As câmeras digitais voltaram como uma febre impulsionada pelas redes sociais, especialmente entre a geração Z — nascidos entre 1995 e 2010. A tendência da estética dos anos 2000 é um dos principais motivos de procura pelas máquinas, mas a estudante blumenauense Ana Clara Hellmann aderiu à famosa Cyber-Shot por outro motivo: como uma forma de driblar a proibição dos celulares nas escolas e registrar as memórias antes da formatura — tudo com aval do colégio, claro.
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A lei de restrição ao uso de celulares nas escolas fez com que os estudantes do 9º ano do Colégio Menino Jesus, em Blumenau, se preocupassem com a formatura. Com a nova rotina, eles não teriam registros do último ano na escola que não tem turmas do Ensino Médio. Assim, a aluna Ana Clara, de 14 anos, teve a ideia de usar uma câmera antiga que estava guardada em casa.
A máquina fotográfica e a menina têm a mesma idade: 14 anos. Quando a estudante nasceu, o equipamento foi um presente da mãe, Rosângela Maria Gonçalves dos Reis, para o pai, Luciano Hellmann, para registrar a infância da filha. Além de ser um instrumento que guardará as memórias do colégio, a câmera de Ana Clara é, também, uma herança familiar.
Quando trouxe a máquina fotográfica para a escola, ela conta que as amigas ficaram empolgadas e logo correram para também registrar alguns momentos. Ana Clara organizou um banco de fotos, em conjunto com a coordenação e professores. Cada registro deixa marcado um pouco da rotina e das amizades, dos bons momentos e do aprendizado do cotidiano. As imagens, que serão guardadas com carinho ao longo do ano, vão ser usadas em um vídeo que será apresentado na formatura, em dezembro.
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Veja algumas das fotos feitas pelos estudantes
— Estou bem animada porque, como o colégio só vai até o 9º ano, a gente vai ter oportunidade de conhecer um espaço novo e pessoas novas [no Ensino Médio]. E minhas expectativas para o futuro são entrar na faculdade, mas ainda não decidi. Estou entre medicina e arquitetura.
Os principais momentos registrados pela Cyber-Shot são durante o horário de lanche e intervalo, nos quais os amigos se unem para tirar fotos e conversar. Ana Clara conta que as aulas de Arte e Educação Física, assim como os jogos escolares, também são os momentos mais fotografados. A estudante explica que não teve dificuldades para aprender a usar o equipamento.
— É bem parecido, só que o botão é mais difícil de clicar, tem que sempre ver se o flash tá ligado ou desligado, e quando a gente vai fazer uma selfie, não sabe se está aparecendo todo mundo… Mas, não teve tanta mudança [do celular para a câmera digital].
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Proibição dos celulares nas escolas
Ana Clara precisou deixar o smartphone em casa quando o uso de celulares foi proibido na escola, e conta que estranhou a nova rotina. A jovem relata que, durante as aulas, o celular nem fazia tanta falta e só realmente causava impacto nos intervalos e horário de lanche. Porém, confessa que não demorou para se acostumar e trocar o tempo de tela por outros hábitos, como ler ou conversar com os amigos.
— A gente ficava muito no celular, eu acho que até estamos conversando um pouco mais, por causa dessa proibição. Apesar dessa mudança ter impactado e que muita gente não gostou, acho que não foi tão ruim quanto eu imaginava — reflete a estudante.
Fila até para jogar xadrez
Claudimara Pfiffer é coordenadora do ensino fundamental há seis anos no Colégio Menino Jesus Educação Infantil, no bairro Velha. Ela conta que sempre foi a favor da proibição dos celulares por se preocupar com a concentração dos estudantes e também com a interatividade entre eles. Após a restrição, percebeu melhorias que foram além da concentração em sala de aula, ela notou uma relação mais forte entre os estudantes, mais interação e comunicação.
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— A escola colocou seis mesas de xadrez. Então, tem disputa e fila para jogar nos intervalos. A gente colocou duas mesas de tênis de mesa e duas mesas de pebolim. As meninas pulam corda, todo mundo quer jogar… Então, os alunos voltaram a fazer algumas coisas que eles não queriam mais fazer.
Ao passar dos meses com a instituição das novas regras, a coordenadora afirma ter percebido uma melhora na saúde mental dos jovens e uma queda nos casos de cyberbullying, que cessaram após as proibições dos smartphones.
O colégio, explica Claudimara, não enfrentou nenhum problema ou resistência dos alunos com a proibição, que compreenderam a importância de deixar o celular de lado enquanto estavam no local. Os estudantes ainda podem levar os smartphones por questões de segurança e saúde, mas o uso na escola é estritamente proibido.
— Até agora, no mês de abril, não dei uma única advertência para nenhum aluno que mexeu no celular ou que pegou o celular da mochila. Se o professor flagrar o aluno mexendo no celular, ele pode recolher o aparelho e trazer para mim. Mesmo assim, não houve nenhuma situação.
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A Lei Federal nº 15.100/2025 proíbe o uso de dispositivos eletrônicos como celulares em ambientes escolares como uma forma de preservar a qualidade da socialização e aprendizagem dos estudantes. Por isso, o uso dos aparelhos é proibido durante as aulas, intervalos e recreios, mas permitido para fins pedagógicos, na garantia de condições de acessibilidade e por motivos de saúde.
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