Episódios ligados a ameaças, ataques e tensão relacionados à pré-campanha eleitoral têm se acumulado no Brasil. Só nesta quinta-feira (7), por exemplo, o país viu um ataque a um juiz federal e a um ato com o ex-presidente Lula (PT). Dias atrás, militantes de esquerda impediram uma palestra de políticos de direita.
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Também nesta semana, o ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse que o Brasil pode ter nas eleições deste ano um episódio ainda mais grave do que a invasão do Congresso dos EUA, em 6 de janeiro de 2021.
— Nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do 6 de janeiro daqui do Capitólio. Nós entendemos que há seis condições fundamentais para evitar que isso aconteça no Brasil — disse Fachin, durante uma conversa no Wilson Center, em Washington, na quarta (6). Ele, no entanto, não detalhou como o caso brasileiro poderia ser pior.
A polarização eleitoral entre Bolsonaro e Lula e a perspectiva de uma disputa acirrada levaram a Polícia Federal a reforçar o esquema de segurança de candidatos à Presidência para este ano.
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Até 2018, a PF fazia a proteção dos candidatos com base em lei e portaria sucinta do Ministério da Justiça, que tratava genericamente da necessidade de a corporação proteger aqueles que disputassem o Palácio do Planalto.
Após o pleito, marcado pela facada a Bolsonaro e ameaças à campanha de Fernando Haddad (PT), a polícia editou instrução normativa específica para a segurança dos candidatos à Presidência com diretrizes que devem ser seguidas pelos agentes e com recomendações claras aos políticos que vão concorrer.
Relembre a seguir alguns desses casos, em meio a mais uma eleição polarizada no país.
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Bomba caseira em ato de Lula
Um ato com apoiadores do ex-presidente Lula na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi alvo na noite desta quinta-feira (7) de um artefato explosivo que agravou a tensão na pré-campanha do petista, alvo de seguidos episódios de ataques nos últimos meses.
A bomba caseira, aparentemente feita de garrafa PET, foi lançada do lado de fora da área isolada em frente ao palanque, antes da chegada de Lula.
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Segundo a Polícia Militar do Rio, “um homem infiltrado no ato” foi detido e conduzido à delegacia após ter arremessado “um artefato explosivo de festas juninas” na área cercada pelo palco.
O suspeito foi autuado em flagrante por crime de explosão. Aos policiais civis ele admitiu ter jogado uma garrafa com explosivo de festa junina e urina.
A explosão ocorreu ao lado dos banheiros químicos -e seguida de um cheiro ruim sobre a área.
Ataque a juiz
O juiz federal Renato Borelli, que decretou a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro em junho, foi alvo de um ataque nesta quinta-feira (7).
O carro do juiz foi atingido por fezes de animais, ovos e terra, em Brasília. O ataque ocorreu enquanto Borelli dirigia o veículo, saindo de casa em direção ao trabalho.
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O material foi arremessado no para-brisa. Mesmo com a visibilidade prejudicada, Borelli conseguiu seguir até um local seguro. Ele não se feriu.
O ataque foi relatado ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). O caso foi revelado pelo site O Antagonista e confirmado pela reportagem.
Renato Borelli é juiz federal da 15ª Vara de Justiça Federal de Brasília. Foi ele quem autorizou a Operação Acesso Pago, da Polícia Federal, que prendeu Milton Ribeiro e outros quatro, em 22 de junho, por suspeitas de corrupção no Ministério da Educação.
Logo após a prisão, Borelli recebeu centenas de ameaças de grupos de apoio ao governo Jair Bolsonaro (PL), que foram comunicadas à PF no dia seguinte à operação.
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Protesto da esquerda impede palestra
O protesto que impediu o vereador paulistano Fernando Holiday e outros pré-candidatos do partido Novo de falar em evento na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, trouxe à tona novamente o debate sobre quão tolerantes com opiniões divergentes são alguns setores da esquerda.
O grupo do Novo falaria em evento sobre cotas e financiamento organizado pela União Juventude e Liberdade (UJL), entidade estudantil liberal, no dia 29 passado.
