A modelo Karim Kamada, de 51 anos, afirma que perdeu trabalhos após realizar um procedimento estético que causou lesões graves, inclusive necrose, no glúteo e nas coxas. A clínica, em Jaraguá do Sul, não teria dado suporte para a paciente e o caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

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Karim fez a intervenção estética em maio deste ano e, desde então, sofre com diversos sintomas, entre eles dores intensas, vermelhidão, inflamação, nódulos, febre alta, celulite infecciosa e até necrose.

O procedimento estético feito por Karim envolveu caneta pressurizada com enzimas e foi realizado justamente para que a profissional pudesse atuar como modelo. Porém, devido às marcas deixadas pela intervenção, ela teria perdido oportunidades.

— Eu já parei de fazer os testes porque eu não tenho ainda uma previsão correta de quando eu estarei bem — contou Karim ao g1.

A modelo conta que encontrou a clínica, que pertence à Vanderléia de Fátima Andrade Santos, de 46 anos, por meio de um anúncio na internet. 

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— Após algumas sessões, começaram a surgir dores intensas, vermelhidão e febre local. Mesmo relatando os sintomas, a profissional afirmava que era normal — relatou a modelo. Inclusive, este seria o motivo para Karim ter demorado a procurar ajuda médica.

A clínica onde Karim fez o procedimento estético com caneta pressurizada com enzimas foi denunciada por ela à Vigilância Sanitária de Jaraguá do Sul. 

O local foi vistoriado pela primeira vez no fim de julho, quando o órgão constatou irregularidades como ausência de documentação obrigatória para o funcionamento da atividade de estética. Entre esses documentos, estava a falta de alvará sanitário. Na época, a clínica foi interditada.

Ainda assim, em setembro, uma nova denúncia indicava que o estabelecimento ainda estaria funcionando. A Vigilância Sanitária voltou ao local, desta vez com a Polícia Militar, e aplicou um auto de infração.

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Dores e dificuldade para dormir

Karim ainda contou ao g1 que continua sentindo dores mesmo cinco meses após o procedimento.

— Em muitos momentos, eu tive que ficar com a cabeça reta na cama e o corpo também começava a doer — conta.

Além disso, a modelo tem sofrido com questões psicológicas e dificuldade para dormir.

— Tive crise de pânico porque uma das minhas cirurgias estava coagulando e começou a ficar latente. Isso me remeteu ao início dos processos em que houve a necrose. Então, quando dormia, sonhava que estava morrendo e não conseguia dormir — relata Karim.

Investigação

Ao NSC Total, o delegado Eric Uratani, de Jaraguá do Sul, informou que a vítima registrou um boletim de ocorrência e, a partir disso, a Polícia Civil passou a investigar o caso e um inquérito policial foi aberto. Os próximos passos, segundo o delegado Uratani, consiste em ouvir todos os envolvidos, incluindo vítima, a técnica responsável e possíveis testemunhas.

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O delegado também contou ao g1 que um exame de corpo delito já foi realizado e constatada a lesão de Karim.

— Já foi realizado o primeiro exame de corpo de delito, mas, com o decorrer do tempo, serão realizados novos exames para se verificar se a lesão é apenas leve ou se pode caracterizar uma lesão grave ou gravíssima — explica.

Uratani ainda revelou que não há outras denúncias até o momento, mas aconselha que pessoas que se sentiram lesadas procurem a  Polícia Civil.

O que é caneta pressurizada com enzimas, procedimento estético feito pela modelo

Mariana Sens, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Santa Catarina, detalhou ao g1 que a caneta pressurizada com enzimas empurra substâncias pela pele a partir da pressão, sem agulha.

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— Ela não permite controle preciso de dose, profundidade ou local de depósito, requisitos essenciais em procedimentos injetáveis — comentou.

Além disso, explicou que o termo “enzimas” costuma englobar coquetéis para gordura localizada, muitas vezes incluindo ácido deoxicólico e até outras misturas manipuladas.

— Esses agentes devem ser aplicados por médico, em plano subcutâneo, com técnica padronizada, produto regularizado e ambiente com suporte a complicações. O uso superficial ou em plano inadequado pode causar ulcerações e necrose — afirmou.

Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), na intradermoterapia é feita a aplicação de “substância com efeitos medicinais diretamente na derme ou hipoderme”, informou o g1. 

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A técnica exige aplicação de medicamento, conhecimento técnico e responsabilidade civil, legal, penal e ética sobre o procedimento e, portanto, só deveria ser realizado por médicos. Além disso, informou que a aplicação pode ser considerada exercício ilegal da medicina e também representa riscos.

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