O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) publicou, na manhã desta terça-feira (4), um texto nas redes sociais para se manifestar sobre as recentes polêmicas sobre a corrida eleitoral para o Senado de Santa Catarina em 2026. Através do X, ele fez criticas a deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC) e defendeu o irmão Carlos Bolsonaro (vereador no Rio de Janeiro pelo PL) para concorrer na chapa no estado catarinense.

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A publicação de Eduardo, que hoje vive nos Estados Unidos, se refere à fala da deputada, feita na última semana, numa entrevista à Rádio São Bento, de São Bento do Sul, na qual ela disse que, inicialmente, a chapa ao Senado seria formada pelo senador Esperidião Amin (Progressistas) e pela deputada federal Carol de Toni (PL). Contudo, com a chegada de Carlos Bolsonaro, Carol perdeu espaço e estaria procurando outro partido, segundo a análise da deputada estadual.

Nas redes sociais, Eduardo lembrou que defendeu Campagnolo em 2018, quando ela foi criticada por disputar a eleição fora de sua região, e usa esse exemplo para justificar a defesa da candidatura de Carlos Bolsonaro em Santa Catarina, argumentando que, assim como no caso dela, cabe ao povo catarinense decidir.

“As declarações da deputada estadual do PL, Ana Campagnolo, são totalmente inaceitáveis. Na forma, por terem sido feitas em público. No conteúdo, por se insurgirem contra a liderança política que a projetou e, pior, por representarem uma tremenda injustiça, já que ela usa uma régua contra meu irmão que jamais aplicou a si mesmo”, escreveu o deputado. (veja o texto na íntegra abaixo)

Ainda na manhã desta terça-feira, Ana Campagnolo respondeu o colega de partido e informou que sempre esteve ao lado de Eduardo Bolsonaro em “todos os momentos”. Ela também falou que Santa Catarina “é o meu campo de trabalho, é o lugar que eu amo”.

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O NSC Total também tentou contato com a assessoria da deputada, mas não teve retorno até a publicação. O espaço segue aberto.

Entenda a corrida pelo Senado em SC

Se em outros tempos a eleição para o Senado chegou a ficar em segundo plano em relação à corrida pela Presidência da República ou pelo governo do Estado, a disputa esperada para 2026 ganhou protagonismo mais de um ano antes da ida às urnas. O motivo envolve uma série de fatores que vão desde os nomes envolvidos até as funções estratégicas do cargo na democracia.

Com duas vagas em disputa em 2026, o que funciona como mais um atrativo para os interessados, o Senado tem quase o mesmo número de nomes interessados do que a corrida pelo governo, o que sinaliza uma disputa que pode ser até mais acirrada do que a busca pela Casa d’Agronômica.

A possível candidatura de Carlos Bolsonaro se transformou em um obstáculo para o governador Jorginho Mello (PL) gerenciar a montagem da futura chapa para as eleições de 2026. Isso porque diminuiu o espaço para negociação.

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Com Carlos Bolsonaro indicado pelo ex-presidente, o governador já sinalizou o desejo de destinar a segunda vaga da chapa ao senador Esperidião Amin (PP), que pretende buscar a reeleição como senador e poderia atrair a recém-criada federação entre União Brasil e Progressistas à aliança de reeleição de Jorginho.

Nessa costura, no entanto, quem ficaria de fora seria a deputada federal Carol de Toni (PL), que também deseja ser candidata ao Senado. Após o impasse, Carol já recebeu manifestações de apoio de lideranças catarinenses e até da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Ela também fez gestos em favor do bolsonarismo, como abrir mão da liderança da minoria em favor de outro filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em manobra que tentava salvar o mandato do parlamentar, mas que acabou barrada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Veja as fotos de Eduardo Bolsonaro

O que diz Ana Campagnolo

“@Ebolsonarosp entendo o seu sentimento, sei que espera obediência em todas as propostas da família. Mas você contrariou seu pai quando foi ventilada a hipótese dele lançar o Tarcísio à Presidência. E talvez ele lance. Como vai ser? Por que você pode manifestar sua contrariedade e os outros aliados não?
Você quer lealdade ou temos que obedecer e atender as vontades de cada membro da família?

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Sempre estive ao seu lado em todos os projetos políticos, agora apontei as consequências de uma estratégia pessoal do Carlos que prejudica nosso trabalho de base e você acha “inaceitável”? Santa Catarina é meu campo de trabalho, é o lugar que eu amo.

Você diz que eu devo tudo a você, mas os catarinenses não precisam pagar a minha conta. Insisto que a sua família ouça as nossas lideranças locais para tomar esse tipo de decisão. Se algum dia reconsiderar a sua posição, estarei sempre aqui. Sou grata e tenho muito carinho por você”

Veja a publicação de Eduardo Bolsonaro na íntegra

Este não é um post que gosto de fazer. Muito pelo contrário, busquei evitá-lo ao máximo fazendo contatos privados. Porém, após ter sido exposto publicamente estas minhas tratativas sinto-me na obrigação de esclarecer alguns pontos que deveria ser óbvio para todos que vestem a camisa de um time político. Este assunto é tão surreal que tenho dificuldade de comentar.

