Se em outros tempos a eleição para o Senado chegou a ficar em segundo plano em relação à corrida pela Presidência da República ou pelo governo do Estado, a disputa esperada para 2026 ganhou protagonismo mais de um ano antes da ida às urnas. O motivo envolve uma série de fatores que vão desde os nomes envolvidos até as funções estratégicas do cargo na democracia.

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Com duas vagas em disputa em 2026, o que funciona como mais um atrativo para os interessados, o Senado tem hoje quase o mesmo número de nomes interessados do que a corrida pelo governo, o que sinaliza uma disputa que pode ser até mais acirrada do que a busca pela Casa d’Agronômica.

O interesse pelas cadeiras de senador provoca reflexos diretos em Santa Catarina. O mais recente foi a entrada de Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Carlos deverá ser uma indicação direta do pai para concorrer ao Senado por SC, mesmo sem ter histórico de ligação com o Estado.

Veja fotos dos nomes cotados para o Senado por SC em 2026

O vereador já teria alugado um apartamento em São José, na Grande Florianópolis, segundo o governador Jorginho Mello (PL) afirmou em entrevista ao colunista da NSC, Ânderson Silva. Carlos também já iniciou um verdadeiro périplo por cidades catarinenses. Em agosto, participou de protestos em defesa da anistia aos condenados do 8 de janeiro em Criciúma e Florianópolis. Em setembro, visitou o gabinete de um vereador aliado em Blumenau. Também passou por Balneário Camboriú, onde visitou o irmão Jair Renan, vereador na cidade.

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O interesse de Carlos Bolsonaro de concorrer ao Senado por SC, estado com o qual ele não possui vínculos, já gerou reações contrárias do setor produtivo, como uma manifestação da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), em que a entidade defendeu que SC “não precisa importar políticos”. Especialistas avaliam também que a entrada dele no jogo deve nacionalizar o debate eleitoral no Estado com a pauta do bolsonarismo e que a falta de ligação dele com SC pode ser explorada por adversários.

A possível candidatura de Carlos Bolsonaro se transformou em um obstáculo para o governador Jorginho Mello (PL) gerenciar a montagem da futura chapa para as eleições de 2026. Isso porque diminuiu o espaço para negociação.

Com Carlos Bolsonaro indicado pelo ex-presidente, o governador já sinalizou o desejo de destinar a segunda vaga da chapa ao senador Esperidião Amin (PP), que pretende buscar a reeleição como senador e poderia atrair a recém-criada federação entre União Brasil e Progressistas à aliança de reeleição de Jorginho.

— Vamos ter uma conversa nos próximos dias com o governador Jorginho Mello na busca de entendimento e espero que a gente consiga clarear como vai ficar o cenário, com a federação, com possível proposta de composição e a segurança da candidatura de Esperidião ao Senado — afirma o presidente estadual do PP, Leodegar Tiscoski.

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Nessa costura, no entanto, quem ficaria de fora seria a deputada federal Carol de Toni (PL), que também deseja ser candidata ao Senado. Após o impasse, Carol já recebeu manifestações de apoio de lideranças catarinenses e até da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Ela também fez gestos em favor do bolsonarismo, como abrir mão da liderança da minoria em favor de outro filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em manobra que tentava salvar o mandato do parlamentar, mas que acabou barrada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

A novela das indicações para o Senado na chapa de Jorginho Mello teve capítulos decisivos nesta semana, quando tanto Carol de Toni quanto Esperidião Amin visitaram Jair Bolsonaro na casa do ex-presidente, em Brasília. A deputada do Oeste de SC saiu da casa do ex-presidente afirmando ter ouvido dele uma declaração de apoio caso ela deseje concorrer.

— O presidente falou: “A decisão é tua. Se você concorrer, você vai ter meu apoio também”. Então, ele me deixou bem à vontade com relação a isso. E isso me deixou muito feliz — afirmou Carol de Toni após a visita desta semana a Bolsonaro.

No dia seguinte, foi a vez de Amin visitar o ex-presidente. A escolha final para a chapa do PL ainda deve passar por conversas de Jorginho com Bolsonaro.

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Os possíveis rivais dos bolsonaristas

Nas outras chapas que começam a ser esboçadas para 2026, a definição das vagas para o Senado ainda é menos clara. Alguns nomes, no entanto, já se anteciparam para tentar garantir lugar na disputa.

O deputado federal Gilson Marques (Novo) anunciou a pré-candidatura a senador em um evento do partido em julho deste ano. Ele poderia concorrer em uma chapa própria do Novo, embora o partido considere pouco provável essa hipótese no ano que vem, mas o parlamentar também é cortejado por outros projetos, como o do PSD, que deve lançar o prefeito João Rodrigues, de Chapecó, para concorrer ao governo de SC. Os dois partidos já estiveram juntos na eleição municipal de 2024 em cidades importantes como Joinville e Blumenau e, segundo os dirigentes, mantêm conversas para uma possível repetição da aliança em 2026.

— Gilson Marques é um excelente deputado e representaria Santa Catarina muito bem no Senado, porque é do Estado e conhece muito bem o Estado — elogia o presidente estadual do PSD, Eron Giordani.

Veja possíveis candidatos a presidente em 2026

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Além de Gilson, o Novo também afirma negociar com outro nome forte que poderia compor uma chapa para o Senado. O partido também é citado como possível abrigo para a deputada Carol de Toni caso ela decida trocar de partido para concorrer ao Senado por outra chapa, se não encontrar espaço no PL de Bolsonaro.

No campo da esquerda, a corrida pelo Senado ainda é espaço em aberto. O nome do atual presidente do Sebrae, Décio Lima (PT), segundo colocado na disputa pelo governo de SC em 2022 e novamente pré-candidato à Casa d’Agronômica, é apontado por adversários como possível interessado na disputa pelo Senado. Segundo o PT, no entanto, a preferência do partido é ter Décio disputando novamente o governo de SC, para oferecer novamente um palanque forte a Lula em SC. Nesse quadro, a indicação das vagas a senador dependeria das alianças.

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