Levantar da cama com temperaturas congelantes, principalmente pela manhã, não é fácil, mas essa é a realidade que muitos catarinenses precisam enfrentar durante o inverno, entre junho e setembro. Porém, para além do desconforto físico, com o frio intenso também vêm os impactos emocionais, como a chamada depressão sazonal. Além disso, nessa época, a procura por atendimento psicológico ou psiquiátrico também tende a diminuir em Santa Catarina, segundo especialistas.
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Sentimentos de tristeza, desânimo, irritação ou ansiedade são sintomas comuns derivados de uma combinação de fatores biológicos e comportamentais, conforme afirma o psiquiatra Matheus Steglich, que é diretor técnico do Instituto São José, especializado em atendimento voltado à saúde mental em Santa Catarina. De acordo com ele, o isolamento social, seja por conta do frio ou por outros motivos, tem um impacto significativo no bem-estar emocional.
— A diminuição da exposição à luz solar, que é comum no inverno, também pode interferir em sinalizações hormonais do ciclo sono-despertar (ciclo circadiano) — afirma o médico, em referência ao ciclo natural de 24 horas, que tem como objetivo a regulação dos processos físicos, mentais e comportamentais de um organismo, como o sono.
De acordo com o psiquiatra, essa combinação de isolamento e menor exposição à luz pode desencadear ou agravar quadros como o Transtorno Afetivo Sazonal, também chamado de depressão sazonal, um tipo de depressão ligada às mudanças de estação. Os sintomas vão desde tristeza e falta de energia, até a perda de interesse na rotina. No Brasil, ainda não há dados que estimam quantas pessoas são afetadas pela depressão sazonal.
Grupos mais vulneráveis
Segundo o médico, alguns grupos são mais suscetíveis a esses efeitos negativos que vêm com o frio, como os idosos, jovens e adolescentes, e pessoas com histórico de transtornos mentais.
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Steglich explica que as pessoas mais velhas frequentemente já lidam com a solidão e podem se sentir ainda mais isolados durante o inverno, já que se locomovem menos e recebem menos visitas. Já os jovens podem acabar se isolando neste período, o que pode “interromper o processo natural de busca por identidade e socialização, levando a sintomas depressivos ou agravando a ansiedade”.
Pessoas que já enfrentaram depressão, ansiedade ou outros transtornos também possuem um risco mais de piora dos sintomas neste período, de acordo com o especialista.
Diminuição na procura de atendimento psiquiátrico
Steglich também afirma que, no Instituto São José, há uma queda de 15% a 20% nos atendimentos de pronto-atendimento psiquiátrico durante os meses mais frios, em comparação com estações com dias de temperaturas mais elevadas.
Os motivos são variados, como a dificuldade de locomoção, já que o frio, a chuva e as doenças respiratórias típicas do inverno tornam a ida a consultórios e hospitais mais difícil.
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— As pessoas tendem a adiar consultas e tratamentos que não consideram urgentes. A saúde mental, infelizmente, muitas vezes entra nessa categoria. Além disso, as pessoas tendem a priorizar questões mais imediatas, como os cuidados com a saúde física, no caso de gripes e resfriados, e o orçamento familiar, já que as despesas com energia e vestuário aumentam — afirma.
Ele alerta, inclusive, que a queda na procura pelo atendimento não significa uma queda real nas doenças.
— O que vemos é um adiamento de tratamentos, o que pode levar a um acúmulo de casos mais graves e complicados para o início da primavera — diz.
Como garantir que as pessoas continuem buscando cuidados
O especialista afirma que é necessário realizar campanhas de conscientização que reforcem a importância de cuidar da saúde mental no inverno. Além disso, a telemedicina também tem sido uma alternativa para quem não quer sair de casa, mas quer continuar cuidando da saúde mental.
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— Em Santa Catarina, ela foi muito utilizada durante a pandemia e hoje é uma ferramenta consolidada. Muitos profissionais e clínicas a adotaram de forma permanente, o que é ótimo para a continuidade dos tratamentos, especialmente para quem vive em regiões mais afastadas ou tem dificuldade de locomoção.
A telemedicina no Brasil é regulamentada pela Lei nº 14.510/2022 e pela Resolução CFM nº 2.314/2022, que estabelecem a utilização de tecnologias da informação e comunicação para a prestação de serviços de saúde a distância.
Em Florianópolis, por exemplo, foi implementado o Alô Saúde Floripa, um serviço de orientação, atendimento pré-clínico e informação em saúde por telefone, videochamada ou chat. O atendimento pode ser feito 24 horas por dia, com ligações gratuitas.
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