrança, só que eu estou pagando algo que não é meu. Então é nesse ponto que eu gostaria que todos ficassem muito cientes. Não importa de onde vem o dinheiro, importa que ele chegue aqui. Só que não dá para fazer politicagem com isso, isso eu não admito.
A criação da Guarda Municipal Armada foi uma das principais promessas de campanha, mas pouco se ouviu falar dela até agora. Por que esse projeto ainda não evoluiu?
Primeiro porque não estava previsto no orçamento para esse ano, então não daria para fazer nada. Fizemos estudos, reuniões, principalmente com o Ministério Público. Aqui um parênteses: o Ministério Público, o Tribunal de Contas, estão muito presentes no meu mandato, talvez porque eu trabalhei no fórum, depois na polícia e eu tenho trânsito e liberdade para falar. Quando tem uma licitação grande, a gente encaminha primeiro para o Tribunal de Contas para eles avaliarem e não lança para depois o tribunal fiscalizar. E o Ministério Público é a mesma coisa. Eu sentei com o promotor da comarca e disse: olha, eu tenho essa ideia aqui para a guarda, e a gente foi discutindo com calma porque realmente eu não conseguia fazer esse ano. No ano que vem, no primeiro semestre, eu estou prevendo encaminhar um projeto de lei para a Câmara de Vereadores, porque a gente vai precisar mudar a lei, no formato que eu acertar com o Ministério Público, ainda temos algumas dúvidas. Eu tinha um exemplo da Guarda Municipal de Itapema, que foi criada rapidamente e agora o Tribunal de Justiça julgou inconstitucional a lei. Não posso correr um risco desses, eu preciso fazer tudo certinho. Então no primeiro semestre do ano que vem eu devo encaminhar o projeto para ampla discussão com a comunidade, pelos vereadores, enfim, projeto pronto, e a gente prepara tudo para lançar o concurso ainda no ano que vem.
A ideia é aquela estrutura com pelo menos 50 agentes no primeiro ano?
Sim. E por quê? Como a Guarda Municipal é armada, o novo agente vai passar por um treinamento. O curso vai ser feito na academia da Polícia Civil, que eu mesmo fiz lá em Florianópolis para poder ser delegado de polícia. Então ele vem com esse “plus”, digamos, mas ele continua sendo também um agente de trânsito. A gente já precisa aumentar o número de agentes de trânsito aqui em Blumenau, mas não adianta fazer um concurso e depois lançar a guarda. Então eu estou correndo para a legislação ficar pronta e fazer um concurso só. A previsão é no segundo semestre (de 2026) lançar o concurso. Depois, o curso na academia da polícia deve levar, eu acredito, uns quatro meses, para a guarda estar nas ruas em 2027.
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Muita gente questiona esse tipo de investimento porque Blumenau já tem índices muito bons de segurança. Justificaria criar uma nova estrutura que vai consumir recurso público?
Justifica e muito. Hoje um agente de trânsito talvez ganhe uns R$ 4 mil, vou chutar aqui, tem os mais antigos que ganham mais. E um guarda municipal pode ser que ganhe uns R$ 5 mil ou R$ 6 mil, o salário inicial de um policial militar. Então o que a gente só tem que ver é essa diferença. O guarda municipal também é um agente de trânsito, mas com o “plus” de ser um agente de segurança. E eu preciso renovar a minha guarda municipal, vou ter que chamar mais gente, mas eu já chamo no formato de guarda municipal. Por isso que o investimento se justifica muito. Segurança precisa ser prioridade. A guarda municipal vai fiscalizar as nossas praças, os nossos parques, vai fazer ronda, (coisas) que hoje o agente de trânsito não faz.
Neste primeiro ano de mandato o senhor fez pelo menos três grandes mudanças no primeiro escalão: na Secretaria de Educação e nas Intendências da Vila Itoupava e do Grande Garcia. Nos três casos houve denúncias de problemas. O que aconteceu? Por que fez essas mudanças?
