O depoimento do secretário da Administração, Jorge Tasca, na noite de terça-feira, trouxe um ingrediente novo à CPI dos Respiradores. Pela primeira vez, o governo Carlos Moisés contou com um defensor veemente de sua gestão – cena praticamente inédita em uma comissão em que até agora a oposição falou o que quis, como quis.
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Tasca foi convocado mesmo sem ter muito a acrescentar às investigações da compra dos 200 respiradores fantasmas – aqueles que custaram R$ 33 milhões pagos antecipadamente, mas que nunca foram entregues. Chamado basicamente na lógica de manter o governo se explicando e sangrando na CPI. Pois Tasca fez o que ainda ninguém tinha feito na comissão e praticamente não é feito por nenhum parlamentar da suposta base governista: enfrentou a oposição.
Esse enfrentamento, obviamente, tumultuou o depoimento. Em diversos momentos, a inquirição virou bate-boca entre Tasca e os deputados estaduais Ivan Naatz (PL), Milton Hobus (PSD) e Kennedy Nunes (PSD), os mais ferrenhos oposicionistas. Resumo o momento mais tenso em uma frase dita e repetida pelo secretário a Naatz, relator da CPI:
– Tudo que o senhor fala aqui tem que ser checado, porque o senhor dissemina fake news.
O contexto foi o fato de que Naatz disse na reunião da última quinta-feira, que a Polícia Federal estava realizando naquele momento busca e apreensão na Secretaria Estadual de Saúde. Não estava. Ou melhor, a operação era do Gaeco e acontecia na Secretaria de Saúde de Criciúma.
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Em outro momento de tensão entre Tasca e Naatz foi quando o deputado questionou a qualificação do ex-secretário de Saúde Hélton Zeferino – coronel bombeiro e formado em medicina. Naatz ironizou se algum militar que não fosse oficial teria tempo para se formar médico e foi veementemente confrontado por Tasca, que defendeu o ex-secretário como “um exemplo de pessoa e profissional”.
A questão militar também esteve acesa com no duelo de Tasca com Kennedy Nunes, que questiona desde o ano passado a regra que permite aos militares aposentados acumularem os salário de secretário – não é o caso de Tasca, que é coronel da PM ainda na ativa. A regra, que beneficia outros nomes do primeiro escalão do governo Moisés, foi defendida pelo secretário de Administração, que em mais de um momento se queixou ao presidente da CPI, deputado Sargento Lima (PSL), de que os parlamentares estavam sendo desrespeitosos com a corporação militar. Em um desses momentos, Kennedy disse que Tasca falava a Lima com o tom de superior hierárquico – de coronel para sargento. Lima disse que não precisava ser defendido.
Ao final da reunião, o secretário tentou usar sua última fala para fazer a defesa do governo Moisés e caracterizar, como repetiu algumas vezes no depoimento, que a compra irregular dos respiradores era mera “exceção imperdoável”, mas que não poderia macular todas as ações de governo.
Foi interrompido por Hobus, que exigiu que o secretário se ativesse a questões que tivessem relação com a CPI e passou a tecer críticas às ações de governo que Tasca defendia. Era, enfim, uma discussão entre situação e oposição como há tempos não se via na Assembleia Legislativa. Resta saber se além de Tasca, existe alguém ao redor de Moisés disposto a fazer a defesa do governo. E se esse alguém é deputado estadual.
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