Depois de quase um ano sem aulas presenciais, Santa Catarina começa a enxergar as consequências da pandemia na educação. Só em 2021, 10 mil alunos já abandonaram as escolas da rede estadual. Cerca de 2 mil foram encontrados e levados de volta para a sala de aula, enquanto os outros 8 mil continuam fora das escolas. Essa realidade, porém, atinge todo o Brasil. Um levantamento feito em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que mais da metade dos adultos com 25 anos ou mais não concluiu o Ensino Médio. Esse número revela um problema antigo da Educação brasileira: a alta taxa de abandono e evasão escolar.

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A Secretaria de Estado da Educação não considera que esses 8 mil estudantes tenham abandonado os estudos. Para a pasta, os alunos estão apenas fora da escola, o que não significa que eles tenham desistido da educação. As equipes agora buscam por esses jovens e acreditam que este mais de um ano de aulas remotas por conta da Covid-19 pode ter contribuído para esse afastamento com a comunidade escolar.

O Instituto Estadual da Educação, localizado em Florianópolis, por exemplo, conta com cinco mil alunos entre o 1º ano do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio. Do total, 229 crianças e adolescentes não estão fazendo qualquer atividade na escola. Desses, 78 são estudantes que a unidade não conseguiu qualquer forma de contato, enquanto os outros 151 são alunos que a escola busca ativamente o retorno para a sala de aula física ou on-line, por meio de procuras, mensagens, telefonemas e visitas.

Entre as 36 regionais de Educação do Estado, Grande Florianópolis, Blumenau, Criciúma, Joinville e Laguna são as que mais fazem buscas ativas para levar estudantes de volta para as salas de aula. Esse processo é feito não apenas pelas unidades de ensino estaduais, mas também pela rede de proteção dos municípios, formada pela Assistência Social, Saúde e o Conselho Tutelar.

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As pesquisas do IBGE mostram que os motivos para o abandono da escola são inúmeros. A maioria dos adolescentes largam o estudo quando estão indo para o Ensino Médio, porque precisam trabalhar. Outra razão recorrente é não ter escola na localidade ou a unidade ser distante de casa. Motivos como a falta de vaga, a falta do turno desejado, a falta de dinheiro, gravidez e a necessidade de atuar em afazeres domésticos também estão nessa lista.

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Por causa da pandemia outras razões também passaram a ser empecilhos na continuação dos estudos por aquelas pessoas com menor poder aquisitivo, como explica Geovana Lunardi, professora e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.

— As inúmeras dificuldades de acesso à tecnologia, a uma internet de qualidade, ao modelo remoto são um dos aspectos muito importantes de demarcar, que surgiram com a pandemia. O segundo diz respeito ao avanço das desigualdades econômicas no Brasil. As famílias estão tendo que lidar com problemas muito mais graves, como, por exemplo, a questão da fome, as dificuldades financeiras e tudo mais. E eu diria que o terceiro são os próprios impactos emocionais que todo mundo tem vivido nessa experiência da pandemia — fundamenta Geovana.

O diretor do Instituto Estadual da Educação (IEE), Vendelin Borguezon, conta que alguns adolescentes aproveitaram o período de aulas remotas, em que não é preciso estar em contato simultâneo com o professor, para trabalhar no horário da escola.

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— Nesses casos é muito difícil a gente trazer esses alunos de volta para a escola. Antes da pandemia a gente perguntava por que eles estagiavam ou trabalhavam e a resposta era quase unânime: “Para ter o meu dinheiro”, “para ser independente”, “para não precisar pedir nada para o pai”. Agora, a resposta também é unânime, mas é outra: “Para ajudar nas despesas de casa”. Então o problema é bem complexo. A maioria que não faz atividade está em ensino remoto e tem algum tipo de precariedade econômica ou familiar — conta o diretor.

Apesar do problema visível trazido pela pandemia da Covid-19 e debatido por especialistas, segundo a SED, os números de abandono diminuíram em 2020, comparado a 2019, com uma redução de 0,4% para 0,2% no Ensino Fundamental e de 5,1% para 3,6% no Ensino Médio. A especialista Geovana explica, porém, que a situação é mais complexa do que os números representam.

— O formato remoto possibilita que os alunos estejam presentes ainda que estejam ausentes. Ou seja, fica muito mais difícil de você registrar essa ausência, então aparentemente parece que o aluno está ali, mas não necessariamente significa dizer que ele esteja acompanhando.

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O diretor do IEE complementa dizendo que há um número de crianças e adolescentes que estão fazendo parcialmente as atividades e que, apesar de não terem abandonado a escola, e a equipe do Instituto estar estimulando a permanência nos estudos, apresentam uma defasagem na aprendizagem.

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Para solucionar esse problema, a secretaria da Educação trabalha em duas frentes, fazendo a busca ativa por esses alunos e aumentando a capacidade das escolas para estimular que mais estudantes voltem ao ensino presencial.

— Diante desse fato nós acionamos entidades vinculadas municipais e conselhos tutelares para fazer uma visita ao aluno. O próprio diretor também é autorizado a fazer um contato por telefone, WhatsApp, e-mail, ou mesmo uma visita pessoal à residência onde mora esse adolescente ou essa criança. Outra alternativa que nós consideramos primordial é o aumento da capacidade, da permanência dos alunos na unidade escolar. Ou seja, 100% presencial. Queremos que todos estejam em 2022 de forma 100% presencial — explica o secretário de Estado da Educação, Luiz Fernando Vampiro.

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Para aumentar a capacidade de atendimento nas escolas, o Comitê de Retomada das Aulas Presenciais reduziu a orientação de distanciamento entre os alunos de 1,5 metro para 1 metro, ampliando a capacidade nas escolas. O diretor do Instituto Estadual de Educação conta que as pessoas já estão se sentindo mais seguras com os protocolos e com o avanço da vacinação contra Covid-19. Dessa forma, no segundo semestre, a maior escola pública da América Latina passa de 35% para 55% dos alunos no modelo 100% presencial.

A especialista em Educação, Geovana Lunardi, lembra que é necessário além de trazer os alunos de volta para as estudos, fortalecer o vínculo dos estudantes com a unidade escolar.

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— Nós precisamos mesmo resgatar esses alunos e resgatar no sentido não só de localizar onde eles estão, porque se evadiram ou abandonaram, mas também de fortalecer o vínculo desses alunos com a escola.

Como a SED organiza a busca ativa

O primeiro passo é localizar os alunos que não estão frequentando ou fazendo as atividades escolares. Depois, a escola faz o contato para tentar trazer de volta aquela criança ou adolescente por e-mail, telefone, mensagens de WhatsApp ou videoconferências com os pais. Essa busca dos estudantes aplica-se nos três modelos de ensino adotados durante a pandemia: presencial, remoto ou híbrido.

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Quando o aluno está no modelo totalmente presencial e não comparece por cinco dias consecutivos ou por sete dias alternados em um mês, a escola aplica o Programa Aviso Por Infrequência do Aluno (APOIA). Para os estudantes do sistema híbrido, é aplicado o Formulário da Busca Ativa quando, no momento em que o aluno está na escola, ele falta 5 dias consecutivos ou 5 dias alternados em um mês. E para os que estão no ensino remoto, o Formulário da Busca Ativa é aplicado quando o aluno não devolve nenhuma atividade no período de 15 dias.

*Com colaboração de Ana Vaz, Danielly Witt e Dener Alano, da NSC TV

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