Morador de Florianópolis, uma das capitais com a cesta básica mais cara do país, Tarso Gonçalves Soares separa apenas R$ 300 para a comida do mês. Ele não compra roupas e calçados desde 2014 e se alimenta apenas de frutas e legumes. O motivo, segundo ele, não é a falta de dinheiro, mas por desejar levar um estilo de vida  “mais econômico”. Tarso é um dos participantes do “Muquiranas Brasil”, programa que mostra táticas de pessoas que fazem de tudo para economizar. 

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O teto de gastos que Tarso, formado em Educação Física, estabeleceu para viver em Florianópolis é de R$ 1.550 por mês. O dinheiro é dividido entre moradia, comida, transporte e gastos pessoais. Contudo, para conseguir pagar as contas e economizar, ele busca algumas artimanhas. Por exemplo, toda a alimentação é feita de frutas e legumes comprados em sacolões. 

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— Eu só compro o que está no sacolão. Mas, por exemplo, no sacolão é R$ 4,50, e supermercado está com uma promoção vendendo batata doce por R$ 2,79. Antes de comprar as coisas de R$ 4,50, eu vou no supermercado e compro um monte de batata doce e aí depois vou comprar o resto das coisas por R$ 4,50. Mas não compro nada acima de R$ 4,60 — explica.

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Roupa de cadáver e comida do lixo: os hábitos bizarros dos muquiranas

A decisão de Tarso de escolher comer apenas frutas e legumes não é por questões alimentares, mas sim por escolhas econômicas, visto que esses alimentos costumam ser mais baratos. Ele afirma, entretanto, que em relação a água e energia não há “gambiarras” para economizar. 

Em relação às vestimentas, Tarso não compra roupas e calçados há 10 anos. Segundo ele, as novas peças são conquistadas através dos armários coletivos de Florianópolis, onde qualquer pessoa pode pegar os itens gratuitamente. 

— A última vez que comprei roupa, calçado e até mesmo cueca foi em 2014. Eu vou aproveitando. Eu ando de bicicleta, hoje em dia eu não sou mais tanto assim, mas eu parecia um urubu. Ficava pedalando de um lugar para o outro olhando os lixos. No Campeche, é muito comum você encontrar nos lixos secos mudas de roupas e calçados. Eu pegava essas peças, deixava no armário coletivo e levava outras para casa — conta.

O “muquirana” mora em uma kitnet de 29 metros quadrados e separa as despesas com a namorada. Eles dividem o Wi-fi com os vizinhos e, por isso, pagam apenas R$ 22 por mês. Em relação a higiene pessoal, os gastos são de apenas R$ 7, já que ele não usa papel higiênico, shampoo e condicionador. Para isso, ele usa sabão de coco. Tarso também prefere não usar máquina de lavar. 

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— Desodorante é leite de magnésia, pasta de dente é quase nada e lâmina de barbear é muito bem cuidada — diz. 

Contudo, Tarso também tem gastos que ele considera de “luxo”, como restaurantes, quitutes, 4 meses de viagens no ano, passeios, e cachorro que mantém uma dieta específica.

— Comer só arroz e farinha (de trigo ou de mandioca) deixaria tudo muito mais barato, porém nocivo à saúde. Minha opção gera, pra mim, alta performance esportiva, zero lesões, zero lixo, zero sofrimento animal. E, claro, gera também economia – que me gera mais tempo livre, menos estresse, menos correria, mais horas de sono e de descanso.

Veja as fotos do estilo de vida econômico de Tarso

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Nômade por quatro anos

Antes de controlar os gastos com R$ 1.550, Tarso foi nômade por quatro anos e vivia com apenas R$ 10 por dia ou R$ 3.600 por ano. 

— Eu não gastava com mais nada. Eu pedia favor. “Deixa eu carregar o celular aqui”. “Ah, deixa eu beber água aqui”. Acampava todo dia, desarmava a barraca, andava e tal. Eu não dormia três noites no mesmo lugar — conta.

A ideia era viver 10 anos dessa forma, contudo, ele se apaixonou por uma catarinense e decidiu parar. 

— Chegou uma hora que eu senti falta de caminhar pela mesma rua, de encontrar a mesma pessoa, de continuar uma conversa — diz.

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Durante os anos que viveu como nômade, Tarso conheceu toda a costa brasileira entre Chuí, na divisa com o Uruguai, e Mangaratiba, no Rio de Janeiro. Ele fez o percurso andando e nadando. 

—  Hoje em dia eu posso afirmar que se você tem uma casa de praia de frente para o mar entre o Chuí, Mangaratiba, no Rio de Janeiro, eu já passei na frente — pontua.

Em novembro do ano passado, Tarso deu a volta na Ilha de Santa Catarina em um trajeto que durou oito dias. Todo percurso foi feito a pé e a nado, pela borda de Florianópolis. Hoje em dia ele trabalha como guarda-vidas na Praia do Campeche, no Sul da Ilha, mas ressalta que não está com carteira assinada. Ele deseja levar um estilo de vida livre e optar por um emprego que não o prenda é o melhor caminho. 

— Eu economizo muito para poder trabalhar pouco. Eu trabalho menos de 85 dias por ano e folgo todos os outros dias graças ao meu estilo de vida super barato. A minha troca é essa, eu gasto pouco para ter tempo livre. Tenho muitos dias de folga, muita hora de lazer, faço muita trilha, muita corrida, muita natação, muito passeio. Vou várias vezes à Ilha do Campeche, vou acampar na Lagoinha do Leste, vou caminhar um pouco um trecho com a minha namorada, visito a família — conta.

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