“Eu simplesmente não tinha forças pra me levantar. Meu corpo literalmente parou. Fiquei sem ânimo ou disposição pra qualquer coisa!”. O relato é da psicóloga e empresária catarinense, Fernanda Bornhausen Sá e, ao que tudo indica, fez, faz ou fará parte da vida de algum conhecido seu – ou da sua própria vida, se você não ficar atento.

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Números da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam o Brasil como o país mais ansioso do mundo, o segundo em casos de Burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional), o terceiro mais estressado e o quinto em casos de depressão. E até pouco tempo atrás, Fernanda fazia parte dessas estatísticas:

– Eu levei toda a minha vida muito no automático, achando que precisava dar conta de tudo, ser um exemplo de perfeição, de sucesso, pensando que viver estressada era uma coisa normal. Precisei ficar em perigo, pra então acordar. Foi quando, sinto, despertei pra uma vida que, de verdade, vale a pena – conta ela.

Fernanda trabalhou desde muito nova e sempre se considerou muito proativa. O expediente, há tempos, começava às 7h e ia até as 21h (quando não passava disso, diz ela). Como empresária da área de inovação, diz que sempre procurou dar conta de viagens, reuniões, clientes de todo o mundo e ainda se dedicava a uma intensa entrega ao voluntariado, família, marido, filhos e casa.

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– Era tudo junto e misturado. Exigia além de mim, mas sempre dei conta. Até que um dia, não deu – pontua.

Era novembro de 2018 quando Fernanda, aos 56 anos, sentiu que “saiu dos
trilhos”:

– Eu acabara de voltar de uma viagem com 20 clientes de Portugal e senti que estava muito cansada. Mas achei que era normal e que em um dia ou dois eu iria me recuperar. Só que no terceiro dia eu simplesmente não tinha mais forças. Não me reconhecia de tão apática e fraca que estava. Como psicóloga, me autodiagnostiquei: “Deu, ferrou. Estou com estresse agudo! É hora, enfim, de eu fazer algo por mim” – recorda ela.

A empresária e psicóloga lembra que não queria um tratamento que a levasse para medicamentos, queria tentar algo que a levasse a sair disso, de maneira natural. Na verdade, diz que já havia tentado a estratégia em outras épocas, mas começava e desistia pelo caminho, como se acabasse sugada por tantos afazeres que a tiravam do foco. Mas desta vez era mudar ou mudar. E a mudança começou pela raiz:

– Comecei a procurar lugares que me ajudassem a transformar meus hábitos nocivos, pela raiz. Buscando na internet e pesquisando referências encontrei um lugar que me convidou a transformar completamente minha forma de levar a vida. No total, foram 20 dias de imersão, com tratamento intensivo, aprendendo com médicos, psicólogos, terapeutas, nutricionista e profissionais de educação física o que é ter, e como ter, um estilo de vida saudável.

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Fernanda diz que ficou impressionada ao sentir que, em tão pouco tempo, tudo se transformou, e para muito melhor:

– Mais feliz ainda fiquei em compreender que o segredo de tudo reside em nós, dentro do nosso cérebro, e o quanto entendendo isso a gente tem condições de mudar a vida, se assim o quiser. O (auto) conhecimento liberta – pondera.

É coisa da sua cabeça

O que acontece dentro do seu cérebro diz mais sobre você do que você imagina. E saber disso foi a chave da grande virada na vida de Fernanda.

– Hoje eu sei que nossa ansiedade, estresse, depressão ou burnout acontecem quando nossos circuitos cerebrais produzem, em excesso, um hormônio chamado cortisol – destaca ela.

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E o que provoca esse excesso? A vida que a maioria de nós vem levando: pouca atividade física, alimentação ruim, sono irregular, muitas horas nas redes sociais, autoexigência ao extremo, pouco tempo para si – só pra citar alguns comportamentos.

E tem mais: quando o cortisol dispara, ele impede que o nosso cérebro produza os hormônios e neurotransmissores do bem-estar, conhecidos como hormônios da felicidade, como a serotonina, a endorfina, a dopamina e a ocitocina. São responsáveis pela nossa motivação, bom humor, produtividade, aprendizado, memória, libido e tudo que nos deixa melhores.

– Eu fiz um intensivo pra baixar meu cortisol naturalmente, mudando hábitos. O resultado me surpreendeu: em 30 dias eu era outra pessoa, ainda melhor que antes. E consegui porque minhas novas atitudes mexeram, literalmente, com a química do meu cérebro. Esse é o segredo! – revela Fernanda.

Farmácia da mente

Reverter o estresse agudo de uma maneira tão natural fez com que a psicóloga e empresária catarinense Fernanda Bornhausen Sá quisesse estudar mais sobre o assunto. Foi quando nos reencontramos, as duas, cursando faculdade de Neurociências. De nossos estudos nasceram dois projetos gratuitos, com o propósito de multiplicar conhecimento, com base na ciência. A ideia é ajudar a entender como você funciona “por dentro” e ter condições de fazer melhores escolhas por si e ter uma boa saúde mental e emocional.

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Um deles é o “Fique Bem”, que você pode acompanhar na tela da NSC TV e redes sociais, e o SEDO, Farmácia da Mente – plataforma no Instragram –, que ensina como ativar os hormônios da felicidade com facilidade.

– O termo Farmácia da Mente é uma forma de lembrar às pessoas que todos os remédios que se precisa já estão dentro de nós, inicialmente – explica Fernanda.

E a meta é levar esse conhecimento a muito mais pessoas, agora em 2023.

