A estreia de Blumenau nas telonas foi marcada por uma polêmica cujo motivo dificilmente renderia alarde hoje em dia. Porém, os tempos eram outros e, à época, em 1967, o longa-metragem “Férias no Sul” virou assunto entre os blumenauenses, além de agitar a rotina do então pacato município.
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As gravações ocorreram durante três meses, em 1966. O cineasta Reynaldo Paes de Barros escolheu Blumenau como cenário do romance que contava a história de Celso (David Cardoso), um estudante carioca que veio passar férias na maior cidade do Vale do Itajaí. Durante o passeio, conhece duas mulheres, Helga (Dagmar Heidrich), descendente de alemães, e Isa (Elizabeth Hartmann), uma escritora paulista.
Ele se envolve com as duas e a história termina em tragédia (sem spoilers, já que o filme pode ser assistido no Youtube). No dia da estreia, Blumenau parou. Em entrevista ao Jornal de Santa Catarina, uma das pessoas da plateia, a escritora Urda Alice Klueger, contou sobre o episódio:
— O que mais me impressionava era que todo o mundo ia lá para falar mal da produção. Dizia-se que o filme foi feito para rebaixar Blumenau e a moral da sua gente.
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Veja fotos do filme
O envolvimento com duas mulheres já seria polêmica suficiente, mas um detalhe foi a gota d’água para a conservadora sociedade: em uma das cenas, depois de uns “amassos” entre um casal, a mulher, vestida de frida, aparece arrumando a roupa. Nesse momento, é possível ver um pedaço da alça do sutiã dela.
Foi esse o grande escândalo.
Férias no Sul lançou Blumenau nas telas de cinema do Brasil durante a década de 1960 e os bastidores trazem curiosidades que os moradores podem identificar com facilidade, leia algumas delas:
- A casa escolhida para as cenas externas do filme foi a da viúva Frau Peiter, na Alameda Rio Branco, que ficava logo depois do Grêmio Esportivo Olímpico, hoje já demolida;
- As cenas internas foram filmadas na casa estilo “castelinho” de Antônio Reinert, na Rua Namy Deeke;
- Filmagens também foram feitas no Tabajara Tênis Clube; na Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, na Alameda Rio Branco; no Grande Hotel Blumenau; no Morro do Aipim; na Reserva Florestal da Cia. Hering e nas ruas da cidade.
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Profissionais da telona em Blumenau
Os mais conhecidos do filme eram o galã David Cardoso, que havia feito pequenos papeis em filmes de Mazzaroppi, e a atriz paulista Elizabeth Hartmann. A mocinha do filme foi interpretada por Dagmar Heidrich, Miss Blumenau na época. O restante do elenco foi composto por “atores” da comunidade e pessoas conhecidas, como o secretário do Colégio Santo Antônio Franz Pult.
Na época, o diretor Reynaldo Paes de Barros resolveu fazer um trabalho que se distanciasse das chanchadas humorísticas, sucesso que estava se esgotando, como do hermetismo e obra de autor do Cinema Novo, movimento que tinha em Glauber Rocha como maior expressão. Reynaldo optou por localizar a história no Sul e contratou como produtor executivo do filme Geraldo Mohr, casado com uma jovem do Vale do Itajaí.
O cineasta estava disposto a investir no filme, tanto que em entrevista para o Jornal Mensageiro, de Blumenau, em janeiro de 1967, Barros contou que todo o dinheiro da produção saiu do próprio bolso. Na equipe estavam técnicos que haviam acabado de participar das filmagens de um seriado do Tarzan, estrelado por Ron Ely. A blumenauense Sheila Weickert, além de atriz, foi assistente de direção e continuísta.
A fotografia é de Jorge Veras, substituído durante as filmagens por Edgar Eichhorn, veterano cineasta alemão radicado no Brasil. A maquiagem esteve a cargo da profissional Nena e a trilha musical foi composta por Remo Usai, que estava nas principais trilhas dos filmes na época.
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* Com informações de Pamyle Brugnago
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