Três motoristas da empresa que faz o transporte coletivo de Joinville foram demitidos após apontarem problemas mecânicos na frota de ônibus da cidade. Eles identificaram as falhas e teriam se recusado a dirigir os veículos. Um dos carros já teria passado por um acidente de trânsito depois de apresentar pane no sistema de freios.
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Eles procuraram a reportagem do NSC Total com vídeos mostrando as condições dos veículos, da Transtusa, uma das duas empresas responsáveis pelo transporte coletivo da cidade. Mais de 100 mil usuários circulam por Joinville diariamente no transporte público local, em serviço contratado pela Prefeitura.
Em nota, a prefeitura de Joinville afirmou que realiza vistorias mensais nos veículos da frota, com percentual de fiscalização superior a 95% do total de veículos. Ainda, reforçou que a população pode acionar a Ouvidoria caso identifique qualquer irregularidade. Por fim, reforçou que, quando uma condição inadequada é constatada, são aplicadas sanções previstas na legislação municipal. Se a irregularidade persistir, o veículo é retirado de circulação. Confira abaixo a nota na íntegra.
Os alertas teriam sido emitidos pelos profissionais entre os dias 23 de setembro e 1º de outubro de 2025. João Carlos*, um dos profissionais demitidos, contou ao NSC Total que já observava problemas mecânicos há algum tempo. Porém, em março deste ano, foi designado a trabalhar com um ônibus que tinha indícios de falha nos freios.
Quando chegou a um dos terminais da cidade, acionou a supervisão e os mecânicos. Após uma análise, eles decidiram não trocar o carro. Para o funcionário, eles não teriam acreditado “na palavra do motorista”:
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— Como eu já tinha reclamado algumas vezes [de outros carros], eles me chamaram a atenção: “que é assim mesmo, que eu tenho que ir assim, e tal. Então não briguei mais — recorda.
Resignado, dirigiu o veículo naquela situação por medo de perder o emprego. Porém, enquanto se dirigia para o Distrito Industrial de Joinville, com tráfego intenso, veio o problema.
— O ônibus estava muito lotado, pesado. De repente, precisei do freio com emergência e não consegui frear. Fiz de tudo para conseguir. Não consegui e bati em dois carros. O acidente colocou nossa vida em risco — lembra.
Para João Carlos, mesmo ele e outros colegas denunciando internamente os problemas, nada mudou nos últimos meses. A pressão e cobrança para trabalhar com os veículos inadequados, inclusive, aumentou.
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— Até conversei com supervisores. Eu falei para eles: “vocês cobram, cobram, cobram. Vamos fazer cobrança também, melhores qualidades de trabalho, principalmente, com [melhor] equipamento de trabalho. É segurança, são vidas que a gente transporta.” Eu falei para eles que ia continuar brigando, porque querendo ou não é minha segurança, minha vida e vida dos passageiros também — relata.
“Barulhão escandaloso”
O problema ganhou repercussão em toda a cidade após um vídeo ser gravado dentro de um ônibus, da frota da Transtusa. Nas imagens, feitas na terça-feira (30), o motorista José Luiz* denunciou a precariedade do veículo, que não estava com a quinta marcha funcionando.
Ao NSC Total, José relembrou que chegou para trabalhar ainda de madrugada, por volta das 5h30min, e logo foi avisado que o seu carro do dia estava em manutenção. Por isso teria que rodar com outro veículo. Quando estava se organizando para começar o trabalho, um colega passou por perto e o avisou do possível problema naquele ônibus.
— O motorista falou: “cara, esse carro está estragado. Você pisa no freio faz um barulhão escandaloso. Esse carro tá cheio de problema.” Daí eu peguei, liguei o carro e fui dar uma volta no pátio. E aí constatei que o carro realmente estava com todos os problemas que ele havia falado para mim — conta.
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José levou o ônibus para a supervisão e informou o controlador do turno da manhã sobre o problema. O funcionário, porém, afirmou que o motorista teria que trabalhar com o veículo mesmo assim. José até argumentou que o carro era o mesmo carro utilizado por um terceiro colega, o Marcos Paulo*, antes de também ser desligado da companhia por denunciar falhas.
