Ambientado na pacata Enseada dos Anjos, uma cidade fictícia no litoral de Santa Catarina, o livro “O Clube do Pesadelo” mergulha em mistérios quando uma jovem se muda para a cidade e descobre uma maldição que aterroriza a região. Escrito à quatro mãos pela catarinense Bianca da Silva e pela paulista Denise Flaibam, o livro chegou às livrarias de todo o país no final de maio.

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A obra, que mistura toques de “Stranger Things” e “Ordem Paranormal”, mergulha na cultura dos anos 90 e explora um submundo sombrio onde os pesadelos ganham vida. O livro narra a história de Dominique, uma jovem de São Paulo que se muda para a Enseada dos Anjos em outubro de 1999. A protagonista, inicialmente deslocada em sua nova escola, é convocada para aulas de reforço, onde conhece um grupo de alunos. 

É nesse contexto que ela descobre sobre uma suposta maldição que assombra a cidade: todo ano, no mês de outubro, uma pessoa entra em coma, um mês depois, morre. A maldição desperta a curiosidade da jovem e ela fica determinada a investigar os mistérios.

Com a ajuda de seus novos amigos, Johnny, o roqueiro rebelde; Angélica, a atleta por quem Dominique desenvolve uma atração; Fábio, um garoto assombrado pelo luto; e Mabê, a patricinha com um segredo peculiar, Dominique se aprofunda na investigação, desvendando pistas e enfrentando perigos crescentes. A trama se intensifica quando duas pessoas entram em coma, forçando o grupo a se unir para combater as sombras que se espalham pela escola e os pesadelos que invadem suas noites.

Mistura de três cidades de SC

A construção do cenário de “O Clube do Pesadelo” é um dos pontos altos da narrativa, e a cidade fictícia de Enseada dos Anjos carrega consigo a essência de lugares reais que marcaram a infância de Bianca da Silva. 

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— Eu juntei todos os lugares da minha infância para criar essa cidade— revela a autora. 

A inspiração veio da região da Barra Velha, no Norte de Santa Catarina, onde suas tias tinham casas de praia e a família passava muitos verões. Além disso, elementos do interior de São João Batista, cidade natal dos avós da autora, localizada na Grande Florianópolis, e um pouco de Blumenau, no Vale do Itajaí, foram incorporados para criar o cenário de Enseada dos Anjos. Essa mistura buscou trazer uma sensação de nostalgia e ambientar a história de uma forma que os leitores automaticamente identificassem que voltaram aos anos 1990.

A pesquisa para a ambientação foi meticulosa tanto em características dos locais assim como de objetos que remetem aos anos em que a história se passa, abrangendo desde acessórios icônicos da época, como o anel do humor que Dominique usa, até lendas urbanas e referências culturais que remetem aos anos 1990 e início dos anos 2000, como o E.T. de Varginha e a lenda da boneca possuída da Xuxa. 

— Pesquisamos muito, desde o que teria dentro da casa de uma família muito rica até como que seria o calçamento e as grades daquela época. E foi muito nostálgico para nós duas— relembre Denise. 

Arquétipos populares e um romance queer

Além da pesquisa para ambientação, “O Clube do Pesadelo” também mergulha em diversas referências do terror e da cultura pop. O monstro que aterroriza a Enseada dos Anjos é uma homenagem a figuras icônicas como Freddy Krueger, de “A Hora do Pesadelo”, e Vecna, de “Stranger Things”, mas com uma identidade própria e original. As autoras também buscaram inspiração em “Goosebumps”, de R.L. Stine, e até mesmo na personagem Carrie, resultando na criação de Mabê, personagem com poderes paranormais sem muita explicação, que contribuem para a aventura.

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Já os personagens do grupo de amigos foram construídos a partir de arquétipos clássicos de filmes da “Sessão da Tarde” e “Clube dos Cinco”. A intenção, no entanto, era desconstruir essas figuras ao longo da narrativa: a patricinha Mabê, com segredos obscuros e gostos musicais peculiares; a nerd desajeitada, que na verdade é mais impulsiva do que inteligente, comparada ao Scooby-Doo por Denise. 

— Acabamos criando a turma do Scooby-Doo sem querer— brinca.

O livro, voltado para o público leitor a partir dos 14 anos, também aborda temas como amizade e a superação do mal, mas com uma dose de humor e cultura brasileira. O romance, embora não seja o foco principal, é uma parte “inevitável” das histórias das autoras.

— Por mais que a nossa história não seja focada no romance, ele vai estar ali— afirma Bianca. 

Em “O Clube do Pesadelo”, a história de amor entre Dominique e Angélica se destaca. As autoras queriam trazer essa representatividade de um romance entre garotas, mas de forma natural e feliz, considerando o contexto dos anos 90. 

— Queríamos que fosse natural, que as pessoas, principalmente meninas sáficas, lessem e não se sentissem mal, não se sentissem angustiadas, não vissem uma violência a respeito disso— explica Bianca. 

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Amizade de 15 anos impulsionou a criação da obra

A colaboração entre Bianca e Denise é o coração de “O Clube do Pesadelo”. As autoras se conheceram há 15 anos através de fanfics, com Denise se apaixonando por uma fanfic de Game of Thrones escrita por Bianca. A amizade, assim como a familiaridade com a escrita uma da outra, tornaram o processo de escrita a quatro mãos, natural para as duas, ajudando a uniformizar o texto e tornando difícil para o leitor distinguir quem escreveu o quê.

— Sempre tivemos muito envolvidas com a escrita uma da outra, e nos ajudamos e apoiamos muito — pontua Denise, que descreve que o texto virou uma “amálgama” das duas.

As autoras Bianca da Silva (esquerda) e Denise Flaibam (direita) são amigas há quase 15 anos (Foto: Divulgação)

A criação do livro partiu da ideia de fanfic inspirada em um personagem da quarta temporada de “Stranger Things”. A intenção inicial era reescrever o destino de Eddie, personagem da série, mas a história começou a adquirir tantos elementos originais e o personagem se distanciou tanto do original que a dupla decidiu transformá-la em uma obra autoral, ambientando-a no Brasil dos anos 1990. 

— Marinamos tanto “O Clube do Pesadelo” que quando sentamos para escrever, foi de um domingo a um domingo e o livro estava pronto— conta a paulista.

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Bianca e Denise já publicaram outros livros, tanto sendo as únicas autoras, como em conjunto, como “As Bruxas de Lugar Nenhum”. Contudo, “O Clube do Pesadelo” é o primeiro publicado de forma tradicional. A publicação do livro começou com um tweet da editora de aquisição da Rocco, editora de grandes nomes do terror como Guillermo del Toro e Anne Rice, procurando um terror juvenil. As autoras viram nisso uma oportunidade e se debruçaram sobre a história.

O processo entre a finalização do livro e a aquisição dos direitos pela Rocco foi rápido. 

— Passamos mais de dez anos curando e construindo uma carreira e em três meses tudo andou. As coisas aconteceram como tinham que ser, tudo se alinhou— diz Bianca.

—Sempre estivemos uma do lado da outra e para começar na publicação tradicional, tinha que ser nós duas juntas— finaliza Denise. 

Antonietas

Antonietas é um movimento da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.  

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