Itaguaçu, 40 graus. Sensação de 50. Só para combinar com a nova temporada de escândalos entre políticos.
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Calorão. Vislumbrei uma gota de suor escorrendo da testa do gigante do Cambirela – e pensei: talvez exista mesmo o tal de “aquecimento global”.
Se até já nevou no gigante, por que nele não se haveria de flagrar a confirmação daquele castigo bíblico – o de suar pelos poros do próprio rosto?
Os astrônomos registram que o Sol está mais perto da Ilha. O nariz do Cambirela, sem uma proteção fator-30, transformou-se numa imensa mancha marrom, bem visível da Baía Sul.
No mar, o primeiro sinal de rebeldia da natureza foram as vísceras quase expostas do velho trapiche de Coqueiros, cujas pernas emergiram à meia canela.
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Se Orson Welles fosse irradiar outra “ficção-desastre”, como aquela da Nova York de 1938, não seria com marcianos invadindo a Terra. Mas o planeta se liquefazendo de calor, cada cantinho transformado num fogareiro…
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Seria mais ou menos assim:
“A figueira da Praça XV desfolhou-se da noite para o dia, como se acometida de alguma praga egípcia. E no último dia de janeiro de 2019, a Ilha começou a derreter com um calor de “rachar catedrais”, na comparação de Nelson Rodrigues.
O diâmetro do Sol – lareira circular – aumentava a cada aurora. E ao meio-dia da véspera do Ano Novo as temperaturas já ultrapassavam os 50 graus. Todos os regatos secaram e as duas Lagoas bem que poderiam ser chamadas de “poças”…
A previsão do tempo era uma só: mais sol! O calor começou a abalar o metabolismo orgânico e psíquico da cidade, cujo povo já padecia dos “sinais exteriores” daquela fornalha. Mãos inchadas, rosto queimado e vincado, lábios talhados e corações em desespero.
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A última bica d`água, escondida no santuário da Serra do Mar, esgotou-se durante a última campanha eleitoral. De olho nas próximas eleições, os políticos distribuíram amostras de “h2o” para os eleitores, junto com um versinho:
“Água boa do arroio/
Lhe arranjo sem demora/
Um golinho vai agora/
Outro após o seu apoio”…
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A moleira dos viventes frigiu ao sol, na caçarola dos grandes engarrafamentos. Sedentos, os motores também se derretem e os motoristas têm que abandonar os seus veículos, como se eles fossem lagartixas mortas.