Desde o plano real, em 1994, o valor do dólar já passou por ao menos oito grandes altas e baixas. As oscilações são influenciadas tanto por conta da política interna do país ou por acontecimentos que mexeram com os mercados globais, como a pandemia de Covid, quando o câmbio atingiu o maior valor da história. Essa oscilação reflete como está a economia do Brasil na comparação com outros países e afeta diretamente a vida das pessoas — dólar alto, por exemplo, tende a tornar a gasolina mais cara, por outro lado, quem trabalha com exportações pode se beneficiar. (veja infográfico abaixo)

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Estabelecido no governo de Itamar Franco, o plano real substituiu o cruzeiro real, com objetivo de conter a forte inflação, depois de várias tentativas de outros presidentes. Nos primeiros anos da moeda, o câmbio era fixo, e, só em 1999, no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), foi adotado o câmbio flutuante.

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Isso significa que, desde então, a cotação das moedas varia de acordo com a oferta e a demanda, sem intervenções diretas do Banco Central. O BC só interfere no sistema para manter a funcionalidade do mercado de câmbio, controlando as oscilações bruscas, como em 2020, na pandemia de Covid-19. 

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Conheça as moedas brasileiras

O valor do dólar influencia diretamente o preço dos combustíveis, que chegaram a valores exorbitantes em 2022. Isso tem afetado bastante o trabalho de Maikon Steuck, dono de uma empresa de aluguel de vans em Timbó, no Vale do Itajaí.

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— Trabalhando com transporte de alunos, o contrato foi feito em dezembro do ano passado até dezembro deste ano com valor fixo. Então quando a gente começou a rodar no início do ano, o preço do diesel estava muito abaixo do que está agora. Ele deu pulos grandes, passou muito além do esperado. Então as empresas estão “queimando gordura” para segurar esse ano e conseguir reajustar ano que vem — relata.

Mas há quem aproveita as oportunidades quando o câmbio fica mais alto. Renato Barata, dono de uma empresa de Criciúma, no Sul do Estado, que presta consultoria para quem trabalha com importações e exportações, explica que empresas já consolidadas no comércio exterior consegue se adaptar às variações.

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— Eu comecei esse trabalho em 2009 e tenho clientes que importam desde aquela época. Eu cheguei a pegar o dólar a R$1,20. Lembro que quando o dólar foi a R$ 2 todo mundo gritava apavorado. Ou seja, quem usa o comércio exterior de forma sistêmica, vai se adaptar. O Brasil depende muito da importação, então mesmo quando o dólar aumenta, o mercado se adapta ao novo preço — explica Barata.

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O maior valor do dólar registrado até hoje foi durante a pandemia, em 2020, no governo de Jair Bolsonaro — R$ 5,97. Já o menor valor foi atingido em 2008, no período de grande valorização das commodities, no governo de Lula — R$ 1,55. O Diário Catarinense selecionou as grandes variações do dólar ao longo dos mandatos dos presidentes do Brasil, desde 1994. Economistas ouvidos pela reportagem analisaram os movimentos.

Março de 1999: crise de desvalorização do real

A primeira grande alta do dólar ocorreu justamente em janeiro de 1999, quando foi estabelecido o regime de câmbio flutuante. A moeda americana teve uma variação de + 72,5% e atingiu pela primeira vez R$ 2,00. Em março do mesmo ano, a moeda chegou ao valor máximo de R$ 2,20. Esse momento da história foi conhecido como a crise da desvalorização do real, ou “efeito samba”.

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De acordo com Luis Moran, chefe de pesquisa de Investimentos na EQI Investimentos, no começo as variações eram maiores, principalmente durante o governo FHC, porque o Brasil tinha pouco dinheiro em caixa. Ao longo dos anos foi construída uma reserva, permitindo que o país pudesse se defender melhor.

O dólar funciona como uma “variável de escape”, segundo ele. Se a política fiscal do país está caminhando bem e as metas de inflação estão sendo atingidas, o dólar acaba refletindo isso pra baixo.

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— Países que se desenvolvem mais, tendem a ver sua moeda se valorizar. E o contrário, tende a se perder. Sempre em relação aos outros. A grande vantagem brasileira é que a gente é bem menos frágil do que foi no passado. Isso permite que as variações sejam menos dramáticas do que já foram — explica o especialista.

Setembro de 2001: dólar dispara e chega a R$ 2,84

A segunda grande alta do dólar ocorreu em setembro de 2001, quando a moeda atingiu R$ 2,84. Alguns eventos históricos contribuíram para isso. O primeiro foi uma forte crise cambial na Argentina.

— Nessa época a economia brasileira, tinha fundamentos externos muito parecidos com a Argentina: um nível bastante baixo de reservas internacionais. Isso gerou especulação contra a moeda brasileira — explica Pablo Bittencourt, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc).

Teve ainda o atentado contra as torres gêmeas nos Estados Unidos, que gerou uma crise global, e o apagão no Brasil, por conta da crise hídrica.

