Depois de 36 longos anos de interdição — a primeira aconteceu em janeiro de 1982 — a ponte retorna à luz e a uma estranha perplexidade, em face da expectativa de sua bem sucedida restauração.
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Espanta que instituições de planejamento urbano — o esvaziado Ipuf? — não tenham pronto e acabado um plano de utilização deste monumento no que concerne à sua incorporação ao sistema viário.
Parece que a palavra “planejamento” foi interditada por todo esse tempo em que a ponte ficou “out of order”. Planejamento que havia nos tempos de Hercílio Luz. A ponte nasceu sobre três grandes pilares: duas torres de 74 metros e uma bengala de 80 centímetros – a bengala do governador Hercílio.
Ferro, aço e concreto modelaram o seu corpo. Seus sapatos terrestres estão fundados numa profundidade de 16 metros abaixo do nível do mar e seu vão livre chegou a ser o maior do mundo, 340 metros entre sua plataforma central e as águas do canal do Estreito.
Essa estrutura foi planejada para suportar pesos hercúleos, como destacam os detalhes técnicos da construtora “Byington & Sundstrom”, de 1922:
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— Uma locomotiva de 50 toneladas puxando vagões de 30t.
— A canalização da água, a razão de 600 quilos por metro corrente.
— Um soalho por toda a sua extensão, pesando 100 quilos por metro quadrado.
— Pedestres a razão de quatro pessoas por metro, ou 300 quilos, o que daria a cada vivente o direito de pesar 75 quilos. (Gente elegante, não?)
Só agora, com toda a tecnologia do século 21, a perplexidade parece haver ocupado os vãos entre as duas torres. A restauração dos olhais, cuja troca já ocorre com sucesso, será possível mediante a sustentação de quatro grandes estruturas submersas. O resultado deve tornar a ponte apta à absorção de pelo menos 20% do trânsito diário entre Ilha e Continente.
Não parece ser este o consenso dominante. Já se cogitou da ponte restaurada para tudo: até para servir de mirante e teatro ao ar livre. Já imaginaram a peça Esta Noite Choveu Prata numa noite de vento sul?
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Ainda resta uma boa esperança. O engenheiro e ex-prefeito de Curitiba, Cássio Taniguchi, na posição de consultor da Região Metropolitana da Grande Florianópolis, admite a utilização da nova Hercílio pelos ônibus do transporte público.
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Sua opinião pode muito bem prover boa influência entre os que vão decidir e planejar os acessos.
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