— A contragosto, trabalhei com o carro com esse problema a manhã inteira. Onde eu falei para o meu colega: “ô, vem aqui, pelo amor de Deus, cara, faz um vídeo aqui pra mim desse carro. Aí é o vídeo que tá postado [nas redes sociais], que não tem a quinta, que faz aquele barulhão ali — afirma.
Após o registro vazar e ser compartilhado na internet, José Luiz foi chamado por um superior na manhã de quarta-feira (1º) e desligado da companhia.
— [Falou]: “teu vídeo em um primeiro momento auxiliou a vermos o defeito do carro. Só que ele rodou aí nas mídias e este vídeo tá prejudicando a imagem da empresa, a empresa de 65 anos. E por esse motivo nós estamos te desligando por justa causa — recorda José sobre o momento da demissão.
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Confira vídeo que levou à demissão por justa causa
“Vexatório”
O ônibus usado por José era o mesmo utilizado e denunciado por Marcos Paulo em 18 de setembro deste ano. Marcos conta ao NSC Total que, ao chegar para trabalhar nesse dia, recebeu um segundo veículo. Porém, o carro apresentava problemas nos freios, folga no volante e falta de potência, impossibilitando a condição segura. Por isso, se recusou a dirigir aquele veículo para resguardar sua segurança e dos passageiros.
Seus supervisores, então, teriam designado outro veículo da frota para o seu dia de trabalho: o mesmo usado por José. Marcos constatou que o carro apresentava uma falha na transmissão, identificava como a ausência da quinta marcha. Novamente, se recusou a conduzir o veículo. Por isso, foi suspenso por três dias, podendo voltar ao trabalho apenas na segunda-feira, dia 22 de setembro.
Junto ao sindicato que representa a categoria, o motorista tentou reverter a suspensão. Seu superior se recusou a assinar a carta de recurso administrativo. Marcos foi demitido no dia 23 de setembro.
Veja precariedades registradas
O que diz a empresa Transtusa
A Transtusa informou que realiza manutenções preventivas e corretivas regulares em sua frota e não coloca em circulação qualquer veículo que represente risco de segurança aos passageiros, motoristas ou pedestres.
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Além disso, também afirmou que os motoristas recebem treinamentos periódicos onde são orientados a encaminhar veículos com qualquer não conformidade para reparo. Sobre desligamentos, informou que, quando realizados, são feitos em conformidade com a legislação vigente.
Veja a nota completa da empresa
A Transtusa reafirma seu compromisso com a segurança e a qualidade dos serviços prestados. A empresa realiza manutenções preventivas e corretivas regulares em sua frota e não coloca em circulação qualquer veículo que represente risco de segurança aos passageiros, motoristas ou pedestres. Os motoristas recebem treinamentos periódicos onde são orientados a encaminhar veículos com qualquer não conformidade para reparo. Sobre desligamentos, informa que, quando realizados, são feitos em conformidade com a legislação vigente.
Veja a nota completa da Prefeitura
A Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra) realiza vistorias mensais nos veículos da frota, com procedimentos conduzidos nos terminais urbanos. O percentual de ônibus fiscalizados todos os meses é superior a 95% do total da frota.
Caso a população identifique alguma irregularidade, pode acionar a Ouvidoria da Prefeitura de Joinville pelo aplicativo Joinville Fácil, pelo site da Prefeitura (joinville.sc.gov.br) ou pelo telefone 156, preferencialmente informando o número do prefixo ou placa do ônibus, além do dia, horário e linha.
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Quando há alguma condição considerada inadequada, são aplicadas as sanções previstas na legislação municipal. Inicialmente, é emitida uma notificação com prazo para correção. Caso o problema não seja resolvido, é realizada a autuação. Se a irregularidade persistir, o veículo é retirado de circulação.
*O NSC Total optou por não utilizar os nomes verdadeiros das fontes desta matéria como forma de resguardá-las como pessoas e profissionais
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