O festival Cannes Lions, o maior evento global da indústria criativa de mídia, comunicação e publicidade, teve o Brasil como o país homenageado desta edição. Dos mais de 30 brasileiros convidados para serem jurados, um deles é natural de Blumenau: o diretor e artista visual João Machado. O Festival Internacional de Criatividade, que ocorreu de segunda (16) até esta sexta-feira (20), premiou as campanhas de comunicação comercial que mais se destacaram e o país já teve 96 troféus conquistados.

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João Machado está há pouco mais de uma semana no sul da França para o evento e conta com empolgação sobre a oportunidade de ser parte júri, especialmente por já ter participado do Cannes Lion anos antes, mas como concorrente. A honra de estar em um dos eventos mais importantes do mercado publicitário mundial e a chance de discutir de frente, e no mesmo nível, com nomes que são referência na área são os pontos altos do evento destacados pelo diretor.

— O que mais estava interessado era a discussão desse júri, a maneira na qual os trabalhos são julgados depende dele. Quem dita o funcionamento e a mecânica da sala é o presidente. Tive a sorte de estar na sala de um presidente que é um diretor bem consagrado, Ali Ali (criador da campanha “Never Say No to Panda”, ou “Nunca Diga Não ao Panda”, que viralizou no YouTube). Então, eu caí em uma sala com um nível de discussão bastante elevado — conta.

Para se tornar jurado, é preciso receber um convite, que foi feito ao João pelo jornal Estadão, um dos patrocinadores. O processo de escolha aconteceu em agosto do ano passado e é rigoroso por considerar muito mais do que o portfólio do candidato: leva em conta a jornada de trabalho, a história do diretor no mundo da publicidade e até a relação dele com o festival ou outras premiações. Depois da indicação, é feita uma banca de julgamento com os patrocinadores para uma avaliação aprofundada. Em fevereiro, João Machado recebeu o convite oficial para estar no Cannes Lions de 2025.

O blumenauense é um dos fundadores da The Youth, uma produtora independente e, entre as brasileiras, a mais premiada do festival. Ela conta com um coletivo de diretores de cinema e tem sede em Curitiba. Além disso, João também fundou a COLOSSAL, um estúdio criativo de animação que funciona como uma extensão do projeto. A produtora tem uma forte presença no Cannes Lions e, em 2024, o curta-metragem “Ashe Versus” ganhou ouro e bronze na categoria Film Craft, uma das mais exigentes.

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— Sinto que vivemos uma área que a inteligência artificial tem dominado os processos de produção e a propaganda está sentindo o impacto fortemente. Ainda estamos em um lugar que a propaganda se beneficia da IA e o futuro é bastante nebuloso por não ter regulamentação no processo. A velocidade desse desenvolvimento é muito grande e me preocupa o impacto na mão de obra de quem trabalha em propaganda. Pensando nisso, o trabalho craft, que é feito com paixão e amor, é isso que fica para mim: ter uma chance de celebrar o que é feito a mão com carinho de uma maneira que envolva — conclui.

Entenda a categoria “Film Craft”

A categoria “Film Craft” do Cannes Lions é a mais criteriosa por avaliar as habilidades técnicas e a proeza tanto na produção quanto no pós-produção de uma obra. O prêmio reconhece o alto nível técnico e estético de uma produção audiovisual publicitária. Portanto, elementos da execução como direção, fotografia, edição, design de som e outros elementos são rigorosamente avaliado.

João Machado ressalta perceber que a publicidade, ao longo dos anos, se funde com o cinema por contar uma história que se relaciona com o produto, ao invés de simplesmente tentar anunciar em rápidos comerciais tradicionais. Para ele, o trabalho publicitário vai muito além de divulgar uma ideia ou promover um serviço, é também uma expressão criativa valiosa, o que se encaixa com a proposta do “Film Craft”.

— A principal coisa é a emoção que o trabalho desperta no público que ele está atingindo, o craft eleva uma ideia a uma excelência. O sentimento é a principal coisa e os detalhes amarram tudo: o quanto um diretor foi feliz no elenco que fez, o quanto ele colocou de detalhes na animação e o quão bem o editor finalizou um filme… Foi um prazer julgar algo que amo fazer — explica João sobre o processo de avaliação.

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Mesmo o Brasil tendo um forte um destaque no evento e receber um recorde de premiações, nenhuma produção nacional concorreu na categoria “Film Craft”. João explica que o atual comportamento do mercado publicitário brasileiro pode ser um dos motivos que explique a ausência dos trabalhos nacionais na divisão. 

— A propaganda no Brasil tem caminhado para outro tipo de comportamento. Aquele comercial de 30 segundos na TV já não é tão forte no país, por isso, um ponto de vista comercial é de que vale muito mais a pena pegar um grande orçamento e dividir em uma estratégia de comunicação que seja mais ampla para atingir outros clientes. De um ponto de vista criativo, sempre teve uma tradição de ser uma vanguarda da criatividade, mas ele está em um lugar muito mais fragmentado e difícil de avaliar — elabora.

Saiba mais sobre o Cannes Lions

Os prêmios são separados em Grand Prix, Leões de Ouro, Leões de Prata e Leões de Bronze. Cada categoria tem um júri de publicitários de todo o mundo, além de um presidente. Além disso, o evento também conta com seminários, workshops, exposições e encontros de negócios para promover networking.

O Brasil é o terceiro país mais premiado do festival, somente atrás do Reino Unido e Estados Unidos. Foram mais de 1,9 mil prêmios ao longo dos anos e 20 deles eram Grand Prix, prêmio principal do Cannes Lions. O primeiro Leão de Ouro brasileiro foi vencido em 1975 com a campanha “Homem com mais de 40 anos” de Washington Olivetto — famoso por ser o publicitário responsável pela criação do “Garoto Bombril”. 

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— O criativo brasileiro é um dos mais relevantes do mundo, a gente carrega essa paixão pelo trabalho e o criativo nacional sabe fazer muito mais do que uma coisa só — exalta o diretor blumenauense.

São três dias de júri, que acontece em duas etapas: online e presencial. O julgamento online conta com o envolvimento de, ao menos, 30 pessoas por cada categoria, que analisam uma lista inicial de candidatos. Então, são debatidos e selecionados os projetos que serão avaliados presencialmente no festival de Cannes, quais merecem bronze, prata, ouro ou o Grand Prix.

— O júri é bastante diverso, com pessoas de vários lugares e com histórias totalmente diferentes, o que traz diversas perspectivas importantes para a discussão. Eu, por exemplo, venho de um mundo de cinema e animação, mais visual — explica João.

A Globo é apoiadora oficial do evento e, por isso, os jornalistas William Bonner e Maju Coutinho mediaram um sobre a evolução da publicidade, com a presença de três grandes nomes do mercado brasileiro no primeiro dia de evento (16). 

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