Minerais “do futuro”, basalto e camadas de argila vermelha. Um potencial gigantesco para transição energética está escondido em uma ilha submersa no Oceano Atlântico, com um território equivalente ao tamanho da Espanha, e vem sendo reivindicado pelo Brasil à Organização das Nações Unidas (ONU) há seis anos. Essa é a Elevação do Rio Grande, ilha a 5 mil metros de profundidade e que está a cerca de 1,2 mil quilômetros da costa do Rio Grande do Sul. As informações são do g1.
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O território está sendo reivindicado pelo Brasil porque, um dia, o território pode já ter sido do país. É o que revelam estudos feitos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que indicam que o solo era igual ao do encontrado no interior de São Paulo, antes da ilha afundar.
A ilha possui cerca de 500 mil quilômetros quadrados e possui as chamadas “terras raras”, com 17 elementos químicos encontrados em grande quantidade na natureza. O nome vem da dificuldade de separar a forma pura dos minerais onde se acumulam. São eles:
- Lantânio;
- Cério;
- Praseodímio;
- Neodímio;
- Promécio;
- Samário;
- Európio;
- Gadolínio;
- Térbio;
- Disprósio;
- Hólmio;
- Érbio;
- Escândio;
- Túlio;
- Itérbio;
- Lutécio;
- Ítrio.
Esses minerais conseguem absorver e emitir luz, resistem a altas temperaturas e, ainda, têm magnetismo intenso e permanente. Na indústria, eles podem ser usados na fabricação de televisores de tela plana, na tela de celulares, nas lâmpadas de LED, em equipamentos de raio-x e tomografia, e até mesmo em mísseis teleguiados.
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A pesquisadora Carina Ulsen, da USP, explica ao g1 que esses minerais estão na natureza, não podendo ser produzidos. A presença desses elementos químicos no local, associada com a argila vermelha e o basalto, que é uma rocha vulcânica, mostra que o local pode ter sido uma ilha vulcânica tropical.
— O Brasil tem muito desta riqueza. O que encontramos é uma concentração anômala de minerais na Elevação Rio Grande. Nosso trabalho não é advogar a favor da mineração submarina, mas estudar a região e entender o que temos lá embaixo do ponto de vista mineral, animal e vegetal — diz.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil tem a segunda maior reserva desses minerais “do futuro” do mundo, mas ainda os exporta como commodities brutas, sem agregar valor aos elementos.
Território em águas internacionais
O Brasil vem reivindicando a ilha com base na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Ao todo, são três áreas que estão em disputa pelo governo brasileiro em águas internacionais.
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O local onde fica a Elevação do Rio Grande é chamado de Margem Oriental-Meridional e tem cerca de 1.500.000 quilômetros quadrados. As outras duas áreas são chamadas de Região Sul e Margem Equatorial. As três ficam foram da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Brasil e, por isso, o país não possui soberania sobre o local.
A Zona Econômica Exclusiva (ZEE) abrange cerca de 370 quilômetros a partir do litoral e faz parte do Brasil desde 1982. Tudo o que está além dessa faixa, assim como a Elevação do Rio Grande, é considerado como patrimônio da humanidade.
O pedido do Brasil pelo controle da Margem Oriental-Meridional está em análise desde 26 de fevereiro de 2025 pela Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC). Já foi enviado à comissão um documento com a metodologia e os argumentos do Brasil para a integração do território, em março, pela Marinha do Brasil.
Não há prazo para a ONU responder.
Ilha já foi recoberta de florestas
Os pesquisadores indicam que a área tinha clima tropical e já foi recoberta de florestas e rodeada de recifes. Com a ação do vento, da chuva e das ondas, além das erupções de lava, a ilha se transformou no que é hoje, com picos de mais de quatro mil metros de altura.
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As características foram descobertas por pesquisadores do Instituto Oceanográfico da USP, com um navio de pesquisa para realizar dragagens, em 2018. Oito meses depois, com submarino não-tripulado de operação remota fez imagens das camadas expostas na borda do cânion, conhecido com a Grande Fenda.
— O fato de que estamos encontrando esses indícios, de que essa área era uma ilha até pouco tempo atrás, é muito importante, porque mostra que havia uma relação direta com o continente — conta o pesquisador Luigi Jovane.
Agora, pesquisadores da USP e de outras universidades, como Mackenzie, UNB, UERJ, Unisinos e Ufes querem entender questões relacionadas à legislação internacional, impactos ambientes, biologia e outros aspectos relevantes sobre a ilha.
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