Mexi porque tenho coragem de fazer. Para mim é tolerância zero para qualquer tipo de desvio de finalidade, e aí eu não julgo o mérito. No início do ano, o que aconteceu? Uma grande mudança da merenda, eu precisei mudar a empresa (fornecedora). Juridicamente, a minha procuradoria, e eu preciso aqui render homenagens a todos eles, são muito bons… Eu vou para a procuradoria e levo o problema. Seguinte, olha só, eu vi aqui que eu não consigo mais aditar os contratos, eu acabei de assumir em 1º de janeiro, e ali para o dia 10, dia 12, a gente começou a olhar que não podia mais aditar os contratos da merenda com a empresa, porque já haviam sido feitos aditivos maiores do que os possíveis. O que eu preciso fazer? A procuradoria disse que precisava romper, não dava mais para ficar com aquela empresa, precisava contratar uma nova. As aulas começavam em menos de 30 dias, contrato emergencial. OK, a gente fez isso. Aí a questão da troca do (Alexandre) Matias é assim, Matias olha só, vou ter que romper, não dá, tal e tal. Ele falou, olha, prefiro voltar para a Câmara, porque ele estava nos processos anteriores, vou tocar a minha vida. Eu me dou super bem com o Matias, é um dos (vereadores) que eu tenho mais proximidade. Inclusive, chamei a adjunta (a atual secretária Simone Probst), que é uma diretora de escola, professora de 30 anos de carreira, e ela está muito bem. Ela veio com aquela visão interna, de saber como funciona o dia a dia de uma escola, de conhecer os profissionais. Então a gente passou uma régua aqui, porque a gente precisa fazer daqui para frente, sem olhar para trás o que aconteceu. Fizemos isso, aí a empresa entrou na Justiça, entrou aqui (na primeira instância), perdeu, entrou no tribunal, perdeu. Depois os outros dois, os intendentes, a mesma coisa. Veio ali a denúncia do intendente da Vila Itoupava. Mais uma vez não falo do mérito, se errou, se não errou, enfim, mas veio a denúncia e eu chamei e falei: cara, tem isso aqui. O (Norberto) Ramalho é uma pessoa excepcional, de um coração grande, um cara que faz serviço social. Ele mesmo olhou para mim e disse: olha, prefeito, eu prefiro sair, porque vão continuar me perseguindo, indo atrás de mim. Tinha carro seguindo ele o dia todo. Ele dizendo para mim: eu não preciso disso, prefeito, apesar de gostar muito, eu prefiro sair. Saiu, e aí eu coloquei o cara (Roberto Fritzke) que fez campanha para o outro candidato, que foi candidato pelo Novo, ou seja, no maior gesto republicano. É a pessoa que hoje eu vejo que tem a maior condição de me ajudar na Vila Itoupava, conhece tudo, nasceu lá, vive lá. E aí chamei, e hoje também está muito bem. No Garcia foi a mesma coisa. Eu não sabia (da denúncia envolvendo Mauricio Goll). Quando sai na imprensa que ele foi denunciado pelo Ministério Público, falei que ele precisava se afastar, que era importante. Ele falou que também achava, que ia se defender no processo. E mais uma vez chamei um cara que eu acredito, que havia iniciado o ano com a gente, também como intendente, o Juliano (Junkes). O Juliano está ali, é um cara muito bom, do bairro, conhece, a indicação é minha mesmo. Por isso que digo, eu tenho essa coragem, porque tenho tolerância zero. Se exista alguma coisa, eu digo, olha, não estou julgando o mérito, dizendo se tu fez ou se não fez, mas para a opinião pública e para ti é importante você sair, se preservar, e se lá na frente estiver tudo certo, pode até pensar se volta, se não volta. Mas o interesse público e o andamento do serviço não podem ser prejudicados.
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Nos primeiros meses de mandato o senhor viralizou nas redes sociais com vídeos de abordagens a moradores de rua, sob o argumento de ordenamento urbano. Este é um tema que parece ter grande apelo popular, mas também é alvo de questionamentos de órgãos de controle como o Ministério Público. Como enxerga essa discussão?