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Outubro de 2002: eleição de Lula faz dólar atingir R$ 4

Em outubro de 2002, o dólar disparou e atingiu pela primeira vez R$ 4,00. Isso aconteceu porque a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, um candidato da esquerda, não foi bem recebida pelo mercado, explica Luis Moran, o que é uma reação normal. No entanto, logo depois das eleições, o presidente acalmou os ânimos do mercado e disse que o governo seria responsável, e manteria a política econômica do Brasil.

Agosto de 2008: dólar atinge o menor valor desde 1999

Durante o primeiro mandato, o governo do petista manteve a estrutura econômica do país, como explica Luis Moran, chefe de pesquisa de Investimentos na EQI, o que fez o dólar ficar mais “comportado”.

— Foi uma política econômica que atendeu o que o mercado estava pedindo naquela época. O mercado queria uma responsabilidade fiscal, o câmbio flutuante e o sistema de metas de inflação. Isso foi mantido por boa parte do primeiro mandato — destaca o especialista.

Em agosto de 2008 a moeda atingiu o menor valor desde janeiro de 1999 (ano em que foi adotado o regime de câmbio flutuante). O dólar chegou a R$1,55, impulsionado pela valorização das commodities que bendeficiaram países da América do Sul.

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Dezembro de 2008: crise da bolha imobiliária americana afeta o mundo

Dois meses depois, em dezembro de 2008, o dólar teve um novo pico e atingiu R$ 2,62. O motivo foi a crise do subprime, com o estouro da “bolha imobiliária americana” e se formou após vários anos de investimentos massivos em hipotecas nos EUA. A crise atingiu os mercados do mundo todo.

No entanto, o real logo se valorizou novamente, com a alta no preço das commodities. Em julho de 2011, o dólar chegou a R$1,52.

Setembro de 2015: dólar dispara com crise política e queda das commodities

De acordo com Pablo Bittencourt, economista-chefe da Fiesc, a crise política desde 2014, que resultou no Impeachment da Dilma em agosto de 2016, se somou a uma queda no preço das commodities no mercado internacional e fez o dólar disparar, atingindo R$ 4,24, em setembro de 2015.

Depois do Impeachment, durante o governo de Michel Temer, não houveram grandes variações do dólar.

Outubro de 2018: eleição de Bolsonaro faz dólar cair

O dólar se manteve relativamente estável até as eleições de 2018, quando o presidente Jair Bolsonaro foi eleito, o que agradou o mercado. A moeda americana teve uma queda significativa em outubro, atingindo R$ 3,58.

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— O mercado tinha uma expectativa grande, porque no discurso Bolsonaro destacou muito aquela questão de mais Brasil e menos Brasília, de privatizações… E isso acabou trazendo uma expectativa de uma política fiscal bem mais responsável — destaca Luis Moran.

Maio de 2020: dólar atinge o maior valor já registrado

O bom-humor do mercado durou pouco e a pandemia de Covid-19 estragou os planos do governo Bolsonaro. A partir de março de 2020, as economias globais sofreram com os impactos do coronavírus e em maio o dólar atingiu o maior valor já registrado: R$ 5,97.

O dólar só voltou ao patamar de antes da pandemia em abril de 2022 (R$ 4,58). Enquanto a guerra entre Rússia e Ucrânia impactou o mercado internacional negativamente, a moeda brasileira se valorizou, já que o país é um grande produtor de commodities, que ficaram escassas por conta do conflito.

Com a normalização dos mercados globais aos poucos, o real voltou a perder valor e fechou agosto deste ano em R$ 5,18.

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Como ficará o dólar nas eleições 2022?

A eleição de 2022 tem sido uma das maiores e mais importantes da história brasileira. No entanto, como os dois candidatos à Presidência, Lula e Bolsonaro, já são conhecidos, o chefe de pesquisa de Investimentos na EQI, Luis Moran, acredita que o pleito não vai afetar tanto o dólar:

— O mercado sabe mais ou menos o que esperar dos candidatos, então eu não acredito que não tem muita surpresa pra acontecer. O que a gente tem notado é que a eleição tem afetado menos o dólar do que no passado.

No entanto, economista-chefe da Fiesc, Pablo Bittencourt destaca que a taxa de câmbio pode se desvalorizar caso os candidatos façam promessas de aumento dos gastos públicos:

— A medida que a disputa for se intensificando, existe uma tendência dos candidatos começarem a fazer promessas que envolvam aumento de gastos. Quando um promete, o outro tem que prometer também. A taxa de câmbio tende a responder com desvalorização da moeda brasileira. Por outro lado, se os candidatos deixarem claro que tem compromisso com a responsabilidade fiscal, é provável que a moeda brasileira se valorize.

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Vale lembrar que algumas medidas adotadas neste ano, como cortes de impostos, e aumento do Auxílio Brasil, também podem afetar a economia brasileira. Será necessário encontrar espaço no orçamento do ano que vem para manter essas políticas. Dependendo de como essas questões forem encaminhadas, podem ter mais ou menos impacto sobre o dólar.

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