Perfiladas em lugares movimentados, com as sirenes ligadas, as dezenas de viaturas da Polícia Militar atraem olhares da população. As portas se fecham e elas partem para barreiras e patrulhamentos em áreas críticas. De manhã cedo, policiais civis e militares se reúnem para cumprir ordens de busca e apreensão e prender envolvidos com tráfico, homicídios e roubos. Nos últimos 30 dias, foi constante esse tipo de movimentação em operações em Santa Catarina. O fluxo frenético de ações para encarar facções criminosas é apontado como responsável por uma animadora notícia nos primeiros meses do ano: a queda dos principais índices de violência.

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De janeiro a 20 de março, houve redução de 21% no número de assassinatos e 46% de latrocínios (roubos com morte) em comparação ao mesmo período do ano passado. Foram 200 mortes em 2018, contra 253 de janeiro a 20 de março de 2017. É a melhor arrancada de diminuição da violência desde 2016 e atingiu também Florianópolis e Joinville, que nos dois últimos anos concentraram recordes de homicídios. A redução coincide com a mudança no comando da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e das polícias Civil e Militar, mas abrange também 50 dias da gestão do ex-secretário César Grubba.

Há pouco mais de um mês no cargo, o titular da SSP, Alceu de Oliveira Pinto Júnior, atribui o feito ao sufoco nas facções criminosas dado pelas polícias Militar e Civil. Neste período, os comandos adotaram a estratégia de fazer grandes operações policiais em áreas críticas dominadas pelo crime organizado, em Florianópolis, litoral Norte e Sul, Oeste e região de Joinville.

Os trabalhos associaram cumprimento de mandados judiciais (busca e apreensão e ordens de prisões), policiamento e barreiras. Até 300 pontos das divisas com o Paraná e o Rio Grande do Sul e na fronteira com a Argentina ficaram fechados em mobilização de 1,5 mil policiais por 12 horas.

— Fizemos uma análise de cenário do que está acontecendo e a causa. Tem um índice perto de 70% que aponta envolvimento de autor ou vítima com organização criminosa. A estratégia então foi bater e sufocar organização criminosa para que elas tivessem mais tempo para se defender do que para ocupar espaço uma da outra. Deu certo — avalia Alceu.

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Um outro ponto importante para os resultados recentes foi a investigação que identificou e decretou prisões de líderes do crime que articulavam delitos de dentro das cadeias por celulares.

– A mudança de postura da SSP e da PM, priorizando a ostensividade, que culmina com prevenção, somado ao debate democrático e propositivo feito pela mídia, sem dúvida, são fatores que auxiliaram na redução dos índices de homicídios e violência de um modo geral – analisa o presidente da Associação Nacional dos Praças e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Elisandro Lotin.

Continuidade é alvo de questionamento

Entre especialistas, críticos e policiais mais experientes, a pergunta é: até quando haverá fôlego para manter a rotina das operações? Seja pela questão financeira ou pelo desafio de permanecer com o alto foco de policiais nas ruas contra o crime.

— A arrancada é boa e precisa ser elogiada. Está nítida a sensação de segurança dada pelas operações, é só ver o quanto elas cresceram nas regiões. Laguna, Tubarão e Sombrio são exemplos. Resta saber até quando haverá fôlego para manter — opina o ex-secretário de Segurança Pública em 2010 e delegado, André Luis Mendes da Silveira.

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O secretário de Segurança Pública concorda com a necessidade de “manter o ímpeto” no combate às organizações criminosas.

— O fôlego que estamos dando agora está tirando a força das organizações. Podemos não reduzir o tamanho, mas precisamos manter o ímpeto. Elas não têm mais tanto fôlego — afirma Alceu.

Apesar do resultado macro, houve crimes pontuais assustadores, tiroteios, atentados e mortes de suspeitos em ações policiais. Na Capital, por exemplo, em 18 de fevereiro, um trio foi executado no Morro da Caixa após ser retirado de uma quitinete por 10 homens armados. Eram inocentes mortos por engano. A investigação segue, mas sem registro de prisões.

“Precisamos manter o ímpeto”, diz secretário de Segurança sobre combate às facções

Ataques ao crime continuarão enquanto for necessário, diz PM

O comandante-geral da Polícia Militar de Santa Catarina, coronel Araújo Gomes, garante que as operações vão continuar enquanto necessário. Segundo ele, houve nova liberação de recursos pelo governador para movimentar tropas, além de licitação para compra de viaturas, o que permitirá manter e intensificar as ações.

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— Elas são uma parte da estratégia denominada de choque de ordem, ocorrem em paralelo com o sufoco (ações integradas de inteligência para prender lideranças, arsenais e drogas) e ferrolho, que é o fortalecimento do controle dos perímetros.

Para o comandante da PM, o desafio está em um outro eixo: o da força pública, que é a integração e a articulação com políticas públicas e ações de saúde, educação, trabalho/renda e infraestrutura. Araújo Gomes diz ainda que essa medida já está sendo tocada de forma inédita nas comunidades mais violentas da Capital com recursos do Estado e técnicos da prefeitura.

As mortes em confrontos

O aumento dos confrontos policiais que acabam em mortes de suspeitos gera alerta entre defensores públicos e o Ministério Público em Florianópolis – foram ao menos 10 na Capital neste ano.

Indagado a respeito, o comandante-geral Araújo Gomes afirma que reduzi-las é um objetivo da PM e medidas estão sendo realizadas, como a retirada de armas e ações de inteligência para pegar os criminosos dormindo, e não nas ruas armados.

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— As mortes não são uma escolha do policial, mas uma contingência imposta em situações extremas — explica Gomes.

Entre os fatores para a letalidade policial, cita a freqüência dos encontros com criminosos armados, a crença deles de que sairão impunes, a tentativa de desestimular a ação policial para a redução de prejuízos com apreensões e até a superioridade de treinamento dos policiais.

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