Eu fui eleito em primeiro turno dizendo que ia proteger as famílias, falando em segurança e em colocar ordem na cidade. E começo a fazer já em janeiro algumas ações, dentre elas enfrentar de verdade essa questão das pessoas em situação de rua. Mas enfrentar a problemática, não as pessoas, com energia. É uma abordagem séria, no sentido de “olha, a polícia está aqui, levanta”. A gente sabe que ali não tem coitadinho. Eu não vi, até agora, uma pessoa que realmente caiu no vício, quer sair e não consegue. A maioria não quer. E é com essa maioria que a gente precisa trabalhar de forma muito responsável, algumas nem têm mais condições de dizerem que querem sair porque o vício é muito grande. Na última abordagem que eu participei, uma pessoa falou: “mas vocês vão me levar lá para o Centro POP e eu vou ser obrigado a tomar banho, eu não gosto de tomar banho”. Já pensou? Essa pessoa está com problemas, ela precisa de atendimento médico. Como é que ela vive na rua e não gosta de tomar banho? Vai ter doença, vai ter de tudo. Então eu comecei a fazer essa abordagem, dizendo “olha só, isso aqui não é lugar pra ti e nós vamos te ajudar a sair da rua”. “Ah, mas eu não quero”. Eu vou te ajudar com a força, então. Fizemos internações involuntárias, e de todas que a gente fez as pessoas não voltaram para as ruas.
Então o senhor considera bem-sucedida essa política?
Totalmente bem-sucedida e vou continuar. Eu disse lá no início, isso aqui é um programa de governo permanente, não é uma ação isolada. Nossa equipe já bateu 11 mil abordagens em mais ou menos 1.500 pessoas diferentes. Então veja quantas vezes a gente aborda a mesma pessoa. Tinha um rapaz que vivia na Beira-Rio, usuário de crack e álcool, que foi internado. Ele sentou na ambulância, deitou e foi para o hospital direto, depois fugiu e foi recapturado, nesse primeiro momento a pessoa sente a falta da substância entorpecente. Passados alguns meses, hoje ele dá palestras em clínicas de recuperação. Ele tinha praticamente 400 abordagens registradas no nosso sistema e hoje está muito diferente. Ninguém nunca teve coragem para pegar esse cara e fazer o que eu fiz em dois meses. E hoje esse cara está recuperado, vive em tratamento, porque é constante, mas já ajuda outras pessoas e está irreconhecível. Está até mais corado, mais gordinho, está diferente, dá palestras, vai na igreja, enfim. Então tem diversos casos de sucesso. E essa internação é feita com base científica, são os médicos que analisam depois de diversas abordagens e consultas e que atestam realmente que ele não tem mais condições de dizer se quer ou não ficar na rua, não consegue mais discernir o que é bom para ele e o que não é. Alguns deles são violentos, já praticando crimes. Quem critica, de verdade, só conhece a teoria. Quem critica nunca foi para a rua para conversar com esses caras. Tinha um outro rapaz que ficava lá perto da Câmara de Vereadores. Uns meses depois eu conversei com a irmã dele, que é de Indaial, e ele voltou a conviver com a família, tinha um problema de esquizofrenia e voltou a tomar os remédios. Saiu das ruas. Isso é fantástico. A gente realmente resgatou a dignidade dessa pessoa. Mais de 600 pessoas já voltaram para as suas cidades de origem, mas todas elas passando por triagem, com acompanhamento posterior para ver o que está acontecendo. Acho que a gente pode até chamar de uma epidemia do Brasil inteiro, olha o que aconteceu em São Paulo, com a Cracolândia, e o governo do Tarcísio (de Freitas) está dando jeito. Aqui em Blumenau, eu sempre digo, não vai ter Cracolândia, não vai ter nada disso enquanto eu estiver prefeito.
