Parece filme de ficção científica: um vírus impede as pessoas de sair de casa. É uma situação mundial sem precedentes nos últimos 100 anos, que está acontecendo em momentos distintos nos países. Primeiro é preciso cuidar da saúde, salvar vidas. A economia vem depois ou, quem sabe, junto. As decisões para esses desafios precisam ser tomadas como se o país estivesse em guerra. Entidades empresariais de Santa Catarina afirmam que praticamente todos os setores econômicos do Estado estão sendo afetados negativamente, até com início de demissões.
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Para a economia mundial, a maioria das instituições financeiras e também economistas preveem recessão este ano. A dúvida é de quanto será o tombo. Analistas e empresários projetam cenário similar no Brasil, mas as opiniões divergem. Um levantamento do Valor Data com 36 instituições financeiras do Brasil apurou que as projeções indicam até 3% de queda no PIB deste ano.
Em Santa Catarina, a economia cresceu acima da média do país nos últimos três anos. No entanto, vinha perdendo força nos últimos meses. O índice de atividade econômica da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDE), considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), fechou 2019 com alta de 2,5%, abaixo de projeções que apontavam algo perto de 3%.
Para este ano, a expectativa é de recessão, na avaliação do economista da SDE, Paulo Zoldan, responsável pela coordenação do cálculo do PIB catarinense. De quanto será a recessão?
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– Vai depender do tempo, impacto do período de isolamento nas empresas e nos empregos. O mercado interno terá um ano muito difícil, as exportações estão em queda e a crise argentina vai se agravar – afirma Zoldan, ao observar que as agroindústrias de carnes, com a continuidade de atividades para atender os mercados interno e externo, serão as menos afetadas.
A Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) representa as associações dos municípios. O presidente da entidade, Jonny Zulauf, diz que algumas empresas já iniciaram desligamento de pessoal sem estabilidade.
– O que mais preocupa é a situação da micro e pequena empresa. Essa suspensão de atividade é o caos, é dramática. Mas considerando a razão do governo, tecnicamente tomando medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, estamos seguindo recomendação mundial, cumprido o protocolo – analisa Zulauf.
Na opinião dele, tanto o governo estadual quanto federal precisam dar atenção urgente ao pequeno negócio e aos informais que foram proibidos de trabalhar. Observa que os supermercados estão abertos, mas as pessoas não têm dinheiro para comprar alimentos.
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Sobre a queda da economia catarinense, Zulauf afirma que é difícil prever, mas como o Estado tem forte agroindústria e parte da indústria está trabalhando, será menos atingido.

74% das pequenas empresas perdem com pandemia
Os negócios menores são os mais impactados pelos efeitos do coronavírus em SC. A menos de duas semanas de isolamento social, 74% das micro, pequenas e microempreendedores individuais (MEIs) registram perdas, apurou sondagem feita pelo Sebrae-SC, a qual a reportagem teve acesso exclusivo.
Os setores mais afetados são moda, varejo tradicional, construção civil, alimentação fora do lar e beleza. O presidente do Sebrae-SC, Carlos Henrique Ramos Fonseca, avalia que estudar o impacto neste momento é o primeiro passo para enfrentar a crise.
Em meio aos setores que tiveram que parar de atender o público de um dia para outro estão os salões de beleza. Entre eles o negócio gerido por Mauro Izolani, no bairro Lagoa da Conceição, em Florianópolis. O empreendimento, que segue a Lei do Salão Parceiro, ficou sem faturar, juntamente com os oito profissionais parceiros, que são MEIs e recebem participação semanal.
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– Foi um choque. De um dia para outro a gente parou. Decidi usar recursos próprios para ajudar os meus parceiros neste primeiro mês, para que possam pagar despesas de alimentação e aluguel. Espero que logo possamos voltar a trabalhar – afirma o empresário, que tem cabeleireiros, manicures e outros profissionais atuam em conjunto como parceiros no negócio.
Por outro lado, há quem vê na crise a oportunidade de crescer. Bacharel em Educação Física, Claiton Reis passou a ministrar aulas virtuais logo que o isolamento foi adotado no Estado. Na segunda semana, procurou tecnologia para atender um maior número de pessoas virtualmente. Optou em dar aulas três vezes ao dia usando a plataforma Google Hangouts e está tendo êxito.
Começou a atuar na última quarta-feira, dia 25, e a adesão de alunos agradou. A primeira aula chegou para sete alunos. Podem participar 50 ao mesmo tempo. Reis, que tem como sócio o irmão Cleymarlons, diz que por enquanto está conseguindo manter o faturamento do estúdio de treinamento personalizado que tem em Lages.
