Ainda que tenha lutado bravamente para sobreviver desde o momento em que veio ao mundo com apenas 635 gramas, a pequena Marcela nunca esteve sozinha. Pelos corredores do mesmo hospital de Florianópolis em que nasceu, a mãe Marina Machado seguia observando cada melhora da bebê prematura que permaneceu internada por 87 dias. O primeiro colo, por exemplo, a menina só foi receber dois meses após o parto, quando ainda precisava de acompanhamento médico.

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Bastou, no entanto, um único contato para que a conexão entre mãe e filha fosse imediata. A partir daí, não restou dúvidas de que a garotinha com pouco mais de meio quilo finalmente iria se recuperar e ir para casa. Era por isso que a família tanto esperava desde o dia 6 de julho de 2013, afinal.

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A trajetória até que esse momento ocorresse, porém, não foi simples. Mesmo 10 anos depois, Marina ainda recorda do dia em que precisou ir ao Hospital Universitário, grávida de 24 semanas. Ela iniciava o sexto mês de gestação e teve de entrar em trabalho de parto porque estava com incompetência istmocervical — quando não consegue segurar a gravidez por causa de uma abertura indolor no colo do útero.

A pequena Marcela nasceu com apenas 635 gramas e 31 centímetros. Assim que chegou ao mundo, já teve de enfrentar duas paradas cardiorrespiratórias, antes mesmo de sentir o abraço ou toque da mãe.

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Ela foi levada à UTI Neonatal, enquanto Marina teve de ficar em uma sala separada, com outras mulheres, para se recuperar do parto.

Marcela nasceu em 6 de julho de 2013 (Foto: Arquivo pessoal)

— Só que tu vai sem teu bebê, porque ele tá lá na UTI Neonatal. Então esse processo é meio ruim. Você vê as mães ali, cada uma com o seu filho, e o teu não está lá, não se sabe o que vai acontecer — relembra.

Cerca de três dias depois, Marina recebeu alta do hospital, mas o quadro da pequena Marcela preocupava a mãe de primeira viagem. Isso porque a bebê perdeu ainda mais peso após o nascimento e chegou aos 530 gramas pouco tempo depois. Com apenas 20 dias de vida, a menina ainda precisou fazer uma cirurgia cardíaca, que causou complicações à saúde frágil dela.

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A criança ficou intubada por um mês. Foram ao menos oito transfusões sanguíneas, além do surgimento da Retinopatia da Prematuridade, que quase fez com que Marcela perdesse a visão.

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Só que a menina parecia não estar nem um pouco disposta a desistir de si mesma. Muito menos a mãe.

— Sempre foi muito de confiar nela e entender os sinais, o que ela estava querendo transmitir para a gente. Porque, se eu visse que ela não estava indo bem, que ela estava sofrendo, ou alguma coisa nesse sentido, eu ia ver o que era possível fazer para que ela ficasse bem. Mas, eu sempre vi muito esforço da parte dela, que ela realmente queria sobreviver, queria estar ali. Ela queria ir para frente e nos mostrava isso de alguma forma — conta.

A menina ficou 87 dias no hospital (Foto: Arquivo pessoal)

O primeiro “chamego” de mãe para filha

Ainda que não precisasse mais estar no hospital, Marina não conseguia ficar longe da própria filha, que seguia lutando pela vida. Todos os dias a mãe visitava a menina e memorizava cada grama que Marcela ganhava, de pouquinho em pouquinho.

Quando finalmente pôde ter a criança nos braços pela primeira vez, já havia se passado dois meses. A conexão entre as duas, no entanto, foi imediata e a melhora da menina foi ficando ainda mais perceptível a partir daquele momento. Era como se Marcela tivesse encontrado no chamego da mãe a motivação necessária para se recuperar e voltar para casa.

Marina com a filha (Foto: Arquivo pessoal)

— Foi uma das coisas que eu notei muita diferença. Depois que a gente começou a fazer esse contato pele a pele, ela teve uma evolução absurda. A partir dali ela ganhava cinco, 10 gramas. Passou a pegar peso bem mais rápido quando a gente ficou mais tempo com ela, porque aí também diminui um pouco o esforço dela, de não esquecer de respirar, enfim. Tudo ajuda com esse processo — reforça Marina.

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Depois de 87 dias internada, Marcela finalmente foi para casa, pesando 2,7 quilogramas e medindo 36 centímetros. A mãe comenta que, somente hoje, após 10 anos, se dá conta de como foi difícil passar por esse momento e se manter forte.

À época, nem sequer notou o quão exausta ficou física e emocionalmente. A única preocupação era com a melhora da filha, ainda que outras pessoas a alertassem quanto ao cuidado por conta das expectativas que alimentava, já que o estado da menina era delicado.

Mãe ficou com a filha no Hospital Universitário de Florianópolis (Foto: Arquivo pessoal)

Marina, porém, nunca saiu do lado de Marcela.

— Afinal, se aconteceu de ela vir nesse período, eu estaria ali em qualquer momento que ela precisasse — comenta.

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O aprendizado enquanto mãe de bebê prematuro

Em 2023, Marcela completou uma década de vida. Aos sete anos de idade chegou a descobrir que tinha baixa visão por conta da Retinopatia da Prematuridade, mas, após um tratamento intenso, conseguiu recuperá-la em 90%.

De olhos azuis, a menina cresce saudável e sem qualquer sequela do nascimento antes do previsto. Para Marina, que hoje tem 36 anos, a garotinha foi uma verdadeira guerreira desde o momento em que chegou ao mundo.

E, das muitas lições que a mãe tirou dessa experiência, uma delas ela faz questão de frisar sempre que recorda do nascimento da filha.

— Como mãe de prematura, eu penso que a gente deve sempre confiar neles, não desistir. Porque, quando se está no processo, não parece que é tão difícil. Só depois que tudo passa, que tu começa a rever e a entender. E, apesar de ser uma luta, a gente precisa acreditar que eles vão conseguir — finaliza.

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*Sob supervisão de Augusto Ittner

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