O senhor assinou o quinto termo aditivo do contrato de concessão do esgoto, mesmo com uma auditoria, na época, em andamento. E depois que o estudo ficou pronto, usou esse material como argumento para revogar o aditivo. Isso acabou rendendo a instalação de uma CPI. Analisando a repercussão de tudo o que aconteceu, o senhor, hoje, teria conduzido esse assunto de uma maneira diferente?
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É difícil analisar as coisas depois que passaram. Quando eu assinei, naquele momento, eu tinha todos os elementos (para isso). Era um processo de revisão desde 2019, acompanhado pela Agir. Tinha uma previsão de que, se não fizesse naquele momento, a empresa (BRK) não poderia pegar um investimento de R$ 300 milhões da Caixa Econômica Federal. Tinha o parecer da Agir. Tinha uma série de questões dizendo, olha, pode assinar, precisa ser assinado e documentado. E existia uma auditoria que ainda não tinha previsão de ficar pronta. Depois que assino o quinto termo aditivo, as coisas começam a acontecer e aí vem o resultado da auditoria, que a gente cobrou muito. A auditoria apontou que tinha vantajosidade, ou seja, a empresa estava tendo um lucro maior do que deveria em contrato. E aí eu chamei a minha procuradoria para revogar, mas também para rediscutir. O grande ato jurídico foi a revogação, porque havia já a assinatura. Mas eu quero revisar o contrato inteiro. Então, o que a gente fez? Para poder revisar, eu revoguei o quinto termo. Ele não existe mais no mundo jurídico. Não há que se falar ou que se discutir qualquer efeito porque não existem efeitos da assinatura. Ele acabou naquele momento e eu determinei uma revisão completa. Hoje nós estamos com essa revisão em andamento. No decreto, eu falo em possibilidades e estudos para relicitação. E eu disse que temos que caminhar em um sentido em que se não der para efetivamente resolver isso aqui, vamos passar uma régua. O que não dá mais é um achar uma coisa e entrar as questões políticas no meio. Todo mundo tem a solução, mas quem assina, quem pode resolver, quem tem essa possibilidade e dever sou eu, é o prefeito. E por outro lado, eu tenho a responsabilidade de cumprir a lei do marco de saneamento.
É uma revisão, é um processo longo. Eventualmente, se for lançada uma nova licitação, se torna um processo mais longo ainda e as prefeituras têm prazo para cumprir as metas de universalização. Isso não coloca em risco o cumprimento dessas metas?
Não, porque se for o caso de se entender de fazer uma nova licitação, um novo contrato, o que está em vigor não acaba, não vai interromper. E os investimentos precisam ser feitos. Eu sou o prefeito que teve coragem de dizer: se precisar acabar e revisar tudo e relicitar, nós vamos fazer. Só que não dá mais para ficar do jeito que está. Hoje metade da cidade, pelo menos, quando aperta a descarga, vai para o rio Itajaí-Açu, os efluentes chegam no rio que a gente coleta água para beber, é inconcebível. Então é uma grande complexidade. E aí, claro, vem toda a questão da opinião pública e a questão política. Agora foi divulgado que existem redes enterradas, que não estão sendo utilizadas e estamos cobrando para que sejam. Está correto, porque se foi investido, precisa ser utilizado. Isso, para mim, não é novidade. Tanto que quem divulgou isso foi um servidor do Samae. O presidente Alexandre de Vargas já estava com ações em andamento. Estamos vendo que, provavelmente, a rede da José Reuter vai poder ser utilizada. E aí o Samae vai investir para fazer a ligação dela com a Rua dos Caçadores e começar a utilizar.
O senhor mexeu em um vespeiro no transporte coletivo ao propor a revogação da lei que obrigava a presença dos cobradores nos ônibus. O projeto foi aprovado sob protestos da categoria. Essa extinção seria imediata? A prefeitura fala numa transição escalonada. Qual o plano para isso?
