Era madrugada de 6 de setembro de 2023 quando os moradores da comunidade Monte Cristo, na parte continental de Florianópolis, acordaram com as ruas inundadas por mais de 2 milhões de litros d’água após o rompimento de um reservatório da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan). Quase dois anos depois, nesta quarta-feira (30), famílias da mesma comunidade foram acordadas às 3h com as casas alagadas devido ao rompimento de uma adutora da mesma empresa, deixando rastros de destruição.
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O rompimento desta quarta-feira foi registrado por volta das 3h15min na rua Elesbão Pinto da Luz. De acordo com os bombeiros, as seis residências atingidas não apresentaram danos estruturais graves, mas sofreram com estragos em paredes e perda de móveis, eletrodomésticos e outros bens. Ninguém morreu ou ficou ferido.
A adutora, segundo o diretor de operação e expansão da Casan, Pedro Joel Horstmann, pode ter se rompido por três motivos: variação de pressão no sistema de distribuição, falha no material ou problema no assentamento da tubulação. Contudo, somente um laudo produzido por uma equipe técnica da empresa pode dar certeza sobre o que aconteceu.
Entre os moradores afetados está Manoela Morgana. Ela é dona de um salão de beleza, localizado no primeiro andar da casa onde mora. O momento, segundo ela, foi desesperador:
— Toda água jorrava para dentro de casa com pedra, areia. Foi tudo muito rápido e em segundos já inundou tudo. Ficou tudo soterrado. Foi desesperador, foi alagando tudo, foi subindo. Quando não tinha mais para escoar, estourou a parede do canto do fundo do meu salão, e foi para o outro lado da rua, para outras residências. Acabou com mais duas residências.
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Veja as fotos do rompimento da adutora no Monte Cristo
Rompimento de reservatório impactou mais de 500 pessoas
Em 2023, foi a vez da moradora Maria do Carmo Duarte, de 84 anos, que acordou assustada com um “barulhão” que a fez pensar que fosse um avião passando. Ao levantar, ouviu o som da água, mas percebeu que não estava chovendo. Naquele ano, o rompimento do reservatório da Casan destruiu casas, desabrigou famílias e deteriorou veículos. Duas pessoas ficaram feridas e 550 foram impactadas.
— Quando abri a porta, a água me empurrou de volta. Aí eu comecei a gritar e pedir socorro — lembra. Ao NSC Total, a moradora contou que a água chegou a um metro de altura e que ela perdeu tudo que tinha.
Na ocasião, a Defesa Civil cadastrou 286 famílias com danos em casa ou no veículo. À época, foram vistoriadas 163 edificações, sendo que destas, quatro foram interditadas, duas liberadas com restrição, quatro condenadas e 155 liberadas. Os moradores das residências liberadas, em sua maioria, perderam móveis, eletrodomésticos e pertences pessoais. Em decorrência do desastre, 75 veículos foram avariados.
Em setembro de 2024, a Casan e o MPSC assinaram um termo de ajustamento de conduta que prevê a criação de mecanismos para a prevenção e o ressarcimento de possíveis danos, a fim de que se tenha um plano para ser aplicado em casos de acidentes.
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De acordo com as investigações, a causa ao rompimento do reservatório, entregue pela construtora Gomes & Gomes Ltda menos de dois anos antes da tragédia, foi a má execução da obra. O motivo foi apontada por quatro laudos técnicos apresentados pelo Centro de Apoio Operacional Técnico do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), Tribunal de Contas, Polícia Científica do Estado e Auditoria da própria Casan.
Já no final de agosto do ano passado, dois sócios proprietários da Gomes & Gomes Ltda., empresa que construiu o reservatório, e um dos engenheiros da Casan, responsável pela fiscalização da obra, se tornaram réus em ação penal ajuizada pelo Ministério Público catarinense. Eles são acusados por dois crimes: o de causar inundações e o de causar desabamento ou desmoronamento.
Ao NSC Total, o MP informou que a ação penal, que tramita na 29ª Promotoria de Justiça, está em fase de diligências após a audiência de instrução.
Veja as fotos do rompimento do reservatório em 2023
O que diz a Casan?
Ao NSC Total, o diretor de operação e expansão da Casan explicou que a empresa investe no bairro Monte Cristo. Segundo ele, as equipes trocaram as redes por um material mais resistente para poder evitar novos tipos de vazamento.
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— A gente tem investido bastante em restauração de válvula, redutores de pressão e monitoramento 24 horas para evitar esse tipo de transtorno. Só que vazamento não é só aqui em Santa Catarina, nem só no bairro Monte Cristo, ele ocorre no Brasil como um todo. Aqui no bairro Monte Cristo é constatado pelos próprios moradores. A gente tem trocado nos últimos anos, agora de 2024 e 2025, mais de 2 mil metros de rede para evitar esse tipo de transtorno que ocorreu — diz Pedro Joel Horstmann.
Confira a nota da Casan na íntegra
“A CASAN informa que atende desde a madrugada desta quarta-feira (30) a ocorrência de rompimento de uma rede de distribuição de água no Bairro Monte Cristo, em Florianópolis. As primeiras ações da Companhia são de atenção aos moradores pois, a princípio, seis casas foram afetadas e apresentam danos materiais. As avaliações e levantamentos estão sendo realizados. Não há feridos. O conserto está sendo providenciado”.
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