O ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus serão julgados por tentativa de golpe nesta terça-feira (2). O grupo, que vai examinar a denúncia, conta com cinco dos 11 ministros do Supremo, entre eles está Alexandre de Moraes, relator do caso e alvo de reclamação dos réus. As informações são da Folha de São Paulo.

Continua depois da publicidade

O tempo desde a abertura do processo contra Bolsonaro até a data de início do julgamento na terça-feira é de 144 dias. A reclamação dos advogados de defesa se concentra na dificuldade de analisar todo o material da investigação ao mesmo tempo que se analisam provas, além das sucessivas audiências de depoimentos das testemunhas e réus.

Veja fotos de Bolsonaro

“Foi impossível analisar todo o material apresentado em tempo hábil”, diz Matheus Milanez, advogado do ex-ministro Augusto Heleno. “Arquivos em tamanho absurdo, que os computadores de uso comum não conseguem nem baixar, sem nenhum índice ou explicação do que pode ser encontrado”, reclama.

Já a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro relata que foi “atropelada pela velocidade”, e a de Braga Neto reclama que, além do material, “sobrevieram atos de instrução quase diários, tornando impossível a análise efetiva no decorrer do tempo”.

Acesso às provas

Moraes negou acesso para as defesas dos réus sobre o material apreendido após a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). A autorização só veio após a abertura da ação penal. 

Continua depois da publicidade

O material foi repassado pela Polícia Federal a cinco dias do depoimento das testemunhas, com arquivos que somam 75 terabytes de informação.

A defesa de Bolsonaro, representada pelo advogado Celso Vilardi, diz em alegações finais que a forma como Moraes conduziu a ação penal limitou o exercício do contraditório e da ampla defesa. Um exemplo disso seria a negativa do Supremo para o pedido de adiamento do depoimento das testemunhas pela falta de tempo hábil para analisar as provas.

Moraes disse que a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) “não utilizou nenhum desses documentos, áudios, vídeos e mídias” do material bruto obtido pela Polícia Federal (PF). “Na verdade, nem são provas. São documentos que juntei aos autos, a pedido da defesa. Isso não pode atrapalhar a sequência da instrução”, disse.

A defesa de Bolsonaro diz ainda que ex-presidente viveu um “ambiente de massacre” com quase dois anos de vazamento dos processos. “Em reiteradas oportunidades foi afirmado e reafirmado [por Moraes] que a prova que importa é eleita pela acusação, o que é um sinal para o julgamento que se aproxima”, completa.

Continua depois da publicidade

Procurado, o gabinete do ministro não se manifestou.

Quem são os réus

O grupo que será julgado na terça-feira (2) faz parte de um dos núcleos acusados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de participação na tentativa de ruptura democrática. Os réus são chamados de “núcleo crucial” da organização criminosa.

Os membros do colegiado vão decidir se o grupo deve ser condenado ou absolvido das acusações e definir a pena de cada um, em caso de condenação.

Além de Bolsonaro, o processo penal também apura a conduta de outros sete acusados. São eles:

  • Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro.

Eles respondem pelos crimes de: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

O que diz a denúncia

A PGR apresentou a denúncia contra Bolsonaro e os aliados em fevereiro deste ano. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, disse na acusação que o ex-presidente liderou uma organização criminosa que praticou “atos lesivos” contra a ordem democrática e que estava baseada em um “projeto autoritário de poder”.

Continua depois da publicidade

Ainda conforme o procurador, partiu do “núcleo crucial” as primeiras decisões e ações para tentar impedir a mudança de governo. Além de Bolsonaro, também fazia parte desse núcleo o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que atuava como “porta-voz” do ex-presidente e transmitia “orientações aos demais membros do grupo”.

Por fim, a PGR aponta que a organização estava enraizada na própria estrutura do Estado e “com forte influência de setores militares”, e conta com uma ordem hierárquica e divisão de tarefas preponderantes entre os integrantes.

Leia mais

Saiba quais as provas reunidas contra Bolsonaro para julgamento de tentativa de golpe

Brasil pode sofrer novas sanções dos EUA com julgamento de Bolsonaro, projeta governo

Entenda por que só parte dos ministros de STF vão julgar Bolsonaro por tentativa de golpe