O número de pessoas que escolhem Santa Catarina como destino de viagem vem crescendo mês a mês. Em abril deste ano, por exemplo, dados da Gerência de Aeroportos da Secretaria de Portos, Aeroportos e Ferrovias (SPAF), junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), apontaram um crescimento de 79% no número de passageiros internacionais nos aeroportos do Estado — o maior número da história. E ainda, Florianópolis, foi o quarto destino mais procurado do mundo, segundo uma pesquisa feita pela plataforma online de viagens Booking.

Continua depois da publicidade

O crescimento no número de passageiros em Santa Catarina também é observado no setor doméstico. No primeiro quadrimestre de 2025, foram registrados 2,3 milhões de passageiros no Estado, o que representa uma alta de 6,5% em relação ao mesmo período de 2024.

Os dados demonstram mudança no comportamento dos brasileiros, que têm escolhido mais as viagens internas. Em 2024, de acordo com o IBGE, das 20,4 milhões de viagens realizadas no Brasil todo, 97% foram nacionais. Apenas 641 mil trajetos cruzaram as fronteiras do país.

O número já vem mudando há anos: em 2021, apenas 0,7% das viagens (90 mil) foram internacionais. Segundo a economista Laura Pacheco, a pandemia pode ser um dos pontos de virada nessa mudança de destinos das viagens dos brasileiros. Laura analisa que desde esse período uma “ruptura de padrão” agiu para que as pessoas mudassem os hábitos de viagem.

Para o professor de engenharia e gestão de conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alexandre Augusto Biz, e para a economista, as opções culturais e fatores como segurança, infraestrutura e variedades de atividades têm feito o estado se tornar cada vez mais atrativo para turistas.

Continua depois da publicidade

— Qual é o estado brasileiro que você tem em menos de 300 quilômetros mar, serra e paisagens deslumbrantes, com uma infraestrutura rodoviária boa/regular, quando se compara com outros? Além de baixa violência, um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que é o principal do Brasil e ainda cada região turística do estado é um produto diferenciado. Essa composição favorece bastante as pessoas virem para cá — diz o professor.

A economista ainda complementa:

— Temos aqui no Estado, que é muito interessante, a cidade mais alemã do Brasil. A única gôndola [embarcação tradicional] fora de Veneza. Balneário Camboriú que também ganhou uma certa visibilidade. Vejo que muitas coisas trouxeram o holofote para o estado catarinense ser um lugar bastante atrativo, além de ficar perto de Gramado, desses outros lugares que também ganham muita visibilidade e são atrativos para o público nacional e internacional — completa Laura Pacheco.

O estudante Thiago Aguiar, de 19 anos, e a família fazem parte da estatística dos que se interessam pelo Estado. Thiago mora em Belo Horizonte, Minas Gerais, e durante a alta temporada de 2025 veio à Florianópolis depois de assistir alguns vídeos sobre a capital em uma rede social.

— Estávamos buscando um destino no geral. Vir para Florianópolis era uma opção, mas também estávamos abertos a outros destinos. Quando a gente botou na balança o que procurávamos em uma viagem em família, Florianópolis se mostrou a opção ideal — conta Thiago.

Continua depois da publicidade

Florianópolis no mapa global

No levantamento da plataforma online de viagens Booking, a capital foi o primeiro destino brasileiro e o quarto do mundo mais procurado durante o verão de 2025. Florianópolis aparece na frente de cidades como Nova York, Barcelona, Roma e Tóquio.

O levantamento foi feito a partir dos dados das buscas de acomodações entre janeiro e março de 2025. Eles apontam volume de buscas e não reservas feitas, mas demonstram o crescente interesse turístico pelo Brasil como destino de verão no cenário internacional, de acordo com a empresa.

No caso de Thiago Aguiar, a família até cogitou ir para outra região de Santa Catarina, mas na época eles buscavam “as belas paisagens de praias e um lugar que proporcionasse lazer à família”.

O professor da UFSC, Alexandre Augusto Biz, avalia a escolha da família como uma busca pelo diferencial, mesmo que Florianópolis ainda esteja atrás em assuntos como casas de espetáculo e grandes eventos.

Continua depois da publicidade

— Florianópolis é uma capital diferenciada. Se a gente pensar, há 20 anos era uma capital suburbana, hoje é uma capital de moda. Ainda carente de infraestrutura de serviços como shows, casas de espetáculos, que tragam grandes eventos, mas isso é um problema não só de Florianópolis, mas grande parte do Brasil. Entretanto, é uma capital muito segura, limpa, organizada e próxima dos grandes centros. Tanto é que a gente começa a ver o impacto. O custo de vida em Santa Catarina é um dos mais elevados do Brasil, em termos de crescimento percentual.

