“Não sei, só sei que foi assim”, uma frase curta, direta e que marcou de vez o que conhecemos como cinema brasileiro. Há mais de 20 anos, o país parava para assistir “O Auto da Compadecida”, obra que começou como uma minissérie e depois se transformou em um aclamado longa. Agora, a dupla João Grilo e Chicó retorna às telas numa sequência do filme. Mas com tanto tempo entre uma obra e outra, como será que estão os atores? Veja a seguir.
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Como está o elenco de “O Auto da Compadecida”
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“O Auto da Compadecida” é um filme de 2000 dirigido pelo cineasta Guel Arraes e roteirizado tanto por ele quanto pelo compositor João Falcão. A obra começou, inicialmente, no formato de minissérie, com quatro capítulos produzidos e transmitidos pela TV Globo em 1999.
Com o sucesso do público, a série foi transformada, no ano seguinte, em uma obra de cinema. Parte da produção foi gravada no sertão da Paraíba, que é justamente onde a trama é ambientada. Tanto a série quanto o filme surgiram de uma inspiração do teatro, mais especificamente da peça “Auto da Compadecida”, de 1954, de Ariano Suassuna.
Essa peça foi encenada pela primeira vez em 1955 e se tornou uma obra especial e relevante na carreira do dramaturgo. Na época, o texto recebeu críticas positivas, sendo considerado como algo que refletia o popular teatro brasileiro. Elementos do cordel, da tradição religiosa e nordestina aparecem de forma original, cômica e com intenções morais.
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O enredo do filme
A história acompanha a aventura de dois amigos nordestinos, o João Grilo e o Chicó em Taperoá, na Paraíba, na década de 1930. O primeiro tem uma relação íntima com a mentira, já o segundo teme até a própria sombra. Ambos vivem, ou melhor, sobrevivem, em um sistema de bastante pobreza, e por isso “matam um leão por dia” para conseguir o básico.
Mas o que parece uma história trágica e triste se transforma em algo cômico, divertido e envolvente. Dentro da narrativa, nós conhecemos outras pequenas histórias desses dois amigos. O Chicó, por exemplo, é um grande contador de lendas e quando é questionado sobre a veracidade dos fatos, ele responde: “Não sei, só sei que foi assim“.
A obra também é repleta de reviravoltas e momentos em que seus protagonistas escapam por um triz ou quase isso, visto que ambos experimentam a morte de perto.
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Veja a seguir um pouco da história de alguns personagens do filme e dos atores por trás da trama.
Selton Mello como Chicó
O ator Selton Mello é quem dá vida ao personagem do Chicó, um dos protagonistas da obra. Junto de João Grilo, ele vive aventuras que faz o espectador rir, se emocionar e torcer ao seu favor, mesmo deixando evidente, para quem o assiste, que ele escapa de suas falcatruas pela mentira. Além disso, Chicó se apaixona facilmente, sendo levado pelos encantos de Dora e depois de Rosinha.
Após participar desse filme, Selton Mello esteve em outros projetos que ainda repercutem para o público, como “A Mulher Invisível”, “O Que É Isso, Companheiro?”, “Meu Nome Não É Johnny”, “O Filme da Minha Vida” e “O Palhaço”. Em 2024, ele continuou a carreira com o sucesso de “Ainda Estou Aqui” e a sequência de “O Auto da Compadecida”.
Matheus Nachtergaele como João Grilo
João Grilo não faz do tipo herói, mas ainda assim tem um forte senso de justiça, que aparece principalmente quando ele discute com o padre João (Rogério Cardoso) e o questiona sobre a hipocrisia da igreja frente a problemas sociais da população. Ao lado de seu amigo Chicó, ele se mostra um homem, que apesar do pouquíssimo dinheiro e da falta de sorte, tem de sobra a esperteza.
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E é isso que vai guiá-lo e até, de certa forma, condená-lo a morte. A sua “malandragem” nada mais é do que uma resistência ao sistema que fortalece injustiças, deixando o rico cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre.
Matheus Nachtergaele aparece em grandes obras como “Central do Brasil”, “Cidade de Deus”, “Ó Paí Ó”, “Doce de Mãe”, “Mais Pesado É o Céu”, “Cabras da Peste” entre outros. Ele também participa da continuação de “O Auto da Compadecida”.
Virgínia Cavendish como Rosinha
Rosinha é uma mulher doce, querida, mas que está cansada de obedecer as ordens do pai, o major Antônio Morais (Paulo Gourlart). Ela acaba se apaixonando por Chicó que além de não ter coragem de enfrentar seu pai, é um homem sem dinheiro algum. O amor é correspondido, mas também coloca o casal em “maus bocados”. João Grilo monta mais um de seus planos para ajudar o amigo e ainda pegar o dote de Rosinha.
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Virgínia Cavendish esteve em várias obras da TV Globo, como “Nada Será Como Antes”, “O Cravo e a Rosa” e “Dona Flor e Seus Dois Maridos”. Ela também aparece na continuação de “O Auto da Compadecida” como uma mulher mais forte e empoderada de seus valores como nordestina.
Fernanda Montenegro como Virgem Maria
No filme, João Grilo acaba levando um tiro enquanto fugia do Capanga (Enrique Díaz) que trabalhava para o Cangaceiro Severino (Marco Nanini). Ele estava fechando as portas da igreja quando a bala atinge com tudo seu corpo. Chicó fica assustado e os dois começam a chorar em tom de despedida, pois sabem que ali vão se separar para sempre.
O filme então inicia seu próximo ato nessa história: o purgatório. É ali que João Grilo conhece Jesus Cristo (Maurício Gonçalves), a Virgem Maria (Fernanda Montenegro) e o Diabo (Luís Mello). Porém, é graças a mãe de Deus que ele consegue se salvar dessa. As cenas são recheadas de textos cômicos em que o protagonista mais uma vez surpreende com a sua astúcia em falar.
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No entanto, é aqui que temos um monólogo sensível e provocante quando a Virgem Maria tenta salvar a alma de João Grilo e explica a ele que as inúmeras mentiras contadas eram a sua forma mais genuína de sobrevivência na vida dura do sertão:
– Você mentia para sobreviver, João! – Explica a Virgem Maria.
– Mas eu também gostava… Eu acabei pegando o gosto de enganar aquele povo. – Retruca João Grilo caminhando para a porta do inferno.
– Não! Eles lhe exploravam, a esperteza é a coragem do pobre. A esperteza era a única arma que você dispunha contra os maus patrões. […] João foi um pobre como nós, meu filho (Jesus), e teve que suportar as maiores dificuldades numa terra seca e pobre como a nossa. Ele pelejou pela vida desde menino, sem sentir pela infância, acostumou-se a pouco pão e muito suor… – Diz a Virgem Maria.
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Fernanda Montenegro foi amplamente elogiada nesse papel, mas ela também se destacou em outros tantos como “Central do Brasil”, que inclusive lhe rendeu uma indicação ao Oscar, “Vitória”, “Belíssima”, “Doce de Mãe”, “Guerra dos Sexos”, “Casas de Areia”, “Renascer” e “Ainda Estou Aqui”. Na continuação de “O Auto da Compadecida”, a Virgem Maria é interpretada pela atriz Taís Araújo.
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