Uma influenciadora menor de idade que vivia com Hytalo Santos, preso na última sexta-feira (16) em uma investigação que apura exploração e exposição de adolescentes nas redes sociais, conheceu ele aos sete anos, em uma praça da cidade de Cajazeiras, na Paraíba, de acordo com depoimentos judiciais obtidos pelo Uol. Aos 10 anos, a menor já frequentava a casa dele e aparecia em vídeos de dancinhas publicados na internet.

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O caso ganhou repercussão após ser exposto em um vídeo do influenciador Felca sobre adultização de crianças. A menina, atualmente com 17 anos, é uma das adolescentes mais citadas no trecho em que o youtuber fala sobre Hytalo Santos.

A exposição sexualizada da jovem nas redes sociais foi alvo de uma denúncia à ouvidoria do Ministério Público da Paraíba (MP-PB) em julho de 2020, quando ela tinha 12 anos. Em 2022, o MP obteve medidas protetivas, exigindo acompanhamento do Conselho Tutelar, tratamento psiquiátrico e comprovação de frequência escolar. Segundo o órgão, o influenciador recebeu o documento em mãos, recusou-se a assiná-lo e manteve a postagem dos conteúdos em seus perfis.

No entanto, o processo foi arquivado em fevereiro de 2024, a pedido do próprio MP, que considerou que as medidas foram atendidas de forma satisfatória e que a jovem não corria riscos. No sábado (16), quando a defesa de Hytalo entrou com pedido de habeas corpus, usou o arquivamento como argumento em favor de que ele fosse solto. O pedido foi negado pela Justiça.

Mesada para os pais e Hytalo como “figura paterna”

De acordo com depoimentos, a menina conheceu Hytalo no momento em que o pai dela havia abandonado a família, depois de anos de violência doméstica contra a mãe. Por conta dos traumas, a menor fazia tratamento psiquiátrico no SUS.

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Quando a menina começou a produzir vídeos de dancinhas para o influenciador, a família vivia com a ajuda de programas sociais como o Bolsa Família e o Auxílio Brasil. Depoimentos revelam que Hytalo enviava à família da menina entre R$ 2 mil e R$ 3 mil mensais, além de custear escola, roupas e o celular da adolescente.

Mesmo com a investigação do MP, a jovem e a família dela sempre retrataram a relação com Hytalo como algo positivo, ressaltando a participação financeira dele na vida da família. A menor chegou a afirmar em depoimento que o considerava uma “figura paterna”.

Entenda o caso Hytalo Santos

Festas e mesada de R$ 3 mil

Ex-funcionários de Hytalo Santos relataram em entrevista ao Fantástico do último domingo (17) a rotina rígida dos adolescentes que viviam na casa do influenciador, em João Pessoa, na Paraíba. Segundo eles, os jovens eram tratados como propriedade do criador de conteúdo, que decidia quando podiam comer, dormir e até usar o celular.

Em depoimento ao Ministério Público, uma ex-funcionária afirmou que os ambientes da casa eram sujos e que os jovens ficavam sem alimentação adequada, dependendo da autorização de Hytalo para se alimentar.

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— Inclusive já teve filmagens que ele fez pra postar na rede social, que as crianças estavam indo pra escola e, após desligar as câmeras, elas não iam pra escola. Ou, se acontecesse de eles irem para a escola e surgir algum agenda ou algo que precisasse de um deles, eles iriam lá simplesmente para pegar a criança — disse um dos ex-funcionários em condição de anonimato.

Ainda segundo as denúncias, festas eram frequentes na mansão do influenciador, com consumo de bebidas alcoólicas liberadas para os adolescentes.

— Eu presenciei muita festa, bebida, e a bebida era vontade pra todo mundo. Todos bebiam, sem restrição — revela outro ex-funcionário.

De acordo com os relatos, a mansão funcionava como um “reality show”. Os adolescentes gravavam vídeos diariamente, muitas vezes em coreografias sensuais. Segundo o Ministério Público, o conteúdo publicado gerava altos lucros para o influenciador por meio de publicidade, rifas e sorteios online.

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Entenda o caso

Hytalo e o marido Israel publicavam vídeos nas redes sociais com menores de idade “namorando” e com danças de teor sexual, segundo a denúncia. O material exposto no vídeo de Felca gerou repercussão nacional e levou o Ministério Público da Paraíba a pedir medidas judiciais.

Segundo um dos promotores do MP-PB, há indícios de que Hytalo tinha um esquema de benefícios para familiares dos menores em troca de emancipação dos adolescentes que participavam desses vídeos. O influenciador nega as acusações.

Além de ações de busca e apreensão em endereços de Hytalo, a Justiça também decidiu bloquear o acesso às redes sociais do influenciador, bem como proibir o contato com os menores de idade citados no processo de exploração. A conta do influenciador no Instagram está fora do ar desde a última sexta-feira (8).

*Com informações do Uol e do g1.

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