O comando militar ucraniano que responde pelo brasileiro desaparecido na Ucrânia há cerca de um mês não pode confirmar a morte dele à esposa. O motivo é que o corpo do voluntário da guerra contra a Rússia não foi encontrado pelos militares após uma missão da qual ele participou em novembro. Até o momento, os parceiros conseguiram localizar somente o fuzil que ele usava e alguns cartuchos de munições, informou Cálita Cristina Ribeiro, moradora da Grande Florianópolis, ao NSC Total.

Continua depois da publicidade

Identificado como Joás da Rosa Oliveira, de 29 anos, ele viajou ao país em 29 de junho para participar como voluntário do conflito entre os dois países, que escalou após invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022. O morador de São José sumiu após ser enviado a uma missão em novembro, de acordo com a esposa.

Joás é casado há nove anos com Cálita Cristina Ribeiro e tem dois filhos, de sete e oito anos. Desde o desaparecimento, a esposa tenta novas informações do estado de saúde junto à embaixada e ao governo federal.

— A última vez que a gente conversou, se eu não me engano, foi no dia 9 de novembro. Foi quando ele me comunicou que estaria indo para uma missão. E ele ficaria sem contato comigo durante três dias. Falou que voltaria na quarta-feira e essa quarta-feira nunca chegou — disse ao g1 SC.

Conforme Cálita, colegas do brasileiro comunicaram à mulher que o homem desapareceu no dia 15 de novembro, por volta das 9h da manhã.

Continua depois da publicidade

Procurada, a embaixada do Brasil em Kiev confirmou que foi notificada pelas autoridades ucranianas do desaparecimento do brasileiro em combate e que presta assistência consular devida aos familiares.

“Note-se que a prestação de assistência consular em situações que envolvem nacionais engajados em forças armadas de terceiros países apresenta especificidades, inerentes às obrigações contraídas no ato de alistamento e às circunstâncias no terreno de operações”. (leia a nota na íntegra abaixo)

Cálita ficou ainda mais assustada quando, em um grupo no Telegram do qual faz parte com alguns estrangeiros que estão na Rússia, algumas pessoas encaminharam uma foto de Joás informando que ele havia sido morto, e que o corpo estava “irreconhecível”. Com medo, ela procurou o comando, que disse que não pode confirmar a morte enquanto não existir um corpo. Por isso, até o momento, ele é considerado desaparecido.

Viagem à Ucrânia foi custeada pelo voluntário

Joás não tem ligação com o país europeu e foi até a Ucrânia com a intenção de ajudar, segundo a esposa. Cálita disse ainda que ele pagou pela própria passagem de avião e não recebeu pagamento por se juntar aos soldados.

Continua depois da publicidade

— Ele sempre gostou de ajudar, sabe. Sempre foi impaciente de ver as pessoas precisando de ajuda e ele não podia fazer nada. Então, conversou comigo, ele falou assim: “Amor, eu quero ajudar”. Desde esse dia, Joás nunca recebeu um centavo da Ucrânia — conta.

Ao chegar ao país, ficou em treinamento durante os meses de agosto, setembro e outubro. Na sequência, partiu para uma residência segura na região de Zaporizhia. De lá, foi para a missão onde desapareceu.

— Ele não reclamava sobre estar lá, os únicos relatos eram sobre os treinamentos serem puxados, mas isso já era esperado por ser um treinamento de guerra — disse a esposa sobre as conversas com o marido, feitas sempre pelo WhatsApp.

Desde o início do conflito entre os dois países estrangeiros se cadastram para integrar o exército ucraniano. Ao chegar, brasileiros relataram ter enfrentado uma realidade dura e traumática. Até julho, o Itamaraty registrou a morte de nove brasileiros e o desaparecimento de 17 no conflito.

Continua depois da publicidade

O que disse o governo federal?

O governo brasileiro, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, foi notificado pelas autoridades ucranianas do desaparecimento do nacional brasileiro em combate. A Embaixada presta a assistência consular devida aos familiares do desaparecido.

O atendimento consular prestado pelo estado brasileiro é feito a partir de contato do cidadão interessado ou, a depender do caso, de sua família. A atuação consular do Brasil pauta-se pela legislação internacional e nacional. Para conhecer as atribuições das repartições consulares do Brasil, recomenda-se consulta à seguinte seção do Portal Consular do Itamaraty: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/portal-consular/assistencia-consular

Note-se que a prestação de assistência consular em situações que envolvem nacionais engajados em forças armadas de terceiros países apresenta especificidades, inerentes às obrigações contraídas no ato de alistamento e às circunstâncias no terreno de operações.

Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não divulga informações pessoais de cidadãos que requisitam serviços consulares e tampouco fornece detalhes sobre a assistência prestada a brasileiros.

Continua depois da publicidade

Informa-se que o Ministério das Relações Exteriores publicou alerta recente sobre a participação de combatentes brasileiros em conflitos armados em terceiros países, que pode ser consultado no seguinte link: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/portal consular/alertas%20e%20noticias/alertas/alerta-consular-participacao-de-combatentes-brasileiros-em-conflitos-armados-em-terceiros-paises

*Sob supervisão de Jean Laurindo

**Com informações do g1 SC