No último Verão, pouco ouvi as cigarras.

E o chirrio de uma cigarra costumava ser o símbolo da estação estival. Era a cigarra “zangarrear” e o ilhéu vestir o seu “short”, dando o verão por inaugurado.

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Um amigo atalha e pergunta, meio intrigado:

– Como é mesmo essa linguagem das cigarras? Afinal, elas chirriam ou zangarreiam?

No meu tempo de guri, as cigarras apenas cantavam. Era uma espécie de “assobio”, longo e  estridente, que anunciava as manhãs quentes e radiantes.

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Já repararam que já não se ouve o canto das cigarras mimetizadas entre as árvores – e que elas parecem ter sido expulsas do Paraíso,  “banidas” pela selva de pedra?

Houve épocas, mais românticas, em que até os bichos falavam. Hoje, só quem fala é o homem, esse ser “não-resolvido” e dissimulado, bicho que herdou a peçonha da cobra.

°°°

O meu amigo parece mais interessado na “linguagem” dos bichos. E talvez pra “inticar”, pergunta:

– E a cobra, também tem uma linguagem?

– Claro. A cobra silva, assobia, chocalha, sibila.

– E a gralha?

– Bem, a gralha grasna, acho.

– E os bichos de pena?

– A linguagem das aves é múltipla e bem diversa. Elas podem apitar, assobiar, chilrear, corruchiar, dobrar, estribilhar, garrular, gorjear, pipilar, redobrar, ulular.

– E aquele ex-ministro e senador do Maranhão, o Lobão?

– O político ou o bicho? 

– Os dois.

–  Bem, os lobos uivam. Já o Lobão, bale, fingindo que é uma ovelha.

– E a raposa, essa turma que funda ONGs pra roubar o meu, o seu, o nosso?

– Bom, as raposas roncam. Ou regougam. E, claro, “afanam” na Comissão de Orçamento do Congresso.

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– E o porco?

– Depende do porco. Se for um torcedor do Palmeiras, grita “Avante, Palestra”! Já se for o porco-bicho, então ele grunhe, ronca e cuincha. Com a possível exceção do porco catarinense, que no afã de ser exportado, fala russo.

– E qual é a língua do papagaio?

– Depende. Pode ser chalrar, grazinar, palrear, remedar. Mas se for aquele assaltante de bancos, é “fugir”. Aquele Papagaio só “foge”…                                   

°°°

– E qual seria a linguagem daqueles espertalhões que gostam de “emendar” o orçamento?

– Bem, essa categoria de bichos é de grande biodiversidade. Eles falseiam, fabulam, inventam, adulteram, deturpam, mentem, velhaqueiam,  dilapidam, delatam, atraiçoam, peculatam, exploram, prevaricam, subtraem.

E querem fazer crer que são “representantes do povo”…

FIM.

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