O livro infantil “Lava, lavadeira na pedra da cachoeira” foi indicado ao Prêmio de Afroliteratura Infantojuvenil “Erê Dendê”. A obra é assinada pela autora catarinense, Priscila Freitas. A premiação visa estimular e valorizar obras literárias infantojuvenis que abordam a cultura e a história dos povos de terreiro e comunidades tradicionais de matriz africana.

Continua depois da publicidade

O livro concorre com outras 82 histórias por votação popular que ocorre até o dia 6 de julho. O resultado preliminar será divulgado junto com as obras premiadas, no dia 15 de julho, no site e nas redes sociais da premiação.

Ao NSC Total, a autora revelou que essa é a primeira vez que concorre a um prêmio. Aos 40 anos e nascida em Florianópolis, Priscila cresceu na comunidade do Monte Serrat, no Maciço do Morro da Cruz. Foi lá que começou a se interessar por histórias.

— Tenho um grande apreço por esse livro que presta homenagem as lavadeiras da comunidade do Monte Serrat. Especialmente as que fazem parte da minha vida, como a minha avó, que tanto fez e faz pelos netos e filhos. Concorrer a esse prêmio é mostrar a negritude de Santa Catarina e pensar que essa história pode ter visibilidade — diz a autora.

O livro escrito por Priscila conta a história de uma menininha negra, muito “curiosa e sapeca”, que, após encontrar uma pedra “que brilha como um tesouro”, busca descobrir a fonte desse “tesouro” e, quando chega, vê o lugar, que era cuidado pelas lavadeiras, “gritando por ajuda”. A menina, então, mobiliza a comunidade em que vive para limpar o local, que volta a ser novamente um lugar vivo, de convívio social.

Continua depois da publicidade

A história de resistência das mulheres negras de Florianópolis passa também pela mãos das lavadeiras. Elas foram retiradas do Centro da Capital ainda no início do século 20. Metade delas se estabeleceu no Monte Serrat, o Morro da Caixa. O local, repleto de nascentes, serviu de sustento para muitas famílias, que em sua maioria eram chefiadas por mulheres.

— As lavadeiras têm algo importante pra mim. A minha avó foi uma das lavadeiras da comunidade. Eu falo muito pras pessoas é que tem todo um tempo de amadurecimento de quando se é jovem. Tem uma palavra que é muito bacana, é sankofa [de origem africana]. Significa olhar para o passado e refletir para o futuro. Então, é voltar a essa minha ancestralidade que, pra mim, eu não tinha conhecimento. Já tinha ouvido falar, mas não tinha dado tanta importância. E aí, com tantos outros projetos que a gente foi fazendo na comunidade, eu fui pensando, poxa, tá na hora de eu falar sobre elas — conta a autora.

Priscila Freitas afirma que a história é importante para valorizar o papel social dessas mulheres na comunidade para que outras possam conhecê-las e contar suas próprias histórias.

Prêmio Erê Dendê

A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em parceria com o Ministério da Igualdade Racial (MIR), lançou o Prêmio Nacional de Afroliteratura Infantojuvenil “Erê Dendê”. O edital premia obras literárias infantojuvenis de todo o Brasil que promovem, valorizem e preservem as tradições, conhecimentos e a diversidade cultural dos povos e comunidades tradicionais de terreiro e de matriz africana.

Continua depois da publicidade

São, ao todo, 10 prêmios. Na categoria Júri Oficial, uma comissão julgadora especialmente designada para a premiação seleciona, entre as inscritas, nove obras contempladas. Já na categoria Júri Popular, o público pode eleger o décimo premiado através do voto online.

Antonietas

Antonietas é um movimento da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.  

*Sob supervisão de Luana Amorim

Leia também

“Fios de Ferro e Sal”: a literatura fantástica que resgata mitos, religiosidade e a força do coletivo

Ferramentas de IA podem falhar em checagens e buscas. Entenda por quê