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Veja como as coisas são, as polêmicas. Tem muita gente mentindo, inclusive vereadores, falando “que presente de Natal a 400 famílias desempregadas”. Isso não existe. O que existe é: para eu fazer a modernização do transporte público, para eu fazer uma revisão desse contrato, precisamos de ações. O cobrador equivale a mais ou menos 75 centavos no preço da tarifa técnica. Para discutir tudo, eu precisava acertar a legislação, para ter condições. Agora, em momento algum a gente está dizendo que vai demitir um, ou vai demitir 400, talvez não demita ninguém, talvez demita metade. Eu tenho responsabilidade e não vou deixar ninguém fazer demissões em massa. Precisamos requalificar os trabalhadores. Tenho o apoio da Acib, da Ampe, da CDL, de todo mundo. Lá na campanha se falou muito de transporte coletivo, aí quando eu mexo, meu Deus, que absurdo, não pode mexer. A gente precisa discutir. Mas para discutir eu precisava revogar a lei. Com o transporte moderno, hoje somente 7% de todos os usuários pagam em dinheiro. Em 85% das linhas, só 1% paga em dinheiro. Nesses casos é que tem que ir diminuindo. Agora, não quer dizer que a gente vai tirar (os cobradores) dos troncais, das maiores linhas, dos terminais. Quando eu falo em modernização, o que eu espero? Terminais modernos, sem invasão, com segurança, para que as pessoas possam entrar ali com conforto. Eu quero lançar novamente, e já estou com o projeto pronto, as estações de pré-embarque. Quero que as pessoas entrem, com ar-condicionado, com conforto. Se eu não trouxer atratividade para o sistema, eu não consigo atrair o usuário.
Onde vão ficar essas estações de pré-embarque? Quantas o senhor imagina?
Os grandes pontos do Centro, quero transformá-los em estações, com pelo menos duas na Beira-Rio. Prevejo também para a Rua 7 (de Setembro), como eram os antigos. Já pedi para os secretários conversarem com os empresários. Na frente do shopping (Neumarkt), por exemplo. Não dá para o shopping ajudar a bancar? Os clientes também vão usar. Temos um conjunto de iniciativas. Eu estou muito tranquilo e queria deixar todos os usuários e, principalmente, os trabalhadores, os atuais cobradores, muito tranquilos, que não haverá demissão pura e simples. Haverá planejamento, requalificação. No final, eu espero que aquelas pessoas que saírem do sistema, saiam qualificadas para ingressar num novo modelo. Essa é a verdade, essa é a nossa iniciativa. Mas infelizmente tem pessoas que falam mentiras porque são totalmente irresponsáveis. Vão para a rede social, causam caos, dizendo que vai acontecer isso, vai acontecer aquilo, e não tem nada.
O senhor se elegeu dentro de uma coligação grande e acabou formando base governista ampla na Câmara. Mas, ao longo do ano, muitos vereadores questionaram uma suposta falta de diálogo do Executivo. O presidente do Legislativo, que é do seu partido, também tem rixas e conflitos públicos. Qual a sua avaliação? Está faltando diálogo entre os poderes?
Não, diálogo não falta de maneira alguma. Quando tem projetos importantes, como foi esse dos cobradores, eu chamei os vereadores e a gente fez uma grande reunião aqui no Salão Nobre, com os técnicos, com o matemático que estudou, que está estudando esse contrato o ano inteiro, com o secretário, com os diretores, comigo, vice-prefeita, enfim, todo mundo. Explicamos para todos os vereadores. Então, quem não quis não veio e aí depois fala o que quer porque não ouviu o nosso planejamento, a nossa justificativa para o projeto, justamente tentando evitar o embate, tentando evitar que essas polêmicas acontecessem. Eu acho que diferenças, ainda mais na política, são totalmente normais ao processo. O que não pode acontecer, e eu não deixo acontecer, é que qualquer tipo de diferença ou desavença possa prejudicar o andamento de qualquer situação ou o interesse público. Agora, isso é comum em todo lugar, até na nossa família tem rixa, desavença, você tem uma maior proximidade com um e não com o outro, é só isso que tem acontecido. Falasse até do próprio presidente da Câmara, o Ito, é um vereador que a gente tem a conversa que precisa ser feita, isso aqui é importante para a cidade, isso não é, procuro ele nesse sentido. Não falo dele nas minhas redes sociais, não externo qualquer problema ou qualquer dificuldade de relacionamento. Estou aqui para fazer gestão e para fazer as coisas funcionarem, sempre olhando o interesse público. Mas volto a dizer, qualquer tipo de desentendimento é normal. Tem vereador agora que é comunista (fazendo menção ao suplente Mário Kato, do PCdoB), eu não concordo em nada com o que ele defende, mas ele é vereador e a gente conversa, sem problema algum, sobre os problemas da cidade.