Infelizmente, para mim e para vocês, terei que interromper o trabalho e falar obviedades que, ao que parece, ainda surpreendem alguns. Sei que muitos acreditam que grupos políticos são estruturas anárquicas e difusas que entram, milagrosamente, em sintonia depois de uma guerra pública de opiniões. Deixem-me contar uma novidade: não são. Isso mesmo, um grupo político precisa de estrutura hierárquica e liderança estabelecida, com diretrizes e valores definidos de forma organizada e programática. É, literalmente, forjado sobre as bases de comando e da personalidade política que o estruturou. Goste-se dele ou não, é inegável que meu pai fundou um movimento político.

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Ele tem um grupo político e é a liderança desse grupo. Por anos, com base em sua personalidade e visão, projetou eleitoralmente diversos nomes em cargos espalhados pelo país. Pessoas desconhecidas, ou com baixa popularidade, foram elevadas ao status de “celebridades políticas” através dessa conduta dele. A despeito do mérito pessoal de cada um, é um fato incontestável que foi ele o responsável por criar esse imenso movimento político e dar notoriedade a inúmeras pessoas.

Dito isso, quando você nos procurou, lá no início da sua jornada, para pedir nosso apoio político, você assumiu um compromisso político. Chame-me de antiquado, mas ainda acredito na ideia de honrar compromissos. Quando você veio até nós pedir apoio, comprometeu-se a reconhecer e respeitar a liderança de quem iria projetar sua carreira política.

Se não fosse assim, deveria ter deixado claro e dito: “Vejam bem, quero o apoio de vocês, quero que projetem minha imagem e me tornem conhecido. Contudo, se eu ficar conhecido, não vou dever nada. Reservo-me o direito de me insurgir publicamente contra as escolhas e decisões de vocês.” Tivesse dito isso, seria meio louco, mas honesto – e certamente não teria nosso apoio. O que não dá é para pedir nosso apoio e, em contrapartida, negar apoio e subordinação. Não dá para querer o benefício da liderança, mas recusar o ônus que vem com ela.

E veja, não estou pedindo que ninguém viole seus princípios morais. Pelo contrário: honre seus princípios sendo leal e honesto. Se, um dia, você achar que a liderança política à qual pertence não está mais alinhada aos seus valores, fale em público e rompa abertamente. É o que eu faria se estivesse num grupo político que se desviasse dos meus princípios.

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O que não é aceitável é insurgir-se publicamente contra uma estratégia da liderança do seu grupo, uma decisão que nada tem a ver com valores morais, mas apenas com conveniência e tática política. Dito isso, vou ser direto: as declarações da deputada estadual do PL, Ana Campagnolo, são totalmente inaceitáveis. Na forma, por terem sido feitas em público.

No conteúdo, por se insurgirem contra a liderança política que a projetou e, pior, por representarem uma tremenda injustiça, já que ela usa uma régua contra meu irmão que jamais aplicou a si mesma. Relembro que em 2018 a própria Campagnolo enfrentou resistência ao deixar o oeste catarinense e mudar-se para Joinville. Muitos queriam barrar sua candidatura sob o pretexto de que “ela não era dali”. Eu a defendi e não me arrependo.

Apostei que era uma boa candidata, coerente, trabalhadora, hoje é autora de um livro importante contra o feminismo radical. O tempo mostrou que eu estava certo: foi eleita em 2018 e reeleita em 2022 como a deputada mais votada do estado. Pois bem: o mesmo princípio que defendi para ela, defendo agora para Carlos Bolsonaro — deixemos o povo catarinense decidir se ele é ou não um bom candidato.

Não se trata de imposição, mas de coerência. Há duas vagas ao Senado e a liderança do presidente, que merece nosso respeito, escolheu Carlos para uma delas – ou será que é um sacrifício tão grande aceitar que o líder possa tomar uma decisão como esta? Se quisermos construir um movimento forte e organizado, precisamos tratar divergências internamente, com cada um entendendo seu papel e seu lugar. Só assim a direita deixará de parecer um campo desordenado e passará a ser uma verdadeira força política nacional, pronta para entrar em campo com muito mais preparo.

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Se uma liderança local, que só existe politicamente graças à liderança nacional, tem opinião diferente, que a submeta ao crivo da liderança nacional, em vez de fazê-lo publicamente em forma de insubordinação. Em tudo na vida há ordem e hierarquia: na família, nas empresas e também nos grupos políticos. A idéia de que uma deputada estadual, cuja carreira política foi viabilizada pela liderança nacional, tenha o direito de se insurgir publicamente contra essa mesma liderança é absurda. Entenderia se ela o fizesse acreditando que meu pai não tivesse tomado uma decisão livre, mas esse não é o caso.

Sabendo que foi uma decisão plenamente voluntária é inaceitável que ela se sinta no direito de questionar a conveniência da escolha de quem viabilizou a sua carreira política. Desculpem, não acho isso normal nem aceitável. Acho que essa turbulência passou dos limites e não agrega a ninguém. E, para piorar, trouxe essa discussão meramente eleitoral justamente no momento em que sua liderança está prestes a ser presa injustamente.

De todos os momentos possíveis, este é o pior. Seu esforço deveria estar voltado a combater a injustiça e lutar pela anistia das vítimas da tirania — não em cálculos eleitorais. Soa extremamente desrespeitoso preocupar-se com disputa política enquanto pessoas estão sendo destruídas pela perseguição. Espero sinceramente que todos do nosso grupo político reflitam e, sendo o caso, mudem de postura”.