Conhecida por interpretar Anita na novela Caras e Bocas, da TV Globo, Danieli Haloten deixou a vida de atriz para virar servidora pública do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) em Santa Catarina. Ela, inclusive, foi a primeira intérprete cega da teledramaturgia brasileira. No entanto, 16 anos depois de participar da produção, ela agora tem um novo papel: o de lutar pela inclusão de pessoas com deficiência.
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Na novela escrita por Walcyr Carrasco e exibida em 2009, Anita era uma jovem que vendia flores na porta de um restaurante e chegou a viver um romance com o personagem André (Wagner Santisteban). Segundo Dani, o convite para participar da novela veio de um dos autores da teledramaturgia e aconteceu quando tinha 29 anos.
— Eu sempre mandava currículo para os autores e os diretores, porque em teste mesmo nunca ninguém me chamava, nem as agências, nem ninguém. E um dos autores me encontrou e achou interessante. Ele queria uma pessoa com deficiência na novela dele e daí pediu que eu mandasse um vídeo com a minha atuação e ele aprovou — relata a atriz.
Para Danieli, a experiência de participar de uma novela foi “diferente” e “enriquecedora”. Entretanto, conta que não se reconhece mais quando escuta a sua voz na televisão:
— Eu escuto minha voz, eu sei que sou eu, mas eu não acredito que sou eu, porque faz tanto tempo e eu tô com uma vida tão diferente agora. Você viver uma personagem que é totalmente diferente de você, é muito enriquecedor para entender a realidade de outras pessoas. Foi interessante ter uma experiência tão intensa que você grava todo dia, tem pouco tempo para decorar texto. Na época que eu queria atuar como atriz foi bastante interessante, mas eu não sei se eu voltaria hoje.
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De atriz de novela a servidora pública em SC
Formada em Jornalismo e Artes Cênicas, Danieli já tinha experiência com a televisão antes mesmo de atuar na novela da Globo. Ela começou a carreira profissional apresentando alguns programas em Curitiba, além de ter trabalhado no “Profissão Repórter”, programa jornalístico da Globo, ao lado do jornalista Caco Barcellos. Antes de ingressar como atriz, inclusive, já era concursada do Banco do Brasil.
— Para fazer a novela, eu tive que sair do banco. Quando eu voltei da novela, eu vi que as coisas não eram tão simples assim para você conseguir trabalho [na televisão]. Eu fui estudar para concursos, enquanto não aparecia outra coisa e eu acabei gostando. O Direito sempre esteve no meu sangue — conta a jornalista.
Anos depois da participação na novela, Danieli se formou em Direito e ingressou no TRT de Santa Catarina em junho de 2023, onde trabalha de forma remota, em Curitiba, graças a uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A decisão de morar na capital paranaense foi para conseguir ficar perto da família, mas também por estar sem um cão-guia, o que dificultaria ela de morar sozinha em Florianópolis.
— Uma outra condição especial de trabalho que o TRT proporciona é o trabalho apoiado. Eu nunca tinha trabalhado com essa forma. Eles disponibilizam um estagiário para ajudar nas questões visuais. A gente tem muita coisa para conquistar. Não vou mentir que ainda, por exemplo, sofremos com algumas questões inacessíveis no sistema, documentos que tem o formato que o leitor de tela não identifica. Ainda tem alguns problemas, mas a gente está avançando devagarinho — relata.
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Veja as fotos da ex-atriz
Busca por cão-guia e luta por visibilidade
Danieli conta que espera há três anos para conseguir um cão-guia. O processo, que segundo ela é demorado porque há mais pessoas aguardando do que animais sendo treinados, é feito por escolas especializadas, como a Helen Keller, de Balneário Camboriú.
— Me sinto cega de novo sem cão-guia. É desesperador depender dessa espera, porque são muitos candidatos e poucos cães — desabafa.
Uma reportagem feita pela NSC no ano passado mostrou que o preço para preparar um cão-guia pode chegar a R$ 100 mil. Atualmente, apenas oito instituições no Brasil são licenciadas para treinar e entregar os animais. Dados da União Nacional de Usuários de Cães-Guias (UNUCG) mostram que, em outubro de 2024, Santa Catarina tinha apenas 28 cães-guias para atender 180 mil pessoas com deficiência visual. Ou seja, equivalente a um animal a cada 6,4 mil candidatos na espera.
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Além da espera pelo cão-guia, Danieli relata que enfrentou dificuldades por falta de acessibilidade durante o último concurso público que prestou, em agosto deste ano:
— O computador não estava configurado para mim e fui prejudicada. Muitas vezes, as bancas impõem leitores de tela que não conhecemos. Isso gera estresse e desanima candidatos com deficiência.
Por isso, ela prepara uma palestra para o Tribunal Superior do Trabalho (TST) em que pretende apresentar essas barreiras e propor mudanças que garantam condições justas aos candidatos com deficiência visual. Nas redes sociais, inclusive, Dani utiliza os conhecimentos em Jornalismo e Direito para falar sobre os direitos das pessoas com deficiência por meio de vídeos para o seu canal do Youtube.
— Ainda estamos muito longe da inclusão. Quantos atores com deficiência você vê na televisão? Raríssimos. E muitas vezes personagens com deficiência são interpretados por atores sem deficiência, o que nos inviabiliza ainda mais. Realizei o sonho de atuar em uma novela, depois de passar em um concurso público e trabalhar em um tribunal. Foi difícil, mas possível. Seria melhor se fosse mais fácil, mas não é por isso que vamos desistir — salienta.
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Dia Nacional da Luta das Pessoa com Deficiência
O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência foi instituído por iniciativa de movimentos sociais, em 1982, e oficializado pela Lei 11.133, de 14 de julho de 2005. O dia foi escolhido por ser próximo do início da primavera e o dia da árvore, o que representa nascimento das reivindicações de cidadania e participação plena em igualdade de condições.
Antonietas
Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

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