O governador Carlos Moisés (PSL) passou a semana na tarefa de reconstruir sua base política para varrer do cenário os fantasmas de um processo de impeachment. Tem um ponto a seu favor: os adversários são maioria, mas não apresentam unidade de pensamento sobre o que fazer.

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Moisés convive agora com mais dois pedidos de impeachment apresentados no início da semana por parlamentares de oposição. Maurício Eskulardk (PL), ex-líder do governo, havia prometido apresentar o seu com base na polêmica compra de 200 respiradores de UTI por R$ 33 milhões – objeto de uma CPI na própria Assembleia e da rumorosa Operação O2, que reuniu Polícia Civil, Ministério Público Estadual e Tribunal de Contas. Na última hora, decidiu somar sua argumentação à da deputada estadual Ana Caroline Campagnolo (PSL), enfraquecendo a denúncia com narrativas bolsonaristas.

A peça apresentada pela dupla acabou mais centrada nas posições divergentes de Moisés em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do que no caso dos respiradores. O texto acusa o governador até de “tentar mudar a forma de governo” “para uma espécie de República dos Estados do Sul”. Uma denúncia até divertida, com aquele estilo de teoria da conspiração à la Ernesto Araújo – citado no texto junto com Eduardo Bolsonaro como desafeto do embaixador da China. Sim, até o embaixador da China entrou na história. Outro ponto curioso é que há um trecho específico para garantir que a vice-governadora Daniela Reinher (PSL) não teve qualquer participação nos pontos que motivam o pedido – com elogios a sua atuação. Interessa ao grupo que Daniela assuma.

O outro pedido de impeachment veio de Ivan Naatz (PL), líder da oposição, e é inteiramente baseado na velha denúncia de que Moisés cometeu crime de responsabilidade ao equiparar salários de procuradores do Estado com os da Assembleia – semelhante a outro pedido arquivado pelo presidente Júlio Garcia no início do ano. O tema volta fortalecido por dois motivos: o julgamento do TCE considerando que houve irregularidade e a ideia corrente em alguns meios políticos de que se é para passar pelo trauma de um impeachment, que caiam Moisés e Daniela para forçar novas eleições no Estado. A pandemia? A pandemia que aguente, a política tem pressa.

Troca da guarda

Araújo Gomes, Moisés e Tonet
Araújo Gomes, Moisés e Tonet (Foto: Maurício Vieira, Secom/Divulgação)

Em uma mesma imagem podemos ver o governador Carlos Moisés (PSL) se despedir de um comandante-geral da Polícia Militar e de um pré-candidato a prefeito de Florianópolis – no caso, o coronel Araújo Gomes, que deixou os postos na expectativa de assumir a Secretaria Nacional de Segurança Pública. O comando ficou com o coronel Dionei Tonet. Para a pré-candidatura na Capital não havia plano B.

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Hora da política

A saída de Douglas Borba da Casa Civil implodiu toda a articulação política do governo Carlos Moisés. Por incrível que pareça, esse é um dado positivo para o Centro Administrativo, considerando que praticamente não havia mais articulação. Já na terça-feira, o novo secretário Amandio João da Silva bateu ponto na Assembleia Legislativa. Moisés almoçou com o presidente do parlamento estadual, Júlio Garcia – uma conversa que abriu portas. A política começa a ser feita.

Sinais

Em sua fase engraçadinha nas redes sociais, o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTC-AL) foi perguntado sobre em que momento percebeu que sofreria o impeachment em 1992. De pronto, dentro do novo estilo, o alagoano respondeu que foi quando pediu para as pessoas saírem às ruas de verde-amarelo e elas saíram de preto. É um bom resumo sobre quando é tarde demais para evitar uma deposição. Em Santa Catarina, o Centro Administrativo parece estar mais atento.

Frase da semana (e resposta da semana)

Quem vai construir o futuro de Santa Catarina são os homens de coragem, não as pessoas que estão se lambuzando em álcool em gel, atochando uma máscara e se escondendo embaixo de uma cama feitos mocinhas da menarca Sargento Lima (PSL), deputado e epidemiologista amador, vinculando menstruação e covid-19

Vou discordar do senhor, deputado. Não é com coragem e nem com força que nós vamos enfrentar a doença. O coronavírus tem mostrado que não escolhe quem pega Moacir Sopelsa (MDB), deputado estadual, primeiro a rebater a fala do colega. Na sequência, Luciane Carminatti (PT) disse ter se sentido ofendida pelo termo “mocinha"

O nome do PT

O PT de Florianópolis define no dia 25 de maio quem é seu pré-candidato a prefeito entre os nomes de Lino Peres, vereador, Elenira Vilela e Gabriel Kazapi. Os três debateram virtual na última quarta-feira, com participação da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla. A escolha tem como pano de fundo a aglutinação das esquerdas na cidade – onde PSOL (Elson Pereira), PCdoB (Janaína Deitos) e PDT (Vanderlei Farias) tem também seus pré-candidatos a prefeito. É concreta a possibilidade que a chapa se reúna com o PSOL na cabeça.

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Origem

Dos tempos em que cursava Jornalismo na UFSC, lembro de uma colega de Itaporanga que usava divertidamente a expressão “de que jaula veio esse?” quando alguém fazia algo absurdo. Ouvindo o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) falar em “fuzis contra as togas”, pelo menos a gente sabe dizer de que jaula saiu esse. A jaulas dos mensaleiros condenados pelo mesmo Supremo Tribunal Federal que ele agora quer afrontar.

Curtas

– Amandio João da Silva já estava com Moisés no segundo turno das eleições em 2018. Longe dos holofotes, participava da elaboração do plano de governo resumidamente proposto para o embate com Gelson Merisio (PSD).

– Havia quem esperasse que o governador optasse por uma solução mais ortodoxa na substituição de Douglas Borba na Casa Civil. Nomes como o ex-deputado federal João Paulo Kleinübing (DEM) e o deputado estadual José Milton Scheffer (PP) foram citados.

– No fim, Moisés optou por uma solução caseira e de confiança. Mas deixou claro nos primeiros atos que não vai mais terceirizar completamente a articulação política.

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