– Tenho dúvidas se todos alunos vão continuar. Acho que no próximo mês a receita vai cair. Talvez eu tenha que definir outro preço para aulas apenas virtuais – avalia Reis.
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Comércio propõe retomada gradativa das atividades
Entidade que representa o comércio de bens e serviços no Estado, a Fecomércio-SC engloba os setores mais afetados pelo isolamento social frente ao coronavírus. O presidente da federação, Bruno Breithaupt, alerta que a maior preocupação das empresas é com a falta de dinheiro para pagar as contas que estão vencendo, de salários, aluguéis e outras.
Por isso, junto com Zulauf, da Facisc, e Ivan Tauffer, presidente da Federação das CDLs (FCDL-SC), enviou um ofício ao governo do Estado sugerindo flexibilização gradual do setor, com liberdade para vendas por e-commerce e abertura de alguns segmentos como automecânicas, lavanderias, materiais de construção, consertos de imóveis, imobiliárias e outros.
A maior preocupação hoje é com relação aos salários porque eles vencem no início de abril e, sem vendas, sem receber as prestações do crediário, a maioria das lojas não terá como pagar – alerta.
Breithaupt aponta que o país espera uma decisão do governo federal para ajudar a viabilizar esses pagamentos de salários.
– Todos os setores estão com problemas. Cabe ao governo injetar recursos para as empresas honrarem o pagamento de salários que, a meu ver, é sagrado – diz.
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Tecnologia frente ao coronavírus
Também impactado pela parada na economia em função do coronavírus, o setor de tecnologia de Santa Catarina busca alternativas para enfrentar a crise e também oferece soluções. A Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) elaborou um plano de ajuda aos associados com sete eixos para enfrentar os desafios do momento: financeiro; trabalhista; tributário; saúde mental & boas práticas; soluções tecnológicas; acesso a mercado; e renegociação com fornecedores.
O presidente da Acate, Daniel Leipnitz, informa que uma série de empresas catarinenses de tecnologia têm soluções para ajudar a prevenir ou combater o Covid-19. Segundo ele, a entidade vai buscar organizações para oferecer essas alternativas de Santa Catarina.
O empresário Marcos Brinhosa, vice-presidente da CDL de Florianópolis, diz que entre os mais amedrontados estão os lojistas de shoppings, porque esses empreendimentos ainda não sinalizaram com redução de aluguel e outras medidas para ajudar. Na avaliação de Brinhosa, este momento deveria motivar mais empatia e colaboração.
Fiesc defende retomada da construção civil
O decreto que determinou o isolamento social em Santa Catarina a partir de 19 de março também atingiu fortemente a atividade industrial, embora o setor não tenha sido incluído inicialmente entre os que deveriam parar. Enquanto produtores de alimentos e itens de saúde podem trabalhar com 100% da capacidade, outras indústrias podem atuar com até metade do número de trabalhadores. Mesmo assim, o impacto é grande, alerta o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar.
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– Tem muita indústria parada. É um ciclo. Como o comércio está paralisado, as pessoas estão em suas casas, as indústrias que estão no grupo das essenciais têm consumo, mas as de outros setores que não, num determinado momento também vão ter que paralisar – explica Aguiar.
Para o industrial, o setor da construção civil necessita retomar atividades por diversas razões.
– É um setor integrado por micro e pequenas empresas que não conseguem suportar sem atividade por todo esse período que está sendo colocado. O pessoal da construção civil é mais jovem, trabalha em espaços abertos, arejados. Como foram liberadas obras públicas, é importante as privadas também voltarem. Sem atividade, esse setor tem problema social seríssimo – alerta.
Em nível nacional, Aguiar avalia que o setor financeiro pode e deveria dar uma contribuição importante agora. Segundo ele, é um setor que encerra todos os anos com lucros bilionários e que, agora, poderia reduzir juros e facilitar o crédito para ajudar o país a sair da crise. Quanto à falta de solução do governo federal para ajudar as empresas a pagar salários, o presidente da Fiesc acredita que será encontrada uma solução.
Ao lado do setor de saúde, a produção de alimentos não pode parar. Com isso, a agropecuária catarinense segue produzindo normalmente, seguindo normas mais rígidas de segurança sanitária. O carro-chefe são as agroindústrias que atendem o mercado interno e exportam carnes de frango e suíno para mais de 120 países.
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A maior preocupação do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesc), José Zeferino Pedrozo, é com eventuais obstáculos à produção. Por isso a entidade fez apelo ao governo, sociedade e instituições de fiscalização que não criem obstáculos.
Se faltar comida, a situação, que é dramática, ficará caótica – pondera o dirigente.
Pedrozo apontando que não deve vai faltar oferta de alimento no Brasil, apesar da pandemia.
 
				