Laura Pacheco, economista, analisa que Florianópolis se tornou cada vez mais um destino de reconexão com a natureza. Ela acredita que a busca por esse tipo de turismo tenha aumentado principalmente pela disponibilidade de voos, tanto nacionais quanto internacionais, no aeroporto de Florianópolis.

— Os estrangeiros [e brasileiros] têm vindo pra cá para poder buscar essa reconexão espiritual através de algumas experiências também relacionadas aos serviços. Eu vejo que as redes sociais ajudam nessa divulgação, mas eu analiso que um ponto que é muito interessante também é a alteração do aeroporto, que virou o Floripa Airport. Aumentou a malha viária e a disponibilidade, né? Cruzamos uma linha que mostra que se está indo para uma cidade que está estruturalmente capacitada pra receber estrangeiros, para receber turistas.

Durante a alta temporada de 2024/2025, o Floripa Airport implementou voos internacionais, transformando a capital catarinense na terceira maior capital com voos internacionais, segundo o Zurich Airport Brasil, empresa que administra o aeroporto.

Continua depois da publicidade

O aeroporto mais movimentado no primeiro trimestre de 2025 foi o de Florianópolis, com 1,2 milhão de passageiros, seguido por Navegantes (734,6 mil), Chapecó (188,2 mil), Joinville (175,9 mil), Jaguaruna (33,6 mil) e Correia Pinto (3,6 mil).

Região Sul teve 62% do total de turistas estrangeiros no país

Segundo o governo federal, mais de 198 mil turistas internacionais visitaram Santa Catarina em janeiro de 2025. O número é 71% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando 116.209 viajantes vindos de fora estiveram passeando pelo Estado.

Ao lado dos vizinhos Rio Grande do Sul (518.557) e Paraná (206.861), os estados da Região Sul foram responsáveis por receber 924.138 visitantes internacionais, o que representa 62% do total de turistas estrangeiros que chegaram ao Brasil no primeiro mês do ano.

O secretário da Secretaria de Portos, Aeroportos e Ferrovias (SPAF), Beto Martins, avalia que isso só é possível devido ao investimento turístico:

Continua depois da publicidade

— As empresas aéreas têm acreditado no potencial turístico de Santa Catarina, e, com uma maior oferta de voos e assentos, isso se reflete nos números.

Por que as pessoas estão viajando mais?

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um aumento nas viagens já era visível ao fim da pandemia. Dados mostram que, entre 2020 e 2023, o número de viagens havia caído no Brasil, indo de 13,6 para 12,3 milhões. Entretanto, em 2023, esse total saltou para 21,1 milhões, um aumento de 71,5%, incluindo as viagens nacionais e internacionais. Os dados foram divulgados em setembro de 2024.

Assim como Thiago e a família, em 2023, de acordo com o IBGE, o lazer foi o principal motivo apontado para a realização de viagens pessoais, representando 38,7% delas, seguido da visita ou evento de familiares e amigos (33,1%), do tratamento de saúde ou consulta médica (19,8%) e da categoria outro (8,4%), que inclui os deslocamentos para compras pessoais, cursos e peregrinação religiosa, por exemplo.

— O resultado mostra o efeito da pandemia: na época o mundo se fechou. O lazer, que motivava 33% das viagens com fim pessoal em 2020, passou a representar 38,7% dessas viagens em 2023. A visita e os eventos de familiares ou amigos saiu de 38,7% para 33,1%, mostrando assim uma mudança no principal motivo para esse tipo de viagem. Durante a pandemia, as pessoas viajavam para visitar amigos e parentes e, após esse período, cresceu a busca pelo lazer — ressalta o pesquisador William Kratochwill.

Continua depois da publicidade

Pessoas jovens estão viajando mais

Um relatório de tendências de consumo da Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido (CAA-UK) mostra que os jovens entre os 18 e os 34 anos estão liderando a retomada das viagens aéreas, em comparação com outras faixas etárias.

Segundo os dados do relatório de 2024, 65% dos jovens afirmaram terem andado de avião em 2023. O aumento é de 10 pontos percentuais em relação aos 55% anteriores à pandemia. Naquele momento, as pessoas com 55 anos ou mais eram os passageiros mais frequentes, com 58% voando anualmente.

A economista, Laura Pacheco, analisa que o aumento das viagens nessa faixa etária seja pela vontade de “buscar experiências” e deixar de lado o consumo, fazendo uma troca de gastos.

— Eles pensam: “não estou nem aí de comprar o sapato, a bolsa. Eu quero explorar e poder viver experiências legais e é isso que eu quero agora”. É uma prioridade da geração, uma escolha que vem antes de buscar itens de consumo — conclui.

Continua depois da publicidade

*Sob supervisão de Giovanna Pacheco

Leia também

Praia Grande amplia suspensão de voos de balão após tragédia que matou oito pessoas

Freira de SC encontra Papa Leão XIV durante peregrinação no Vaticano