A Academia Brasileira de Letras (ABL) repudiou a opinião de uma vereadora de Itapoá (SC) sobre o livro “Capitães de Areia”, de Jorge Amado, um dos maiores clássicos da literatura brasileira. A parlamentar usou seu tempo na Câmara de Vereadores para manifestar-se contra a utilização da obra em escolas da cidade.
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A leitura, segundo Jéssica Lemonie (PL), estava sendo direcionada para pré-adolescentes entre de 12 a 13 anos e seria imprópria por provocar discussões sobre marginalização e estupro. A ABL rechaçou a crítica e relembrou que o livro foi publicado em 1937, traduzido para 49 idiomas e publicado em cerca de 55 países.
“A obra retrata a realidade de crianças em situação de rua, um tema que segue urgente e necessário. A academia reafirma seu compromisso com a liberdade de expressão e com o valor da literatura na formação crítica dos jovens”, afirma a ABL na nota.
A professora de Letras e Pedagogia Alcione Pauli, doutoranda em Patrimônio Cultural e Sociedade pela Universidade da Região de Joinville, recomenda a leitura de “Capitães da Areia” a todas as idades, já que o livro debate a realidade social de muitas crianças espalhadas pelo Brasil, não como uma força de incentivo, mas como crítica ao sistema que deixa essas pessoas à margem.
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— Em 1937 ele traz essa crítica social, o que que a nossa sociedade faz com as nossas crianças, os nossos jovens até hoje. Porque essa essa obra, ela se comunica com o tempo que a gente está vivendo, 2025, de não cuidar das nossas crianças, os jovens e os adolescentes. Quem tiver acesso a um seminário, a uma leitura compartilhada com um professor comprometido com as questões de leitura literária e com as questões sociais vai conseguir fazer uma discussão muito apurada e muito pertinente para os dias de hoje — afirma a professora.
Para a especialista, é necessário abordar o assunto pois ainda se observa muitas crianças que não têm ambientes saudáveis nas famílias ou nos locais onde elas vivem e, por vezes, a situação retratada por Jorge Amado em 1937 se estende até os dias atuais.
Polêmica circulou nas redes sociais
Em comentário nas redes sociais, o advogado e escritor Pedro Pacífico afirma que a obra ensina aos leitores sobre privilégios e a escassez presente na vida das pessoas.
“Este livro já tá nas escolas há décadas. É uma das principais obras da literatura brasileira e foi lido durante todos os governos, seja de esquerda, direita, centro, o que você quiser. Segundo lugar, ‘Capitães da Areia’ não incentiva a marginalização. Ele retrata uma realidade brasileira e não só de Salvador, da época que foi escrito, mas ainda hoje, muitas crianças que ficam à margem da sociedade e tenho certeza que não é por escolha”, defendeu Pedro Pacífico.
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O que disse a vereadora de SC sobre Jorge Amado
A vereadora usou a plenária da Câmara de Itapoá para indicar que o livro fosse retirado da grade curricular de alunos pré-adolescentes.
— O livro ele fala sobre racismo, ele romantiza o estupro, a relação sexual de adultos com crianças. Esse livro está sendo discutido em sala de aula. Não estou aqui questionando a professora que recebeu esse material. Está disponível. Mas, eu quero que fique aqui um apelo à secretária de Educação, tem outros livros, outro material, outra literatura brasileira que pode ser discutida em sala de aula ensinada para as nossas crianças. Sim, o livro antigo retrata a realidade da Bahia, mas não precisa ser discutido entre as nossas crianças — disse em plenário.
A vereadora afirmou ainda que o livro teria classificação indicativa. Entretanto, diferentemente de séries, filmes e programas de TV, não há obrigatoriedade de livros informarem classificação de idade indicada, apesar de algumas obras já trazerem esta informação.
Veja nota completa da ABL
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