A ligação entre o magnata Jeffrey Epstein e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a ser foco de questionamentos na última quarta-feira (12), após novos arquivos da investigação sobre abuso sexual de menores e tráfico humano envolvendo o bilionário serem divulgados. Em e-mails, o abusador sexual mencionou que Trump “passou horas” em sua casa com uma das vítimas e que ele sabia o “quão sujo Donald é”.
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Epstein foi um empresário americano acusado de ter abusado de mais de 250 meninas menores de idade e de operar uma rede de exploração sexual. Ele era conhecido por sua ampla rede de contatos com políticos, celebridades e executivos. Preso em julho de 2019, autoridades dos EUA afirmam que ele tirou a própria vida depois de um mês na prisão.
O que disse Epstein sobre Trump
Em um e-mail de Epstein de abril de 2018, dirigido à sua ex-namorada, Ghislaine Maxwell, posteriormente condenada por facilitar os crimes, o magnata afirmou: “Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é Trump”. Ele acrescentou que uma das vítimas “passou horas na minha casa com ele… e ele nunca foi mencionado uma única vez”.
Em outro e-mail, enviado por Epstein em 23 de agosto de 2018, à advogada Kathryn Ruemmler, ex-conselheira da Casa Branca no governo Barack Obama, refere-se a Donald Trump como “sujo”. Na época, Trump era presidente e enfrentava acusações de fraude contábil relacionadas a pagamentos à atriz pornográfica Stormy Daniels.
A troca de e-mails teve início quando Ruemmler enviou a Epstein um artigo de opinião do The New York Times no qual o colunista Bret Stephens argumentava que Trump havia cometido “crimes e delitos graves” que justificariam um impeachment. O texto detalhava a confissão de Michael Cohen, ex-advogado de Trump, que se declarou culpado no caso.
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Epstein respondeu minutos depois:
“Acho que ele defende a ideia de que era dinheiro dele, do Trump, o que tornaria a coisa não ilegal. Embora ele também tenha dito que só soube depois, certo? E o fato é que, segundo a acusação, isso foi registrado como ‘serviços prestados’ e com valor aumentado. Tenho certeza de que o contador dele já deve ter colaborado com a investigação, de qualquer forma. Conversei ontem em detalhes com Starr sobre as acusações, sobre como o Trump pode fazer um acordo (com o procurador especial). O lixo dos Clinton, sim, Starr me contou mais. YECHHHH!”.
A referência a “Starr” possivelmente é a Kenneth Starr, ex-promotor que integrou a defesa de Epstein. Ruemmler rebateu:
“Não faz diferença se o dinheiro era dele. A questão é a falta de transparência. Além disso, o fato de ele ter mentido descaradamente sobre isso deixa claro que sabia que era ilegal.”
Epstein então finaliza:
“Veja, eu sei o quão sujo o Donald é. Acho que pessoas de negócios de Nova York que não são advogadas não têm ideia do que significa quando o ‘consertador’ dele [Cohen] resolve falar.”
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Em mensagem de 2019, ao escritor Michael Wolff, autor de diversos livros sobre Trump, Epstein afirma que o presidente Donald Trump “sabia sobre as garotas” — aparentemente em referência à alegação de Trump de que expulsou ele de seu clube Mar-a-Lago por assediar jovens funcionárias.
“Trump disse que me pediu para renunciar, nunca fui membro. É claro que ele sabia sobre as meninas, já que pediu para Ghislaine parar”, escreveu Epstein.
O que diz Trump e a Casa Branca
Em resposta à divulgação dos e-mails, Donald Trump afirmou em uma rede social que a polêmica é uma “armadilha” criada pelos democratas:
“Os democratas estão tentando ressuscitar a farsa de Jeffrey Epstein porque fariam qualquer coisa para desviar o foco de como se saíram mal na paralisação e em tantos outros assunto. (…) Apenas um republicano muito ruim ou estúpido cairia nessa armadilha. Não deve haver distrações com Epstein ou qualquer outra coisa.”
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A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente “não fez nada de errado” e acusou os democratas de divulgarem os e-mails “para difamar Trump”.
Ela também questionou o fato de os documentos terem sido publicados no mesmo dia em que a Câmara votaria o fim do shutdown e disse que a oposição estava usando o caso para atacar o governo e criar uma narrativa falsa.
Crise no governo Trump
O caso Epstein representa uma crise para o governo Trump, já que até mesmo apoiadores do presidente têm questionado as possíveis ligações e pedem a publicação dos documentos ligados ao bilionário. Mesmo negando, Trump tem sofrido pressões, inclusive por sua base aliada.
Há diversas teorias que alimentam o caso, muitas conspiratórias, que ficaram conhecidas e passaram a ter influência na política americana. A maioria coloca o magnata como um exemplo da elite corrupta protegida pelo que chamam de “Estado profundo”.
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Diversas figuras do entorno de Trump já se posicionaram de forma crítica contra o caso Epstein, que não teve um avanço significativo nas investigações. O ex-marqueteiro de Trump, Steve Bannon, e o vice-presidente JD Vance já se manifestaram favoráveis pela divulgação dos arquivos de Epstein.
Em junho, durante a saída do bilionário Elon Musk do governo Trump, o empresário fez uma série de publicações contra o republicano, incluindo uma fala em que afirmava que Trump era citado nos arquivos do caso e por isso não teria divulgado os documentos.
É fato que os dois se conheciam e eram vistos juntos, o que pode ser registrado em diversas fotografias e em uma entrevistada publicada em 2002 à revista New York. Na época, Trump disse conhecer Epstein havia 15 anos, o chamou de um “cara fantástico”, e declarou: “Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são do tipo mais jovem”.
*Com informações do g1 e O Globo.

