Era tarde de sábado quando a blumenauense Fernanda Wehmuth Heinig aguardava na sala de espera do hospital a chegada do segundo filho. Grávida de 24 semanas, ela sabia que aquele não seria um parto simples. Os últimos momentos com o pequeno João na barriga foram diante de uma televisão, assistindo ao programa Caldeirão do Huck, relembra.
Continua depois da publicidade
Não sabia o que as próximas horas lhe reservariam, tampouco imaginava que um bebê com 510 gramas e 28 centímetros sobreviveria diante de tamanha fragilidade. Só que o menino era tão forte quanto a mãe e, hoje, aos 12 anos, tem como conversa favorita a própria história de vida.
Inscreva-se e receba notícias pelo WhatsApp do Vale do Itajaí
Por ter útero bicorno — malformação que faz com que o órgão se separe em duas partes — Fernanda não conseguiu segurar a gravidez por mais de seis meses. Ao perceber que a bolsa estourou após dar um espirro, teve de ir às pressas para o Hospital Santa Catarina no dia 24 de agosto de 2011.
A previsão era que o menino viesse ao mundo apenas em 14 de dezembro daquele ano, mas não tinha como esperar mais. Fernanda passou por uma cesárea e o garoto nasceu às 18h. Assim como em outros relatos de prematuridade, mãe e filho não puderam trocar qualquer contato inicial e foram separados antes mesmo de se olharem pela primeira vez.
Continua depois da publicidade
— Foi muito difícil porque eu não vi ele no primeiro momento. Já correram com ele para intubá-lo na UTI Neonatal. E eu relutei um pouco para ir vê-lo porque, na minha cabeça, era um bebê que não ia resistir. Até que os próprios médicos disseram que deveria fazer isso porque talvez ele só estaria me esperando para eu dizer que ele poderia partir — recorda a blumenauense.
João nasceu com pouco mais de meio quilo. Com medo de enfrentar a realidade, Fernanda só conseguiu ir até o filho sete horas após o parto, quando se sentiu preparada para lidar com a possibilidade de perdê-lo naquele mesmo dia.
O menino, no entanto, se mostrou mais forte do que a família e os médicos esperavam. Até mesmo a enchente da época desafiou a saúde frágil do bebê, que pegou uma bactéria quando a água deixou ele e a mãe ilhados no hospital.
Ali, a criança ficou entre a vida e a morte e os profissionais do HSC chegaram a sugerir que Fernanda pedisse aos familiares para que viessem se despedir do garoto.
Continua depois da publicidade
— Mas como que tu chama a família se a gente ficou embaixo d’água? E eu lembro que teve uma família desconhecida que estava no quarto comigo e me acolheu nesse momento porque eu chorava muito por estar sozinha. Nós estávamos ilhados — recorda, emocionada.
João perdeu ainda mais peso e chegou aos 430 gramas. A mãe lembra que, ao saber da notícia, pediu que não a informassem mais sobre o estado de saúde da criança, pois queria apenas viver todos os momentos ao lado do filho, sem se preocupar com o dia de amanhã.
Naquelas circunstâncias, só restava acreditar na força do menino e confiar nos médicos que também faziam o possível para ajudar o bebê na recuperação.
— O João já nasceu me ensinando a nunca desistir. Quando eu voltei para casa sem ele, o meu leite desceu e eu queria secar porque para mim aquilo era muito sofrido. Mas meu irmão me disse que, se meu filho estava lá lutando, o mínimo que eu deveria fazer era lutar junto — conta Fernanda.
Continua depois da publicidade
Oitenta e oito dias na UTI
Foram 88 dias na UTI Neonatal, lutando pela vida. A mãe relembra que, no Dia das Crianças, em 12 de outubro, comprou um rádio e colocou músicas de ninar para o filho pela primeira vez, dentro do hospital.
Ter o bebê nos braços só se tornou uma realidade 40 dias após o nascimento dele. Depois disso, João recebeu alta do hospital em 1º de dezembro, com 2,3 quilos, e sem ter passado por qualquer cirurgia.
O menino, no entanto, teve Retinopatia da Prematuridade e, por conta do problema na visão, teve de ir a Florianópolis no fim do mês para fazer um procedimento a laser. Ali, mais um susto: João teve uma parada cardíaca e precisou retornar à UTI aos 4 meses de vida.
Continua depois da publicidade
O “milagre” do bebê de 800 gramas de Blumenau que venceu batalha pela vida
Como de costume, porém, o miniguerreiro se recuperou e voltou para casa em 30 de dezembro para comemorar o Ano Novo com a família — data que passam todos juntos desde então. Há exatos 12 anos.
— Foi tudo muito difícil, mas ao mesmo tempo compensador em presenciar a vitória dele porque ele queria muito viver. E nos provou isso. Hoje, é um menino querido e amado por todos e adora quando contam para ele a história do próprio nascimento — relata a mãe.
*Sob supervisão de Augusto Ittner
Leia também
Mãe descobre força escondida e relembra parto de gêmeos prematuros em Blumenau: “Muita fé”
Continua depois da publicidade
Bebê que “renasceu” após morte da mãe inspira recomeço para o pai: “Uma parte dela comigo”