Quando José Neto Murta e Luciana Murta decidiram se mudar de Belém, no Pará, para o bairro Guarda do Cubatão, no município de Palhoça, em Santa Catarina, logo pensaram na logística que teriam que ter com os três cachorros da família para os levarem em segurança até a nova casa. Foi onde decidiram pagar R$ 10 mil para uma empresa fazer o transporte dos cães via terrestre, mas não esperavam que a viagem terminaria com os animais mortos.
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A esteticista Gabriela Carvalho, nora de José e Luciana, conta que tudo foi muito bem pensado para garantir o conforto dos animais. Sabendo que um dos cães, Bruce, era da raça bulldog, com características de um cão braquicefálico, com o focinho mais curto – o que dificulta a respiração, a família achou melhor não transportar o animal por vias aéreas.
— Muitas empresas aéreas inclusive não aceitam esse tipo de cão, então optamos pelo transporte terrestre. Fomos atrás da empresa, minha sogra acabou achando essa empresa, a Transporte Pet Gold —.
A empresa, segundo Gabriela, teria pedido um atestado de saúde dos cães e carteirinha de vacinação. De acordo com a esteticista, tudo foi providenciado e, assim, o contrato foi assinado. Até então, estava “tudo perfeito”.
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Além do contrato, que dizia que um veterinário ou um técnico acompanharia os cães, segundo Gabriela, ela conta que também foi assinado um termo de responsabilidade.
— A gente acha que não teve [veterinário ou técnico], porque quando os cães precisaram, [a empresa] teve que levar no veterinário — conta.
Caixas de transporte
No dia 28 de fevereiro, a empresa foi até a casa dos sogros de Gabriela no município de Ananindeua, no Pará, para buscar os cães de van. Segundo ela, o veículo tinha diversas caixas de transporte, com algumas maiores onde os cachorros foram.
— O meu sogro estranhou um pouco, ele achou a caixa um pouco pequena. O cara falou que ia parar a cada quatro horas, eles iam poder se esticar, passear um pouquinho, beber água, comer, fazer necessidades — lembra.
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Ao meio-dia, os cães foram levados.
Veja fotos dos cachorros
Morte de Bruce
A previsão era para que os cachorros chegassem em Santa Catarina no domingo (2), mas os cães morreram no meio do caminho. No dia 31 de janeiro, pela manhã, Gabriela e a família receberam a notícia de que o cão estava hiperaquecendo, em Minas Gerais.
— É uma coisa que também é característica do Bulldog. Uma pessoa que conhece a raça, que se diz especialista nesse tipo de transporte, deveria saber o que fazer quando um Bulldog hiperaquece, ou até mesmo o veterinário que dizia estar com eles, que é resfriar, botar uma toalha gelada, botar gelo, botar ele na água, para poder resfriar o corpinho, se não ele entra em falência — diz.
Para ela, o hiperaquecimento pode ter acontecido por estresse ou falta de água. A família entrou em contato com um veterinário da família, que vive em Belém, que passou as orientações para uma pessoa que acompanhava Bruce no transporte. O cão então foi levado para um veterinário.
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Horas depois, quando já havia anoitecido, a família recebeu a notícia de que Bruce teve três paradas respiratórias, foi reanimado, mas na quarta parada, morreu.
— A gente achou uma fatalidade, a gente ficou arrasado, mas até então a gente não achava que era um crime. A gente meio que aceitou que a raça é uma raça muito sensível, então tinha o risco — destaca Gabriela.
Morte de Kira
Um dia depois, a família recebeu a notícia da morte de Kira, um pastor-alemão. Segundo Gabriela, a família recebeu um vídeo da empresa de transportes onde o animal aparecia deitado, com a língua para fora, com o olho aberto e suja de fezes. Eles não haviam sido informados que o cachorro, que também se encontrava no estado mineiro, estava passando mal.
— A Kira era uma cachorra muito ativa. Ela gostava muito de brincar, de estar destruindo bola, de brincar com garrafa. Ela gostava de correr, de pular. Ela era uma cachorra muito ativa, mesmo ela tendo 10 anos. Nunca ficou doente. De todos os cães, ela era a mais resistente […] Foi um choque — diz.
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Morte de Thor
Logo após a notícia da morte de Kira, a família já iniciou as perguntas para a empresa sobre o estado de saúde de Thor, outro pastor-alemão, que estava na Bahia. A empresa, segundo Gabriela, não enviou imagens e nem vídeos sobre o cachorro, mas disse que ele estava bem.
Quatro horas depois, no entanto, a família recebeu a notícia que Thor havia morrido.
— Quem falou que o Thor estava internado foi a veterinária para onde a empresa levou o Thor e a Kira. Ela falou do quadro dele, que ele chegou em estado grave — relata.
Arrasada com a morte dos três cães em um intervalo curto de tempo, a família não sabia o que fazer. Eles decidiram, então, perguntar sobre os corpos dos cachorros. Thor foi cremado na Bahia, com uma taxa de R$ 720. Quando José Neto Murta, sogro de Gabriela, disse que não iria pagar pela cremação de Kira, já que achava que não era de responsabilidade dele, e sim da empresa, a esteticista se assustou com a resposta:
— O rapaz falou que o corpo seria descartado. Depois perguntamos o que foi que ele fez, e ele disse que abriu um buraco e que a cadela foi descartada. A gente pediu para ele ir buscar a nossa cachorra, onde quer que ele tenha botado ela, e levar de volta para o veterinário onde estava o Thor para ela poder ter um enterro digno — diz Gabriela.
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Cachorros feridos
Quando Kira foi levada de volta para o veterinário, a família conta que recebeu pareceres com o estado de saúde dos cães.
— O Thor estava com um monte de ferida na boca, que ele não tinha quando ele saiu de Belém. Nossos cães saíram de Belém com atestado, com laudo, eles saíram bem […] Os três, recentemente, depois de 24 horas, morreram com os mesmos sintomas, e a empresa simplesmente se isenta de qualquer culpa. Eles estão tentando culpar a gente — conta.
O que diz a Transporte Pet Gold
Em nota, o responsável pela Transporte Pet Gold, Alexander Junio dos Santos Marques, disse que está “aguardando laudos veterinários dos cães, pelos veterinários que atenderam os cãezinhos, que estão sob posse dos donos, para assim meus advogados se manifestarem sobre o caso”.
Investigação
A Polícia Civil de Santa Catarina disse, em nota, que a investigação do caso não é de competência da Delegacia Regional de Palhoça. Veja a nota completa abaixo:
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A Polícia Civil de Santa Catarina, por meio da Delegacia Regional de Palhoça, informa que não é de competência da DP de Palhoça, investigar esse caso, por força do Art. 70 do Código de Processo Penal (CPP): A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Como foi informado no registro da ocorrência que os animais morreram nos estados de Bahia e Minas Gerais, é de competência das polícias civis desses estados investigar.
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