– Junto com o movimento Mulheres do Brasil (que envolve 110 mil mulheres voluntárias e tem 150 núcleos espalhados pelo mundo) e o Movimento Janeiro Branco, de atenção à saúde mental, temos a meta de fazer a filosofia Farmácia da Mente chegar gratuitamente a 1 milhão de pessoas, tudo no sistema on-line – diz Fernanda.

A empresária chega aos 60 anos celebrando um verdadeiro renascer, fruto de se dar de presente o “parar pra cuidar de si”.

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– Sei que a montanha-russa da vida pode me levar a querer estressar de novo, mas, desta vez, tenho ferramentas pra me defender, sei como usá-las – e tenho como propósito multiplicar isso para o mundo. Dar-se um tempo é o melhor presente que alguém pode se oferecer. É ativar em si muita ocitocina, hormônio do amor, da autocompaixão, da empatia e da confiança. Uma nova vida pode começar aí, a minha recomeçou – completa.

A seguir, compartilho com você alguns dos pilares que transformaram a vida da Fernanda e que podem transformar a sua também.

Dicas

Faça pausas

Para entregar produtividade, é muito comum que as pessoas se esforcem ao máximo para cumprir tarefas como se fossem máquinas, sem descanso. Porém, o resultado acaba sendo o contrário do desejado: o rendimento tende a cair. Já aconteceu com você? Isso ocorre porque nosso cérebro tem um limite de energia e concentração para cada área, ou seja, quanto mais tempo você insistir em uma tarefa sem descansar, pior será a execução.

Resumindo: nosso cérebro precisa de uma quantidade incrível de energia para funcionar. E ele precisa parar, de tempos em tempos, para reabastecer. E a gente reabastece fazendo pausas. Não parar é como sair com o carro sem desligá-lo e sem trocar a água do motor: pifa. Entenda que paradas voluntárias evitam paradas involuntárias.

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Mova-se

Fazer exercícios físicos, aeróbios ou de força, são fundamentais para a saúde do cérebro – e a saúde mental, emocional e física! Movimentar-se produz os hormônios da felicidade, desperta foco, atenção, bom humor, combate ansiedade e depressão (porque diminui o cortisol na corrente sanguínea), aumenta a produtividade, a autoestima, a libido e ainda combate doenças como Alzheimer e Parkinson – porque tem a capacidade de fazer nascer novos neurônios e proteger os que já temos.

Atenção plena

Está aí outra técnica ótima para baixar o cortisol: estar presente onde você está. Isso ameniza a intensidade de emoções como medo e ansiedade e traz autoconfiança. Existem as técnicas medidativas, que são excelentes, mas pra começar você pode “brincar” de fazer atividades rotineiras, prestando atenção nelas: lavar a louça, arrumar o armário, ouvir sua música preferida, conversar com alguém.

Invista em bons relacionamentos

Você não precisa de um milhão de amigos, invista em amigos que valham milhões. Isso desperta a produção de ocitocina no cérebro, o hormônio do amor, do pertencimento, da conexão e da inclusão. Desperta também a dopamina, o hormônio do prazer.

Não durma no ponto

Cuidar da qualidade do seu sono é vital para o equilíbrio de suas emoções. É durante o sono que o cérebro faz uma verdadeira faxina de toda a sujeira que você acumulou durante o dia. Se não há limpeza, você vai acumulando toxinas, vai adoecendo e virando até uma pessoa tóxica. A média mundial fala de sete a nove horas. Descubra o ideal para você e ajuste o descanso.

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Respire

Se tem uma atitude que diminui a produção de cortisol e acorda o nosso lado mais sábio é o respirar. Ele equilibra ondas mentais, acalma, melhora o nosso manejo com as emoções, o nosso aprendizado, raciocínio e restabelece o bem-estar. Em vez de ter decisões precipitadas, brigar, se exaltar, reclamar, colocar a culpa nos outros, você para, pensa e respira – e tente agir com mais sabedoria.
Uma boa técnica, para começar é o respirar “quadrado”: inspira em quatro tempos, segura a respiração por quatro tempos, expira em quatro tempos e segura com o abdômen vazio por quatro tempos.

Escolha melhor seus alimentos

Muitas pessoas não sabem, mas há alimentos que inflamam nosso cérebro, e cérebro inflamado é porta aberta para baixa imunidade e doenças. Exemplos? Farinha branca, açúcar refinado, produtos industrializados, tudo o que possui o IG (índice glicêmico) alto, aspartame, gordura saturada e por aí vai.
Escolha comer “comida de verdade”, que produzam no seu cérebro neurotransmissores do bem e façam bem ao seu intestino, conhecido como nosso segundo cérebro: frutas, legumes, verduras, folhas verdes, cúrcuma com pimenta, fibra, grãos, feijão, lentilha, grão-de-bico, mais peixes e outros frutos do mar.
Descascar mais e desembrulhar menos pode fazer aquela diferença! Mas nada radical: use a regra dos 80% X 20%. Ou seja: 80% mais equilibrado e 20% mais liberado.

Dê o primeiro passo

Pra fazer o cérebro trabalhar em seu favor, o mais importante é você dar o primeiro passo, tomar uma atitude por si e ir valorizando, celebrando o processo, cada pequena conquista. Isso é dopamina na veia: motivação para dar novos passos, e mais um, e mais um. Apenas comece… E deixe-se surpreender. Feliz escolhas pra você em 2023!

*Laine Valgas é jornalista e especialista em Neurociências, Psicologia Positiva e Inteligência Emocional

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