O médico Antônio Teobaldo Magalhães, 64 anos, condenado a 12 anos e cinco meses de prisão por estupro a uma paciente em um posto de saúde de Joinville já respondia a cinco processos administrativos disciplinares antes de ser afastado do cargo na saúde pública, em agosto de 2021. Além disso, a prefeitura registrou outras 35 reclamações de pacientes recebidas por meio do canal de ouvidoria. A reportagem do AN recebeu com exclusividade detalhes da sentença.
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Dieta desproporcional, perguntas invasivas acerca de relacionamentos amorosos, abordagem a questões de “vidas passadas” e assédio por mensagens são maioria nos relatos. O documento cita que as reclamações seguem o mesmo contexto descrito pela vítima que denunciou Teobaldo à polícia e motivou a prisão preventiva do médico.
Há registro na ouvidoria desde julho de 2018 a setembro de 2021. O primeiro processo administrativo foi aplicado em janeiro de 2020, já o quinto, em agosto de 2021, quando o profissional foi exonerado do cargo público.
“Receita maluca” e assédio
Uma das pacientes cita no relato registrado na ouvidoria que buscou a Unidade Básica de Saúde da Família do Iririú para tratar de um problema de pedra nos rins, do qual havia sido diagnosticada. No entanto, ao ser atendida por Teobaldo, diz que, em vez do profissional a receitar medicamentos ou a encaminhar a um especialista, ele a deu uma “receita maluca”, com uma dieta com muitos ovos, sal do himalaia, óleo de côco e cinco frutas com cores diferentes para o desjejum.
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A mulher ainda reclamou que o médico, aos poucos, faria a retirada do remédio que utiliza para a regulação da pressão arterial. Por conta disso, a paciente relatou que não queria mais ser atendida por Teobaldo.
Outra mulher o chamou de “negligente”, dizendo que, mesmo apresentando “anomalias”, o médico não solicitou exames e nem prescreveu um tratamento, apenas receitou uma “dieta vegetariana”.
Em junho de 2019, outra solicitante diz que procurou o posto do Iririú por conta de uma depressão. Ela alegou já ter passado pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da cidade onde morava anteriormente e pego um prontuário médico, que diz ter tentado mostrar pra Teobado.
“Ele não quis nem olhar. Me deu um remédio e uma dieta que iria me curar. Ele falou coisas que não era para um médico falar com paciente, tipo orgasmo e relação sexual. Fiquei com muita vergonha, não sabia onde enfiar a minha cara… Estou em choque, não sei o que fazer. Estou com dificuldades para dormir, em estado de nervo”, escreveu a mulher.
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A Secretaria de Comunicação da prefeitura também recebeu prints de uma conversa de uma paciente com o médico, que foram anexados ao processo. A mulher relatou à ouvidoria que estava com dificuldades em dar continuidade ao tratamento que já fazia em seu estado de nascimento.
A paciente descreveu que, durante uma crise psiquiátrica, foi ao Caps de Joinville e, em seguida, encaminhada à unidade de saúde do Iririú, onde foi atendida por Teobaldo. Ela questionou o fato de ele ser clínico geral e estar a atendendo como psiquiatra. Além disso, informou ter sido assediada tanto pessoalmente como por mensagem.
Em um dos prints enviados pela mulher, de um número de WhatsApp que tem a foto do médico, ela recebe o convite para ir à casa dele buscar o laudo médico que solicitava. Na conversa, de março de 2021, o médico afirma que está afastado “por precaução” e questiona: “Por que você não vem aqui em casa?”.
“Porque eu não tenho nada para fazer aí. Gostaria que me tratasse como paciente”, responde a mulher.
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Na mesma conversa, há outras frases que fogem do cunho profissional entre médico e paciente. Veja trechos printados da conversa:


O que diz a defesa
Após a condenação, a reportagem do AN conversou com a defesa do médico Antônio Teobaldo, que está sendo representada por três profissionais do escritório Lavarda Advogados Associados.
Como a setença ainda não transitou em julgado ainda cabe recurso. A defesa informou que irá recorrer da decisão, já que, segundo os advogados, os laudos periciais que foram coletados não comprovam o crime.
— Afirmamos que o Teobaldo é inocente e vamos provar — alega a defesa.
Entenda o caso
O médico foi preso preventivamente em outubro de 2021 após uma paciente procurar a Polícia Civil e denunciar a conduta do médico. Em entrevista exclusiva, a mulher disse que os abusos aconteceram durante uma consulta em agosto do ano passado, também no postinho do Iririú.
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A mulher relatou que o profissional se aproveitou de seu estado de vulnerabilidade e a ameaçou para cometer os abusos sexuais. Além disso, falou de sua vida pessoal e falou “coisas horríveis” de sua filha, de 7 anos.
Além da condenação de mais de 12 anos, a Justiça entendeu a situação como danos morais e também exigiu uma indenização de R$ 25 mil à vítima.
Conforme a delegada Cláudia Gonzaga, titular da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami) de Joinville, ainda há três inquéritos em andamento contra o médico, que estão sendo finalizados. Portanto, a condenação pode ser ainda maior.
Teobaldo também é investigado no estado da Bahia suspeito de estuprar uma criança em 2010. O crime, segundo a vítima, também teria ocorrido em uma unidade de saúde do município onde vivia com a mãe e a irmã. Este caso, que segue em segredo de justiça, no entanto, não está sendo acompanhado pelos atuais advogados de Joinville.
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