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Uma reportagem do Jornal do Almoço mostrou que alguns pais estão com dificuldades de conseguir vagas em escolas próximas onde moram para os seus filhos. O que a prefeitura está fazendo para resolver esse problema em 2026?
São quase 37 mil alunos matriculados na rede municipal, uma rede municipal que eu tenho orgulho porque eu sou fruto dela. Gosto de frisar muito isso, até de falar para a criançada, para os jovens, que eles têm oportunidades, é uma rede municipal de muita qualidade. O aluno precisa se concentrar e se preocupar em estudar, então ele precisa ter uma boa estrutura física em todos os aspectos, com ar-condicionado para ter conforto, uma cadeira boa para ele poder sentar, com material de qualidade que a gente está entregando, os kits, os uniformes, e ele precisa só se concentrar em estudar. Agora, nós temos uma grande migração na nossa cidade, isso é visível. Os nossos números municipais de atendimentos já indicam que a gente está batendo os 400 mil habitantes, então é muita gente. E aí nós temos dificuldades, sim, porque você precisa criar mais vagas. Só que ninguém aqui na minha gestão faz nada no achismo, é tudo com números. Temos essa consciência, mas muitas vezes o caso não passa nos critérios que a gente tem, principalmente de proximidade da residência e do trabalho dos pais.
A Oktoberfest Blumenau bateu recorde de lucro novamente, o retorno do Galegão foi um sucesso de opinião e crítica e a régua está cada vez mais alta, inclusive no quesito segurança. O que o senhor imagina para os próximos anos?
Em janeiro, quando eu assumi, já comecei a me inteirar do que estava planejado. Fico muito satisfeito porque a ideia do Galegão nasceu nessa sala, em uma conversa com o Guilherme (Guenther, diretor da Vila Germânica). Ele já tinha essa ideia e a gente começou a conversar com o Ulysses (Kreutzfeld, secretário de Turismo), e aí ela nasceu e foi um grande sucesso. Em outubro já começou o planejamento da próxima edição. Lançamos o cartaz da 41ª Oktoberfest e as vendas online dos ingressos já estão acontecendo. Já temos um desenho muito bom, continuar naquilo que deu certo, trabalhar para que cada vez mais a gente tenha um público qualificado, para as famílias virem para curtir e gastar com tranquilidade. A Oktoberfest não é mais a festa da bebedeira, é a festa da família, que começou e terminou mais cedo neste ano. Não posso dizer que a gente está pensando nisso ou naquilo, porque são ainda ideias que a gente precisa conversar com os patrocinadores para colocar em prática. Mas o que eu posso dizer é que o sucesso da Oktoberfest deste ano já está impulsionando 2026, todo mundo querendo saber como vai ser, novos patrocinadores aparecendo.
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O Centro de Convenções é um projeto discutido há pelo menos duas gestões em Blumenau e até hoje não saiu do papel. A impressão que se tem é que ele está abandonado. Vai acontecer no seu governo? O senhor tem acompanhado isso?
Tenho. Ontem (terça-feira da semana passada), por exemplo, eu encaminhei um novo documento para o Estado, pedindo até uma prorrogação de prazo para que a gente faça adequações (no projeto) porque não deu certo a licitação. Para você ter uma ideia, o Ulysses disse que a garagem não comportava nem a entrada de uma caminhonete, porque estava baixo. Como estava parado e não deu certo, resolvemos fazer adequações no projeto. Assim que elas estiverem prontas, minha ideia é lançar a licitação novamente. De forma alguma (o projeto) está abandonado. Estamos trabalhando nele.
