Desde que Marina Silva ingressou no PSB, há cerca de 10 meses, as saias justas são frequentes. Em entrevistas ou reuniões com empresários e produtores rurais, Eduardo Campos, o candidato morto em acidente aéreo, era questionado sobre as controversas opiniões de sua vice.
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E o ex-governador de Pernambuco, com bom trânsito nos segmentos, fazia de tudo para defender a companheira de chapa, reconhecida como ambientalista crítica ao agronegócio e como evangélica de posições conservadoras. A morte de Campos retirou o escudo que protegia Marina de novas polêmicas.
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A partir da formalização da candidatura à Presidência quarta-feira, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente passará a falar pela chapa que une o PSB e a Rede Sustentabilidade, partido que ela planeja criar. O PSB pressiona para Marina dar continuidade a compromissos assumidos por Campos, como as alianças em Estados, principal foco de tensão entre PSB e Rede.
– A Marina de 2010 era a candidata da ecologia, com uma agenda mais restrita, enquanto a Marina de 2014 ainda é uma incógnita. Ainda não sabemos quanto da agenda do PSB ela vai incorporar – diz o cientista político Rodrigo González, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para o cientista político Ricardo Antunes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marina vem, aos poucos, mudando o tom do discurso. Prova disso, segundo Antunes, foi a ex-ministra ter escolhido um empresário (Guilherme Leal, sócio na Natura) como vice nas eleições de 2010, o que demonstrou uma tentativa de aproximação com o setor.
– De líder ambiental combativa, Marina passou a defender a sustentabilidade “dentro da ordem” – avalia.
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Com a ausência de Campos, que conseguiu conciliar extremos em sua chapa, prossegue Antunes, a convivência até então “pacífica, mas não sem tensões” entre PSB e Rede poderá encontrar um terreno mais pedregoso.
A cabeça da candidata
Aborto: é contra, mas reconhece a existência de argumentos dos dois lados envolvendo a polêmica. Já afirmou que a decisão sobre o tema é de responsabilidade do Congresso e não da Presidência. Em 2010, propôs um plebiscito para discutir o assunto.
Alianças políticas: é crítica do fisiologismo e da prática de distribuição de cargos. Contra sua vontade, o PSB se aliou ao PT e ao PSDB em alguns Estados. Mas já falou em governar com os melhores quadros de PT, PMDB e PSDB e diz acreditar em alianças contruídas sobre ideias.
Agronegócio: contrariada com o desmatamento e a expansão da produção de grãos e da pecuária na Amazônia Legal, deixou o Ministério do Meio Ambiente em 2008, após cinco anos no cargo. Aponta descompasso entre o setor agropecuário e a sustentabilidade.
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Bolsa Família: em 2010, disse que o programa deve ser associado à inclusão produtiva, com profissionalização dos jovens e demais beneficiados. No lançamento da chapa, Campos falou em ampliar o número de famílias cadastradas.
Casamento gay: é contra o ato como sacramento, mas afirma ser a favor dos direitos civis dos homossexuais. Disse não ter opinião sobre a adoção de crianças por casais do mesmo sexo.
Código Florestal: após a aprovação, em 2012, afirmou que o texto representava um retrocesso. Para Marina, as mudanças anistiaram crimes ambientais e flexibilizaram as regras, com o objetivo de expandir as atividades produtivas na floresta.
Cotas raciais: é a favor por um período determinado. Para ela, o mecanismo é uma forma de garantir acesso a oportunidades historicamente negadas à população negra.
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Política econômica: controle de gastos públicos, independência do Banco Central e valorização do tripé macroeconômico (meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante) estão na agenda da ex-senadora. É favorável às concessões para obras de infraestrutura.
Leis trabalhistas: uma reforma da legislação deve dar competitividade ao produto nacional, estimular a criação de empregos e, ao mesmo tempo, assegurar aos trabalhadores a manutenção dos benefícios conquistados. Porém, reconhece que, para isso, é preciso “consenso”.
Células-tronco: declarou-se contrária a pesquisas com células-tronco embrionárias e diz que células-tronco de adultos podem ser usadas sem qualquer prejuízo aos resultados. Apesar disso, já afirmou que sua relação com a pesquisa científica é de “apoio e respeito total”.
Reforma política: defende o fim da reeleição e o mandato de cinco anos, para que “governos tenham compromissos duradouros com seus curtos prazos políticos”.
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Drogas: em 2010, defendeu um plebiscito para avaliar a descriminalização. Afirmou que faltava informação à sociedade, mas “continuar como está não é a solução”. No ano passado, disse que 70% dos fundadores da Rede Sustentabilidade eram favoráveis à legalização da maconha.