O governador Carlos Moisés (PSL) está contrariado. Em uma transmissão ao vivo diferente da habitual – para um público selecionado de empresários reunidos pelo Lide Nacional, grupo de líderes empresariais criado pelo atual governador paulista João Dória Jr. (PSDB) – o catarinense justificou as medidas que vêm sendo tomadas em Santa Catarina para enfrentar a pandemia do coronavírus e defendeu seu governo no episódio da polêmica compra de 200 respiradores por R$ 33 milhões – sobrou até para a imprensa do Estado.

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Aos empresários reunidos virtualmente, Moisés admitiu que a operação foi realizada quando vivia momento de “verdadeiro desespero” com a necessidade de ampliar a capacidade de atendimento de UTI no Estado já com as restrições ao convívio social impostas e com o temor de que a importação de respiradores da China não fosse possível.

– Nós estávamos em desespero na primeira semana de março, em verdadeiro desespero. Se me dissessem que tinha dentro de uma casa 100 ventiladores, mas que eu só podia ver depois, era possível que a gente desse o dinheiro para ir lá olhar – disse Moisés.

O governador creditou a não entrega dos equipamentos até agora, mesmo com pagamento antecipado, “porque a China está revendo suas entregas e sua capacidade de produção” e disse que esse atraso motivou as suspeitas sobre servidores do governo. Afirmou não querer fazer pré-julgamentos e que ainda não tem respostas à polêmica operação que motivou, até agora, uma CPI na Assembleia Legislativa e uma força-tarefa de investigação reunindo Ministério Público de Santa Catarina, Tribunal de Contas do Estado e Polícia Civil.

– Eu não tenho a resposta se há ilícitos escondidos. Estamos apurando. Promovemos duas sindicâncias e o inquérito policial militar, o MP-SC tem seu procedimento, a Alesc tem seu procedimento. Por que vamos execrar as pessoas? – questionou.

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Moisés também criticou a cobertura realizada pela imprensa catarinense ao caso, em tom de desabafo. Chegou a sugerir aos empresários que pressionassem os meios de comunicação usando a condição de anunciantes para garantir, nas palavras dele, “um recado muito claro de um jornalismo decente que tem que ser praticado, responsabilizar esses veículos”.

– Liberdade de imprensa é uma coisa e o que estão fazendo hoje aqui em Santa Catarina (é outra). E os senhores podem me ajudar muito, fica meu apelo. Em todos esses veículos de comunicação os senhores têm propaganda, comerciais, vendem seus produtos – disse Moisés.

A fala do governador sugerindo cerceamento à imprensa livre acontece menos de uma semana depois do episódio em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mandou jornalistas calarem a boca no Palácio do Planalto – em pleno Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Apesar dessa afinidade temática com o presidente, boa parte da apresentação no Lide teve como mote o contraponto entre as figuras de Moisés e Bolsonaro – instadas sempre pelo presidente da entidade, o ex-ministro e empresário catarinense Luiz Fernando Furlan, que era mediador do debate junto com João Dória Neto, diretor-geral do Lide e filho de Dória.

Ainda no início da transmissão, Furlan perguntou a Moisés se com “essa sua experiência de comandar uma organização e de ser bombeiro, não dá para dar uma consultoria lá naquele palácio em Brasília em que estão inventando coisas?”. O governador tentou fugir da saia-justa, mas acabou dizendo que “às vezes ficar calado é a melhor solução para algumas pessoas”. Furlan também tentou tirar de Moisés uma crítica ao pré-anunciado churrasco que Bolsonaro prometeu realizar neste final de semana. O governador disse apenas que "não é muito recomendado".

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