Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) anunciaram os resultados de um estudo que representa um avanço significativo no enfrentamento de surtos de gastroenterite aguda — inflamação que compromete o revestimento do estômago, do intestino grosso e do intestino delgado — causados pelo norovírus. Em 2023, o vírus foi responsável por um surto de diarreia em Florianópolis, quando mais de 5 mil pessoas apresentaram sintomas.

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A pesquisa foi conduzida no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Biociências, sob coordenação da professora Gislaine Fongaro, vinculada ao Laboratório de Virologia Aplicada do Centro de Ciências Biológicas (CCB).

O trabalho, desenvolvido durante o mestrado da pesquisadora Beatriz Pereira Savi, demonstrou que o uso de óleo essencial de orégano (OEO) nanoencapsulado apresenta eficácia comprovada na inativação do norovírus em ambiente laboratorial (in vitro), com taxa de redução viral de até 99,72%. Os dados foram publicados na revista científica Food and Environmental Virology.

Processo de elaboração

A formulação biotecnológica foi elaborada com base em nanopartículas poliméricas de quitosana, um biopolímero natural, biocompatível e ambientalmente seguro, que atua como barreira protetora para os compostos bioativos do óleo essencial. A encapsulação visa superar limitações como baixa solubilidade em água e alta volatilidade, características que comprometem a estabilidade do OEO em aplicações convencionais.

Além da coordenadora e da autora principal, o estudo contou com a colaboração dos pesquisadores Thiago Caon e Débora Fretes Argenta, responsáveis pelo delineamento da formulação, e das doutorandas Catielen Paula Pavi e Bianca da Costa Bernardo Port, que realizaram os ensaios laboratoriais.

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Resultados e próximos passos

Segundo os autores, os resultados obtidos reforçam o potencial do produto como alternativa sustentável para desinfecção ambiental e sanitização de alimentos e superfícies, especialmente em contextos em que desinfetantes convencionais apresentam desempenho reduzido.

A professora Gislaine Fongaro destaca que o OEO é reconhecido por seu amplo espectro de bioatividades, incluindo propriedades antimicrobianas, antivirais, antifúngicas e antioxidantes.

— A nanoencapsulação permite preservar essas propriedades por mais tempo, mesmo em condições ambientais adversas, viabilizando sua aplicação em sistemas reais de desinfecção — afirma.

Os próximos passos da pesquisa incluem a realização de testes em escala piloto e escalonada, com amostras alimentares e ambientais variadas, além da avaliação de aspectos regulatórios e de segurança para futura aplicação comercial. A equipe também pretende submeter o produto a análises de estabilidade, tempo de prateleira e eficácia frente à variabilidade natural de contaminantes.

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*sob supervisão de Luana Amorim

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