A necessidade de não ficar parado foi o que motivou um trabalhador de Porto União, no Planalto Norte de Santa Catarina, a construir a própria prótese utilizando materiais simples. A solução criativa surgiu a partir da amputação do seu pé direito, após sofrer um acidente de trabalho em outubro de 2023.
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José trabalhava sozinho em uma área de mata quando se acidentou com o guincho do trator que utilizava. Após pedidos de socorro, a ajuda chegou por meio de vizinhos que o levaram até um hospital próximo.
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Veja fotos de José:
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No mesmo dia, José passou pela cirurgia de amputação e mais tarde entrou para a fila de espera no Sistema Único de Saúde (SUS) para conseguir sua prótese profissional. Entretanto, quase um ano e dois meses após o acidente, ainda não há previsão para que José receba o equipamento. Na rede particular, a estimativa de custo da prótese é de R$ 23 mil, um valor fora da realidade do trabalhador.
Mesmo diante deste cenário que poderia ter se tornado desanimador, ficar parado não foi uma opção. José buscou soluções com o objetivo de recuperar sua mobilidade e autonomia.
Depois de muito pesquisar por opções na internet, José decidiu construir sua própria prótese utilizando materiais simples. Diferentes modelos foram testados até chegar ao atual, que é feito essencialmente de gesso e moldado com fibra de vidro, além da utilização de outros pequenos materiais para aperfeiçoar a prótese. De acordo com José, foram gastos apenas R$ 200 para finalizar o projeto.
Para fixar a prótese, José utiliza a pressão criada entre a perna e o equipamento. Para ter mais conforto e segurança, ele também utiliza uma meia térmica, comprada para substituir a meia de silicone que geralmente é usada para esta finalidade.
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Funcionalidade da prótese
A prótese feita manualmente passou pela avaliação do médico que acompanha José desde o acidente e recebeu a aprovação do profissional. O equipamento também passou por testes para confirmar sua resistência.
— Levamos para o teste em laboratório e ela aguentou muito bem. Ela chegou a aguentar 100°C no forno, sem precisar diminuir peso ou outras coisas. E, sobre o peso, chegou a aguentar até 80 quilos nos testes — explica José.
Desde abril deste ano, o equipamento tem feito a diferença na vida do trabalhador, que teve a oportunidade de retornar para sua rotina. Segundo José, a prótese proporciona 80% da funcionalidade da sua perna, permitindo que ele exerça atividades simples do dia a dia, as quais ele estaria inviabilizado sem o equipamento.
— Eu ia estar até agora de muleta, só deitado ou só em casa. Agora consigo me locomover, trabalhar. Tudo isso com a prótese feita por mim — relata.
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Incentivo e divulgação do projeto
José conta que sua esposa foi a primeira e maior incentivadora. Mas além dela, há uma outra pessoa que acreditou no potencial do projeto: sua professora. Giana Cabral da Luz Faccioni leciona matemática no Centro de Educação de Jovens e Adultos de Canoinhas, onde conheceu o aluno no início de 2024 e se admirou com a história de superação.
— Eu já conheci vários alunos na minha vida, mas alguém assim com tanta força de vontade quanto José… acho que nunca, não conheci ninguém como ele — conta Giana.
Com o incentivo da professora, o projeto foi apresentado na Feira Estadual de Ciência e Tecnologia (Fecitec) que aconteceu em Canoinhas e também em União da Vitória (PR), onde ganhou uma repercussão maior.
O objetivo é que o projeto possa ser reconhecido e mais divulgado, para que possa ajudar mais pessoas além de José. Segundo ele, uma nova prótese já foi feita para um homem que entrou em contato após conhecer a história.
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— Eu queria que [o projeto da prótese] fosse visto. Eu pretendo ajudar mais pessoas com a prótese porque é funcional e super barato — afirma José.
O ideal para José seria receber a prótese profissional, mas enquanto ela não chega, sua criação permite que ele possa continuar vivendo normalmente e também inspirar outras pessoas na mesma situação que a sua.
O NSC Total questionou a Secretaria Estadual de Saúde sobre a demora para fornecer uma prótese a José via SUS. O órgão respondeu, por nota, que o paciente aguarda consulta em centro especializado e também afirmou que o caso de José foi classificado como “não urgente”.
Confira a nota na íntegra:
A Central Estadual de Regulação esclarece que a solicitação do paciente foi inserida em março de 2024, ele aguarda consulta na especialidade de Reabilitação no Centro Catarinense de Reabilitação, em Florianópolis. A classificação do paciente, segundo a avaliação médica, é azul, não urgente.
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A orientação é que se o paciente tiver piora no seu estado de saúde procure a sua Unidade de Saúde no município para que faça uma avaliação do seu quadro clínico.
*Sob supervisão de Leandro Ferreira
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