Sob o som de tambores e os dizeres “recua, fascista, recua, a Unicamp nunca vai ser sua”, estudantes ligados à União da Juventude Comunista (UJC) protestaram contra a presença dos palestrantes, que disseram ter sido agredidos e que tiveram o microfone cortado.
Após o tumulto, o evento acabou não acontecendo.
Procurada pela reportagem, a universidade condenou o ocorrido. “A Unicamp é historicamente reconhecida como um espaço aberto ao debate de ideias, onde as divergências sempre estiveram subordinadas ao respeito às diferenças”, escreveu a instituição em nota.
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Ataque drone a ato de Lula
O agropecuarista Rodrigo Luiz Parreira, 38, apontado como um dos autores do ataque com drone a um ato com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, foi preso no início deste mês a pedido do Ministério Público Federal (MPF), que investiga o caso.
A prisão ocorreu não diretamente por causa do uso do drone, mas pela aquisição irregular de armas de fogo identificada pelo MPF. Rodrigo está no Presídio Uberlândia 1, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
O agropecuarista já tem condenação por estelionato em Minas Gerais e por roubo em Goiás.
O ato com Lula em Uberlândia aconteceu no dia 15 de junho e teve também a presença do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). Foi a primeira aparição conjunta depois do anúncio da aliança dos dois partidos em Minas Gerais para a disputa das eleições de 2022.
Rodrigo e outros dois homens utilizaram o drone para lançar um líquido que seria veneno para matar moscas sobre militantes que aguardavam o início do ato. O produto é utilizado no meio rural em estábulos, por exemplo. Atingidos afirmaram que o líquido tinha cheiro de fezes e urina.
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Os três foram detidos em flagrante no dia do ato por uso irregular de drone e liberados depois de assinarem um termo circunstanciado de ocorrência. Não havia licença para a operação do aparelho, que foi apreendido.
Invasão de bolsonaristas
Em junho, o ato de lançamento das diretrizes do programa de governo da chapa Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), nesta terça-feira (21), em São Paulo, foi marcado pelo protesto de bolsonaristas que entraram no local.
O manifestante Caíque Mafra, pré-candidato a deputado estadual em São Paulo pelo Republicanos, entrou no salão do evento, em um hotel nos Jardins (região central), durante os minutos finais da fala de Lula e chamou o ex-presidente de corrupto. O petista foi surpreendido, mas não deu resposta.
O bolsonarista também gritou em direção a Alckmin uma frase sobre “voltar para a cena do crime”, em alusão a uma fala do ex-governador sobre o PT quando ainda era adversário.
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O grupo de manifestantes era formado por outros dois detratores do petista. Eles foram encaminhados para a delegacia. Em uma rede social, Mafra confirmou que era ele na cena e escreveu: “Questionei o corrupto do Lula e o Alckmin por sua fala e também chamei o corrupto de corrupto”.
Após o protesto, os manifestantes foram retirados por assessores e seguranças, e a polícia foi chamada. Lula chegou a interromper sua fala e abreviou seu discurso. Alckmin ficou em silêncio, com o semblante sério.
— Eu nem sei o que… — disse o petista sobre a situação, virando-se para o vice.
Bolsonaristas cercam carro de Lula
Em maio, o carro em que estava o ex-presidente Lula foi cercado por bolsonaristas na cidade de Campinas, interior de São Paulo.
Usando camisetas da seleção brasileira de futebol e segurando bandeiras do Brasil, o grupo xingou o petista enquanto o veículo em que ele estava tentava passar.
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A manifestação ocorreu em frente a um condomínio onde Lula esteve no local para um almoço. O incidente ocorreu no momento em que ele deixava o local.
Nas imagens, o momento mais agitado ocorre quando um dos seguranças de Lula retira uma faixa que estava pendurada em um carro estacionado. Na faixa estava escrito “Lula Lixo”. Alguns manifestantes perseguiram o segurança com xingamentos, o que elevou a tensão.
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