Foi em 1973, no Abraão, bairro localizado na parte continental de Florianópolis, que o “seu Ori” fundou a Mercearia Ori. Quando começou, o boteco era 100% “raiz”, somente com o essencial: cerveja e alguns petiscos — até sem salgados, para não atrapalhar a concorrência de um bar vizinho, que pertencia a um amigo do fundador. Ori teve dois filhos: Alex Bernardo e Odorico Bernardo Neto, que já “nasceram atrás do balcão”, segundo eles.
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Atualmente, são os dois que tocam o bar, que já se tornou um queridinho da Ilha. São seis bares, para além do original, do Abrãao, nos bairros Santa Mônica, Centro, Kobrasol, Pedra Branca, Biguaçu e Campeche.
A ideia de expandir o bar veio por acaso, em 2019, de um conhecido que a sugeriu ao irmão mais velho, Alex, atualmente com 48 anos. Na ocasião, ele brincou:
— Ele disse: “‘pô’, vocês nunca pensaram em expandir o Ori?”, e eu disse: “Do jeito que está, é mais fácil eu fechar do que expandir” — conta, em meio à risadas.
O bar já fazia sucesso, mas Alex relata que os dois estavam cansados por terem começado muito cedo a ajudar o pai com o negócio — o mais velho aos sete anos e o mais novo aos 10.
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— Mesmo assim, fizemos uma reunião. Aí surgiu a ideia da Pedra Branca, fizemos um projeto grande, mas aí veio a pandemia e não assinamos. Se a gente tivesse assinado, estaríamos quebrados. No pós-pandemia, a gente foi atrás de um ponto de novo, e “pintou” aquele na esquina na mesma região. Aí compramos — conta Alex.
Em seguida, vieram as outras cinco filiais. Com mais de 300 mil visitantes todos os meses, até o fim do ano, o Ori deve ter ainda mais duas unidades em Florianópolis, estima o irmão mais velho.
Criação do “seu Ori”, bar vende 1 milhão de almôndegas todo ano
As famosas almôndegas, atuais carros-chefe da casa, foram criadas pelo seu Ori. Quando o dono do bar concorrente morreu, a Mercearia Ori passou a vender salgados. Nesta época, ao sentir que “faltava alguma coisa” no cardápio, ele surgiu com a receita.
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— Eu comprei uma “estufinha” com quatro bandeijinhas para os salgados, a nossa mãe acordava e sempre fazia a garrafa térmica com um café e nós vínhamos cedinho. Aí faltava o quê? Uma almôndega. O pai pegou e fez a receita, e ficou boa. Antigamente, a gente comprava 20 quilos de carne moída por mês. Hoje, a gente compra, por mês, oito toneladas. A gente vende, por ano, mais de 1 milhão de almôndegas — diz Alex.
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O bar foi criando forma, muitas vezes com ajuda de vizinhos do conhecido “beco da igreja”, onde eles moravam no Abraão. A mãe, Oscarina Delza Bernardo, carinhosamente apelidada de “Carina” ou “Cacá” pelos moradores do bairro, também ajudou muito no comércio, segundo os irmãos.
— Às vezes, o bar abria com ajuda dos próprios clientes, dos vizinhos, que ajudavam a montar as mesas, porque antigamente era só uma porta — relembra o mais velho.
Depois de um tempo, o seu Ori ficou doente e sentou com os filhos para uma conversa que marcou os dois irmãos.
— Foi uma conversa mais ou menos nesse tom: “olha, o pai está doente, não pode mais ficar todo dia aqui, vocês arrumam um trabalho fora. O pai vende isso aqui e está tudo certo”. E a mãe queria que a gente estudasse para trabalhar no banco — conta Odorico, irmão mais novo que recebeu o nome como uma homenagem ao avô.
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Contrários à decisão dos dois genitores, após o pai se aposentar, os irmãos resolveram assumir. Na época, o mais velho tinha cerca de 19 anos e o mais novo 15. Um tempo depois, aos 57 anos, o pai faleceu e deixou o negócio para os dois.
— Chegou uma hora que foi automático [assumir o negócio], mas também foi meio que um chacoalhão, ou vai ou não vai — diz Alex.
Na época, haviam somente duas fritadeiras no bar, sem cozinheiros. Os dois irmãos, por um bom tempo, ficavam na cozinha e no balcão, botando as almôndegas para fritar, marcando o tempo e correndo para o balcão atender. E aos poucos o Ori foi crescendo, e se tornou o que é hoje: uma potência 100% manezinha, e com uma história 100% familiar.
— A gente espera que hoje, onde o pai esteja, esteja feliz. O Ori carrega o nome dele, não o meu, do meu irmão, é dele. E para nós isso é um orgulho, uma satifação. Espero que ele esteja feliz com o reconhecimento que ele está tendo na cidade — diz Odorico.
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Veja fotos da história do bar
*Sob supervisão de Giovanna Pacheco
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