Sobre o ofício enviado ao Estado, seria uma proposta de revisão do projeto?
É, prorrogação para que a gente possa apresentar essas novas propostas. Porque tudo tem prazo. Expiraria no dia 31 de dezembro, então pedimos mais um ano, para que a gente possa encaminhar as mudanças.
O prazo, no caso, seria para manter o recurso do convênio para a obra?
Também.
O senhor encaminhou a concessão do Biergarten e a da Prainha deve ser lançada em breve. Fala-se muito do Frohsinn também. O que está no radar em relação a novas concessões de equipamentos públicos e comunitários?
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O mais importante é fazer com que esses equipamentos sejam autofinanciáveis. Estamos trabalhando com o parque Carlos Curt Zadrozny, o Frohsinn. A principal determinação minha em conversa com o próprio Ulysses, com o Valfredo (Balistieri, secretário de Desenvolvimento Econômico), é que não adianta lançar tudo só porque somos cobrados. O mercado é especulação também. Então, a gente está fazendo com calma, analisando cada cenário, cada ponto, com passarela nova, com revitalização de porto. Todo esse centro histórico, com o projeto de revitalização do edifício América. A gente vai transformar isso tudo num grande centro também turístico, para as pessoas poderem aproveitar. Já tem gente dizendo que daqui a pouco vão encostar barcos lá embaixo do porto para o cara vir poder tomar um chope na HB (cervejaria Hofbräuhaus, prevista para abrir no Biergarten). É isso que a gente está buscando. Mas, sim, vamos trabalhar com a iniciativa privada, com concessões, com possibilidades de exploração desses lugares para que a gente não pague só conta. E para que os empreendedores também tenham segurança para poder investir na cidade. Assim também vai ser o Sesi, que é outro grande equipamento. A gente teve um campeonato de tênis de mesa agora. Eles vieram para cá e fecharam mais dois anos. Disseram que a iluminação ainda não estava 100% e já sinalizaram (a organização do evento) com um recurso de R$ 300 mil para trocar a iluminação do ginásio. Eles não colocariam um dinheiro desse se realmente não acreditassem que é um equipamento muito bom. Teremos concessão de restaurante, a exploração do campo, com a volta dos times (de futebol) e jogos na cidade. Outra coisa que estamos fazendo são as consultas ao mercado, as PMI (proposta de manifestação de interesse)
Que nota o senhor daria para o seu primeiro ano de mandato?
Vou ser muito otimista, porque eu realmente estou muito feliz em estar prefeito. É um grande privilégio poder conhecer a cidade, cada cantinho, conversar com as pessoas, fazer a gestão. E principalmente de ver as ideias surgirem aqui na mesa e depois acontecendo lá fora. Para não falar um 10, acho que bato um 9 (risos).
Passou de ano?
Passei, direto. Mas justamente isso, por estar muito feliz e realizado no cargo que estou exercendo hoje. É a satisfação de cuidar da nossa cidade.
Qual é grande meta para o ano que vem?
Essas revisões dos contratos. Mais uma vez eu vou usar o termo aqui, coragem para fazer (a revisão) do transporte coletivo, do saneamento. Temos também um investimento do Samae que a gente não conseguiu terminar, a ETA 5, com empresas mais uma vez brigando na justiça. O dinheiro está na conta. É só fazer a obra, e não saiu por isso. Então, às vezes, decepciona a gente nesse sentido, porque já era para estar pronta. Tem obras de intervenções para a mobilidade. Vamos lançar o viaduto (da Rua Tocantins), a concessão do aeroporto. Terminamos o balizamento e o estudo da concessão a gente já começa no início do ano. Então tem várias ações que a gente vai colocar em prática. Eu entendo que esse primeiro ano foi um ano de acertar a casa, de deixar tudo prontinho. Falando de aeroporto, colocamos o avião na pista e agora a gente começou a acelerar para decolar efetivamente em 2026.
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