A dona da clínica que causou necrose em modelo após procedimento estético foi indiciada por cinco crimes. A vítima foi Karim Kamada, de 51 anos, que fez uma intervenção com caneta pressurizada com enzimas, entretanto, após o serviço prestado pelo estabelecimento, teve diversas sequelas. O serviço foi realizado em uma clínica de Jaraguá do Sul em maio deste ano.

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Desde que fez a intervenção estética, Karim sofre com diversos sintomas, entre eles dores intensas, vermelhidão, inflamação, nódulos, febre alta, celulite infecciosa e até necrose. Após denúncia, a clínica foi fiscalizada e interditada. Entretanto, o espaço foi reaberto pela proprietária, mesmo sem autorização.

A partir de investigação da Polícia Civil, coleta de provas e depoimentos, a dona da clínica foi indiciada por cinco crimes. De acordo com o delegado Luiz Carlos Gross, ela pode responder por estelionato, lesão corporal gravíssima, exercício ilegal de profissão, crime contra relação de consumo, desobediência e desacato em relação a fiscalização da Vigilância Sanitária. Se todas as teses forem acolhidas na denúncia do Ministério Público, a indiciada pode pegar até cerca de 14 anos de prisão após julgamento.

Modelo perde trabalhos após procedimento estético causar necrose em Jaraguá do Sul

Relembre o caso

O que era para ser um procedimento estético simples, com o objetivo de reduzir celulite e gordura localizada nos glúteos e pernas, acabou sendo um pesadelo para a modelo Karim Kamada, de 51 anos. A moradora de Jaraguá do Sul teve parte do corpo necrosado após o procedimento que, supostamente, era feito com caneta pressurizada com enzima. As informações são do g1.

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Karim fez a intervenção estética em maio deste ano e, desde então, sofre com diversos sintomas, entre eles dores intensas, vermelhidão, inflamação, nódulos, febre alta, celulite infecciosa e até necrose. Após denúncia, a clínica foi fiscalizada e interditada.

— Optei por um procedimento estético com caneta pressurizada com enzimas, vendido como seguro e sem riscos — contou Karim ao g1.

A modelo conta que encontrou a clínica de Vanderléia de Fátima Andrade Santos, de 46 anos, por meio de um anúncio na internet. 

— Após algumas sessões, começaram a surgir dores intensas, vermelhidão e febre local. Mesmo relatando os sintomas, a profissional afirmava que era normal — relatou a modelo. Inclusive, este seria o motivo para Karim ter demorado a procurar ajuda médica.

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Com o passar do tempo, entretanto, os sintomas evoluíram, chegando a se formar um abscesso necrosado. A modelo chegou a passar por duas cirurgias e ainda faz acompanhamento médico para verificar a evolução das sequelas.

— São três meses que a minha vida parou. E tem todo o fator psicológico — desabafou a modelo.

Clínica foi interditada após denúncia da modelo

A clínica onde Karim fez o procedimento estético com caneta pressurizada com enzimas foi denunciada por ela à Vigilância Sanitária de Jaraguá do Sul. 

O local foi vistoriado pela primeira vez no fim de julho, quando o órgão constatou irregularidades como ausência de documentação obrigatória para o funcionamento da atividade de estética. Entre esses documentos, estava a falta de alvará sanitário. Na época, a clínica foi interditada.

Ainda assim, em setembro, uma nova denúncia indicava que o estabelecimento ainda estaria funcionando. A Vigilância Sanitária voltou ao local, desta vez com a Polícia Militar, e aplicou um auto de infração.

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Segundo informações do g1, um processo administrativo sanitário será instaurado, o que pode acarretar sanções como pagamento de multa, por exemplo.

O g1 também informou que tenta contato com Vanderléia de Fátima Andrade Santos, de 46 anos, responsável pela clínica, desde a segunda-feira (28), mas que ainda não obteve retorno.

O que é caneta pressurizada com enzimas, procedimento estético feito pela modelo

Mariana Sens, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Santa Catarina, detalhou ao g1 que a caneta pressurizada com enzimas empurra substâncias pela pele a partir da pressão, sem agulha.

— Ela não permite controle preciso de dose, profundidade ou local de depósito, requisitos essenciais em procedimentos injetáveis — comentou.

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Além disso, explicou que o termo “enzimas” costuma englobar coquetéis para gordura localizada, muitas vezes incluindo ácido deoxicólico e até outras misturas manipuladas.

— Esses agentes devem ser aplicados por médico, em plano subcutâneo, com técnica padronizada, produto regularizado e ambiente com suporte a complicações. O uso superficial ou em plano inadequado pode causar ulcerações e necrose — afirmou.

Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), na intradermoterapia é feita a aplicação de “substância com efeitos medicinais diretamente na derme ou hipoderme”, informou o g1. 

A técnica exige aplicação de medicamento, conhecimento técnico e responsabilidade civil, legal, penal e ética sobre o procedimento e, portanto, só deveria ser realizado por médicos. Além disso, informou que a aplicação pode ser considerada exercício ilegal da medicina e também representa riscos.

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