Fósseis de um hominídio que habitava a Ilha das Flores, na Indonésia, foram encontrados por pesquisadores. Trata-se do Homo floresiensis, que tem somente um metro de altura e é apelidado de “hobbit”. O osso da parte superior do braço e dois dentes encontrados trazem pistas inéditas sobre os ancestrais da espécie, conforme o estudo divulgado na revista Nature nesta terça-feira (6). As informações são da Folha de S. Paulo.
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Em 2003, os primeiros fósseis do Homo floresiensis foram localizados, quando pesquisadores encontraram um sujeito quase completo na caverna de Liang Bua, também na Ilha das Flores. Este teria vivido há cerca de 100 mil anos. Os fósseis recentes do “hobbit”, por outro lado, são mais antigos. Escavado no sítio Mata Menge, ele teria vivido há cerca de 700 mil anos.
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De acordo com o estudo publicado na Nature, as novas descobertas evidenciam um indivíduo adulto, que tem seis centímetros a menos do que o descoberto no ano de 2003, em Liang Bua. Yousuke Kaifu, que produziu o artigo e é professor da Universidade de Tóquio, afirma que a pesquisa escancara um cenário de redução do tamanho nos primeiros 300 mil anos da existência dos hominídios na ilha.
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Ainda no local, foram encontradas ferramentas de um milhão de anos atrás. Artefatos dos primeiros hominídios, eles podem ter dado origem ao H. floresiensi, que são os hominídios que correspondem aos humanos e ancestrais.
A acelerada redução de tamanho antecedeu um grande período de estabilidade de baixa estatura.
— Isso provavelmente significa que o pequeno tamanho corporal era “ok” para o H. floresiensis até sua extinção — esclarece Kaifu.
O fim desses hominídios acaba coincidindo com a chegada do Homo sapiens à região.
O que explica a redução expressiva no tamanho dos indivíduos é a chamada “regra das ilhas”, que aponta que animais responsáveis por colonizar espaços com recursos limitados acabam obtendo vantagens ao diminuir de tamanho. Indivíduos menores, por exemplo, não necessitam se alimentar muito, além de levarem menos tempo para se tornarem adultos e começarem a se reproduzir.
Mais fósseis já foram escavados no sítio Mata Menge, além dos que deram origem ao estudo publicado nesta terça-feira. Dentes e fragmentos de mandíbulas já haviam sido encontrados lá, mas foi a descoberta do osso do braço superior que possibilitou que os pesquisadores calculassem a altura do indivíduo.
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— O osso do braço superior não é uma porção ideal em comparação ao fêmur, mas ainda podemos calcular a estatura possível usando as relações conhecidas entre o braço e a estatura para humanos e primatas — afirmou Kaifu.
Mesmo assim, ainda não é possível concluir que a espécie que existiu há 700 mil anos era mais baixa do que a de 60 mil, uma vez que a amostra é pequena.
O artigo contribui, principalmente, para a validação do H. floresiensis como espécie, de acordo com os pesquisadores Mercedes Okumura e José Alexandre Diniz-Filho.
As características diferentes da espécie levaram a algumas conclusões de que o osso encontrado em 2003 era de um Homo Sapiens que possuía alguma patologia, como a microcefalia. Agora, com a nova descoberta, prova-se o contrário: a localidade que o fóssil foi escavado sofreu uma mudança na datação, passando de 30 a 14 mil anos atrás para 100 mil anos atrás. O Homo Sapiens não havia chegado à região do sudeste asiático nessa época.
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— [O estudo] reforça a ideia de que essa espécie já existia há muito tempo e já era uma espécie anã, reforçando a ideia da regra das ilhas — conclui o professor de ecologia e evolução José Alexandre Diniz-Filho, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Origem dos Homo floresiensis
O consenso acerca da origem dos H. floresiensis também fomenta debates entre os cientistas. O estudo publicado na Nature, no entanto, colabora com a hipótese melhor aceita atualmente, que diz que a espécie teria vindo do Homo erectus, os primeiros hominídios a deixar a África. Ao ocupar a Ilha das Flores, no entanto, a espécie já era quase do mesmo tamanho do Homo Sapiens, além te possuir um crânio com cerca do dobro do tamanho do H. floresiensis.
Outros cientistas afirmam que os “hobbits” teriam vindo do Homo habilis, por ter uma estatura similar. Os H. habilis, por outro lado, tinham um volume craniano menor do que o H. erectus, além de não possuírem, até agora, restos de fósseis fora da África. Os pesquisadores responsáveis pelo novo estudo concluíram que as características dos dentes e do osso são similares ao do H. erectus.
— A vantagem é que o Homo habilis e o Homo erectus têm muitos exemplares. Quando você encontra uns pouquinhos, como o do Homo floresiensis, dá para comparar com certa segurança — conta a professora de biociências da Universidade de São Paulo (USP) Mercedes Okumura.
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*Sob supervisão de Kássia Salles
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