Somente nos nove primeiros meses de 2022, período em que foi monitorado pelos investigadores, o “mensageiro da propina do lixo” em Santa Catarina teria feito 56 viagens pelo Estado. Segundo as investigações, com fortes indícios de que os encontros com agentes públicos flagrados dentro de carros e hotel, seriam para pagamentos ilícitos, com “dinheiro vivo”, em troca de garantias ao Grupo Serrana na “concorrência” das licitações lançadas pelas prefeituras ao serviço de coleta e destinação de resíduos, saneamento e iluminação pública nos municípios.
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Em depoimento, um delator confessou que ele e um aliado receberam “mesadas” ilícitas de R$ 20 mil a R$ 25 mil por aproximadamente cinco anos, até serem descobertos e o esquema ruir. Eles dividiam a quantia e a usavam para fins particulares, como a reforma de um apartamento.
Pelo que foi apurado pelo Gaeco e o Grupo Anticorrupção do Ministério Público de SC, a mando da empresa Serrana, o “mensageiro” teria viajado pelo Estado, pelo menos 273 dias, entre 2017 e 2021. Em números aproximados, aleatoriamente uns nove meses, de município a outro, pelas suspeitas, recebendo valores da empresa e levando a propina a prefeitos, secretários municipais e intermediários.
Alguns dos encontros, já em 2022, foram monitorados e gravados pelos investigadores.
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Lages
Consta no processo judicial, ao qual a coluna teve acesso, que no dia 1º de junho de 2022, por volta das 17h30, o “mensageiro” teria se encontrado rapidamente na Praça Joca Neves, dentro do carro, com o diretor da Secretaria Municipal de Águas e Saneamento de Lages (Semasa), Milton José Matias Filho.
Para a investigação, “há severos elementos de que objetivo do encontro, até mesmo pela forma peculiar que foi realizado, destinava-se ao pagamento/recebimento de propina da empresa Serrana, em razão de contratos celebrados no Município de Lages”.
No mesmo mês, a prefeitura de Lages teria firmado novo contrato com a Serrana Engenharia. E com dispensa de licitação. No processo, o diretor da Semasa seria o “fiscal do contrato”, o que chamou a atenção dos investigadores.
Balneário Barra do Sul
Já o encontro com o vereador de Balneário Barra do Sul, Jeferson Luis Rodrigues, filho do prefeito — o também investigado Antônio Rodrigues (PP) —, teria acontecido no dia 17 de junho, em um estacionamento público na Boca da Barra. Na hora do almoço, por volta de 12h50.
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Jeferson teria deixado o local em direção a sua casa. Nas mãos, carregava “um volume que aparenta ser uma blusa enrolada”, diz o relatório.
Segundo as investigações, “o registro do rápido encontro segue o mesmo padrão descrito para a conduta da entrega/recebimento de vantagens pecuniárias indevidas a agentes públicos”, relatados por delatores em acordos de colaboração premiada.
Tubarão
Três meses depois, em setembro, o “mensageiro” esteve em Tubarão. A “conversa” com Darlan Mendes da Silva, Gerente de Gestão Municipal, foi no pátio de um posto de combustível.
Era começo da noite. Logo depois, o “mensageiro” seguiu para Laguna, onde teria se encontrado com outros dois investigados em um hotel da cidade: Glauco Gazola Zanella, Secretário municipal de Gestão e Fazenda de Capivari de Baixo, e Deyvisonn da Silva de Souza, prefeito de Pescaria Brava.
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Os agentes do Gaeco não tem imagens do encontro, mas a suspeita é de que estavam no mesmo local, data e horário para o acerto da quantia previamente combinada.
A estrutura usada pelo mensageiro
Os levantamentos feitos pelas equipes de investigação concluíram que o “mensageiro” usou, pelo menos, quatro carros, três celulares e doze linhas telefônicas para agendar e efetuar os pagamentos.
“Fácil perceber que um dos principais alvos da investigação permanece pouquíssimo tempo com um mesmo numeral no aparelho por ele utilizado para troca de mensagens destinadas a encontros e entrega da propina”, dizem os investigadores.
Operação Mensageiro
Em três fases, a Operação Mensageiro prendeu preventivamente sete prefeitos. Há relatos e fortes indícios de fraudes na contratação com, ao menos, 20 prefeituras. Ao todo, os agentes investigam possíveis irregularidades em mais de 140 cidades de SC, em que o Grupo Serrana tem ou teve alguma ligação.
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“Arrisca-se afirmar que a empresa Serrana Engenharia mantém, desde sua constituição até os dias atuais, o maior e mais complexo esquema criminoso de pagamento de vantagens espúrias para inúmeros agentes públicos e políticos no Estado de Santa Catarina com o objetivo único de manter sua hegemonia e monopólio no serviço público essencial de coleta e tratamento de lixo. Os custos de tamanha ganância e ofensa aos preceitos constitucionais são ainda incalculáveis”, afirmam os investigadores.
O que se apura são práticas criminosas, com a participação de dezenas de prefeitos, outros agentes públicos, sócios e funcionários da empresa privada que já teriam “depenado” os cofres municipais em mais de R$ 100 milhões, sem falar no lucro da Serrana que, segundo investigações preliminares, passam dos R$ 430 milhões.
*Com colaboração da repórter Luana Amorim
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