Aos 28 anos, durante uma visita à irmã mais velha que estava em recuperação devido a retirada das duas mamas para tratamento do câncer, a aeroviária Tielle Passos Alves, que também já havia sentido um pequeno caroço na mama, foi alertada pela familiar sobre o risco que corria.
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Despreocupada, pela imunidade à doença que a pouca idade supostamente lhe garantia, procurou atendimento médico por insistência da irmã:
– Cheguei em Florianópolis (da visita) e fui fazer o exame. Imediatamente o resultado foi de carcinoma invasivo de grau três (um tumor maligno e de alta agressividade) – lembra.
O diagnóstico, embora grave, não chegou a assustar a aeroviária no primeiro momento. Ela achou que passaria, no máximo, por uma mastectomia (cirurgia de remoção de mama), como ocorreu com a irmã que havia descoberto o câncer no estágio inicial, aos 44 anos.
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– Fui até a minha mastologista que escreveu bem grande em uma folha A3: mastectomia, quimioterapia, radioterapia e hormonoterapia. Ela me disse que eu teria que fazer esses quatro procedimentos. Foi quando caiu a ficha.
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O diagnóstico de Tielle ocorreu em 2018. E, apesar de ser um tumor agressivo, o tratamento foi imediato e eficiente. Mas a realidade pode não ser a mesma para as 66 mil mulheres diagnosticadas anualmente com a doença no Brasil, segundo Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), especialmente quando a descoberta é tardia, o que pode se agravar em 2020 por causa da pandemia do coronavírus.
Segundo a mastologista Adriana Freitas, 75% das mulheres deixaram de fazer seus exames de rotina em 2020, o que inclui mamografias, por consequência da expansão da covid-19.
– O impacto disso é ruim, porque as mulheres que não foram fazer os exames estão em casa sem sentir nada e quando forem fazer os seus exames vão ter um diagnóstico mais tardio. Se a gente descobre o câncer de mama bem pequeno, a gente tem muito mais chance de cura e faz tratamentos menos agressivos – disse em vídeo divulgado nas redes sociais, com objetivo de alertar as mulheres sobre a importância da prevenção.
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Não à toa, a campanha Outubro Rosa deste ano traz a hashtag #perguntapraela e faz três perguntas às mulheres, uma delas questionando sobre a realização dos exames anuais. Com o mesmo propósito, a aeroviária e hoje ativista da campanha deixa o seu conselho às mulheres:
– Saibam que a vida é finita, então vivam fora do automático. Façam seus exames, se toquem, se conheçam, se amem. E se der medo, vão com medo mesmo. Não vamos deixar o medo do exame fazer com que essa doença cresça e piore, porque a vida é como uma tirolesa, dá um frio na barriga, dá arrependimento, mas depois que a gente se joga, o medo passa.
Medos mais frequentes das mulheres
Um dos maiores temores para quem recebe o diagnóstico de câncer de mama – e de outros tumores – é o de perder a vida. Mas não é o único. A perda do cabelo, a retirada da mama, a demora da reconstrução do seio e o abandono conjugal, são receios comuns que acompanham as mulheres cancerosas, segundo Maria Conceição dos Santos, voluntária da associação Amor e União Contra o Câncer (Amucc), que dá apoio emocional e auxilia mulheres que esbarram em dificuldades no tratamento médico.
– A mulher é muito mais que um peito e um cabelo. E nós tentamos mostrar isso através da arteterapia. Não estão sozinhas, podem falar sobre os receios sem julgamentos. É importante que olhem para si sem pensar no diagnóstico de morte. É o contrário disso. Eu estou com câncer e quero viver – encoraja a voluntária, já experiente no atendimento.
Diagnosticada há 13 anos com câncer de mama, quando ainda trabalhava no comércio, Maria Conceição tem propriedade para falar sobre o assunto. Com a família inteira em outro estado, enfrentou uma série de tratamentos na maior parte do tempo sozinha: fez quimioterapia, cirurgia, radioterapia, perdeu o cabelo, passou por reconstrução mamária, mas nunca deixou de lutar pela vida.
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Com 55 anos, é formada em serviço social e coordena o projeto na Amucc “Tecendo Corações”, que une mulheres com a mesma doença na arteterapia, um serviço fundamental para quem está submetida a uma alta carga emocional, consequência de um diagnóstico médico indesejado.
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– Nós, os cancerosos, queremos respeito e qualidade de vida – conclui.
Doença incomum em mulheres jovens
A mastologista Adriana Freitas explica que, embora o câncer de mama apareça também em mulheres mais jovens, como no caso da Tiellen, a doença é mais comum em mulheres acima dos 50 anos, que representam 60% do total de pessoas acometidas por esse tumor.
– Existe uma pequena porção dessas pacientes que têm câncer abaixo dos 50 (anos) e é muito mais incomum pacientes jovens que têm menos de 40 anos e com câncer de mama – explica a especialista.
Ainda, segundo a médica, as estatísticas do mundo inteiro mostram que a incidência em pacientes abaixo dos 40 anos giram em torno de 5%, mas existem dados brasileiros mostrando uma incidência de câncer de mama de até 19% em pacientes jovens.
– Esses trabalhos brasileiros tendem a nos fazer acreditar que no Brasil a incidência de câncer de mama em paciente jovem é um pouco mais alto – comenta.
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Exames de rotina
Embora os casos de tumores nas mamas também acometam as mulheres mais jovens, a indicação médica é para mulheres acima dos 40 anos, com exceção de quem já tem histórico familar de câncer de mama. Em ambos os casos – mais de 40 anos ou histórico na família – os exames de mama devem ser feitos anualmente.
Outros cuidados
Algumas medidas de prevenção podem ser tomadas ainda antes dos 40 anos, segundo a mastologista, como a prática recorrente de exercícios físicos, o controle de peso corporal e uma dieta saudável. Além disso, o consumo de bebidas alcoólicas também deve ser controlado.
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