Comandante-geral da Polícia Militar de Santa Catarina, o coronel Araújo Gomes usou as redes sociais na manhã desta quinta-feira (27) para celebrar uma ação da PM em Lages que terminou com a morte de um suspeito e deixou outro em estado grave. Suspeitos de terem participado de um roubo, eles teriam tentado fugir de carro após serem abordados pela polícia e entrado em confronto com os policiais, sendo baleados pelos agentes.
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“Baita noite na Região de Lages. Ladrões abordados, confronto com morte e armas apreendidas”, escreveu Araújo Gomes em sua página no Facebook, antes de dar detalhes sobre a ação policial que ocorreu na noite desta quarta-feira (26) na Serra Catarinense.
“Parabéns para as equipes envolvidas na ocorrência. A ação rápida, vigorosa e agressiva fez a diferença e decidiu a situação”, encerrou o comandante.
O tom da postagem, e particularmente a expressão “baita noite” para se referir a uma operação que resultou na morte de um suspeito e deixou ainda outro em estado grave, gerou controvérsia entre especialistas procurados pela reportagem do NSC Total para comentar o assunto.
Para Sandro Sell, professor de Direito Penal da Cesusc, os termos utilizados pelo comandante Araújo Gomes na postagem foram inapropriados.
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— Não existe “baita noite” quando alguém que teria que ser levado à Justiça foi morto. Mortes podem ocorrer nesses confrontos. Mas são sempre lamentáveis — comentou.
O professor, que já presidiu a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Santa Catarina, também criticou o fato de o comandante ter valorizado o que chamou de “ação agressiva”. Para Sandro Sell, a expressão pode soar como um estímulo para que os policiais hajam com excesso de violência.
— Exortar uma ação “agressiva” não é o melhor termo. Boas polícias devem ser incentivadas a agirem tecnicamente e, por mais difícil que seja em tais cenários, treinadas para trocar a agressividade pelo empenho técnico de quem age em nome das leis e da Constituição — avaliou Sandro Sell.
Já Juliano Keller do Valle, da Univali, outro professor de Direito Penal ouvido pela reportagem, interpretou a postagem do comandante Araújo Gomes como uma defesa à ação da polícia frente à agressão dos bandidos, e disse ter entendido que o tom comemorativo não estava necessariamente relacionado à morte do suspeito.
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— Não vejo algo além do que um incentivo a esses policiais que participaram da abordagem. Agora, é claro, é preciso saber se realmente ocorreu a “injusta agressão” para justificar a reação dos policiais, se não houve excesso. Situações que devem ser observadas em investigações da corregedoria sempre que há mortes como essa — considerou.
“Baita foi no sentido de intensa, movimentada”, diz Araújo Gomes
Em entrevista à reportagem na tarde desta quinta, o comandante Araújo Gomes negou que a postagem tivesse a intenção de comemorar a ação policial que resultou em uma morte. Ele também afirmou que não teve o intuito de incentivar ações violentas.
Araújo Gomes afirmou que, com “baita noite”, quis se referir a uma noite “intensa, movimentada, longa no sentido metafórico”. Já a “ação agressiva foi no sentido de proativa”, comentou.
— Policiais no meio da noite, com informações limitadas, localizaram criminosos armados, potencialmente perigosos, e interromperam ou preveniram crimes. Fizeram isso em um contexto letal e perigoso e com suas ações provavelmente protegeram pessoas que eles sequer conhecem. Foi isto que, como comandante, parabenizei em minha rede social — declarou Araújo Gomes.
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