Poucas imagens do cinema do século 50 são tão reconhecíveis quanto a de Brigitte Bardot caminhando descalça pela areia, os cabelos soltos ao vento, o olhar entre inocente e provocador, como se desafiasse silenciosamente tudo o que o mundo esperava de uma mulher naquele momento. Bardot se tornou um símbolo da liberdade, do desejo, da ruptura e das ambiguidades e excessos que acompanham qualquer mito que ultrapassa seu próprio tempo.

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Ao longo de pouco mais de duas décadas de carreira, Bardot fez mais de 40 filmes, trabalhou com alguns dos diretores mais importantes da Europa e virou referência estética, cultural e comportamental. Ao mesmo tempo, foi alvo de críticas, escândalos, julgamentos morais e controvérsias políticas que atravessaram gerações.

Por que Brigitte Bardot se tornou lendária

Quando Brigitte Bardot fez seu primeiro filme nos anos 50, o cinema europeu vivia um momento de transição, e os padrões morais — especialmente para as mulheres — ainda eram fortemente conservadores.

Bardot chamou atenção não apenas da beleza, mas pela sua atitude diante da câmera. Ela não parecia interpretar personagens: parecia existir, respirar e ocupar o espaço com naturalidade.

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E Deus Criou a Mulher (1956)

Nenhum filme simboliza melhor essa ruptura do cinema do que “E Deus Criou a Mulher”, dirigido por Roger Vadim, companheiro de Brigitte Bardot na época. Na obra, a atriz interpretou Juliette, uma jovem sensual, livre, emocionalmente indomável, que vivia de acordo com seus próprios impulsos.

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O filme escandalizou setores conservadores, foi censurado em alguns países e, ao mesmo tempo, transformou Bardot em estrela internacional. Mais do que isso: redefiniu a maneira como a sensualidade feminina poderia ser retratada no cinema europeu.

O Desprezo (1963)

Em “O Desprezo”, Bardot entregou uma das atuações mais complexas de sua carreira. De acordo com a mídia internacional, a obra foi a de maior sucesso do diretor Jean-Luc Godard, tudo isso graças a Brigitte Bardot.

No filme, uma adaptação do romance Il Disprezzo , de Alberto Moravia, Bardot interpretou Camille Javal, uma mulher que lentamente se distanciou emocionalmente do marido.

A cena inicial é frequentemente lembrada e resume uma ambiguidade: ao mesmo tempo em que o filme dialoga com a sexualização da atriz, ele também a critica frontalmente. O Desprezo consolidou Bardot como algo além de um ícone pop: uma atriz capaz de carregar densidade simbólica.

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Confira o trailer de O Desprezo

Viva Maria! (1965)

Ao lado de Jeanne Moreau, Bardot estrelou “Viva Maria!”, uma comédia de aventura ambientada em um país fictício da América Latina, marcada por revoluções, explosões e números musicais.

O contraste entre as duas atrizes era parte do charme do filme. Moreau, introspectiva e sofisticada; Bardot, explosiva, solar, física. Juntas, encarnaram uma liberdade feminina pouco comum no cinema da época.

O filme foi um sucesso internacional e ajudou a consolidar Bardot como uma estrela do cinema, especialmente fora da França.

A Verdade (1960)

Em “A Verdade”, Bardot interpretou a jovem Dominique Marceau, julgada por assassinato em um tribunal que parecia menos interessado nos fatos e mais em condenar sua liberdade sexual.

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O longa foi escrito especialmente para Bardot pelo produtor Raoul Lévy. O filme funcionou quase como um espelho da vida real da atriz. O julgamento da personagem ecoou o julgamento público que Bardot enfrentava fora das telas.

Bardot declarou, anos depois, que esse tipo de papel contribuiu para seu desgaste emocional.

As Petroleras (1971)

Já nos anos 1970, filmes como As Petroleras mostravam uma Bardot visivelmente cansada do jogo cinematográfico. Embora o longa aposte na aventura e no humor, há uma sensação de despedida no ar.

Pouco tempo depois, aos 39 anos, Brigitte Bardot anunciou sua aposentadoria definitiva do cinema.

Confira as principais obras de Brigitte Bardot

Morte de Brigitte Bardot

Brigitte Bardot morreu neste domingo (28) aos 91 anos. A informação de sua morte foi confirmada pela fundação que leva o seu nome a jornais franceses. A causa da sua morte, no entanto, não foi revelada.

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A atriz havia sido internada, em outubro deste ano, para realizar uma cirurgia. De acordo com o jornal francês Le Monde, a natureza do procedimento cirúrgico não foi revelado. Ela recebeu alta no mesmo mês e retornou à sua casa em Saint-Tropez para repousar.

Nas redes sociais, o presidente da França, Emmanuel Macron, lamentou a morte da artista, que descreveu como “uma lenda do século”.

“Seus filmes, sua voz, seu brilho deslumbrante, suas iniciais, suas tristezas, sua generosa paixão pelos animais, seu rosto que se tornou Marianne, Brigitte Bardot personificou uma vida de liberdade. A existência francesa, o brilho universal. Ela nos tocou”, publicou Macron.