O frio intenso que atinge Santa Catarina e a região Sul do Brasil desde a quarta-feira (28) acende um alerta para os casos de hipertensão arterial, condição que está vinculada a doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e insuficiência renal. Isso porque o frio pode aumentar os riscos de elevação da pressão arterial e causar até 30% de aumento nas doenças cardiovasculares em algumas populações vulneráveis, conforme explica o cardiologista Frederico Simch.
Continua depois da publicidade
— Durante o inverno, o corpo humano promove vasoconstrição periférica, um mecanismo
fisiológico que reduz o diâmetro dos vasos para conservar calor. Isso aumenta a resistência
vascular e, consequentemente, a pressão arterial — alerta o cardiologista.
Popularmente conhecida como pressão alta, a hipertensão é uma das condições crônicas mais comuns no Brasil, atingindo cerca de 28% dos brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde (MS). Por isso, fatores como o clima podem acender um alerta para a condição, especialmente em pessoas idosas.
A região Sul é popularmente conhecida por ter um clima mais frio. Nesta semana, em pleno outono, Santa Catarina teve a primeira neve do ano, ao lado do Rio Grande do Sul. O Paraná, apesar de não ter registrado o fenômeno, bateu o recorde de frio de 2025, com registro de 0,6°C por volta das 4h da última quinta-feira (29).
Veja imagens da chegada da neve em SC
Continua depois da publicidade
No frio, outros fatores que contribuem para a hipertensão arterial, segundo o médico, são:
- Aumento da liberação de catecolaminas (dopamina, norepinefrina e epinefrina);
- Maior risco de infecções respiratórias, que também sobrecarregam o sistema cardiovascular;
- Redução da atividade física e maior ingestão de calorias e sal;
- Distúrbios do sono, agravados pelo frio e menor exposição solar.
A hipertensão é uma doença silenciosa e, de acordo com o cardiologista, muitos pacientes não apresentam sintomas, mas isso não significa que a doença esteja controlada.
— O tratamento contínuo é fundamental para prevenir complicações graves, que podem surgir de forma súbita — explica.
Durante o frio, uma hipertensão crônica mal controlada pode representar um fator de risco para infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC isquêmico e hemorrágico), insuficiência cardíaca e doença renal crônica, de acordo com o médico.
Continua depois da publicidade
— No inverno, existe um aumento de até 30% nas doenças cardiovasculares em algumas populações vulneráveis, devido à sobrecarga hemodinâmica induzida pelo frio.
Cuidado deve ser redobrado no frio
Os pacientes que já possuem o diagnóstico devem redobrar o cuidado nos períodos mais frios.
— Durante o inverno, recomendo que pacientes hipertensos façam o automonitoramento
domiciliar com mais regularidade, idealmente de uma a duas vezes ao dia, em repouso, pela manhã e à
noite, utilizando aparelhos validados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) — diz Frederico Simch.
É importante, de acordo com o médico, anotar os valores em um diário e, em caso de variações persistentes, procurar orientação médica.
Continua depois da publicidade
Idade também acende alerta para a região Sul
A idade é um fator diretamente associado ao aumento da rigidez arterial e à elevação progressiva da pressão arterial. Na comparação com o restante do país, a região Sul conta com a maior proporção de pessoas idosas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Brasil, a prevalência do diagnóstico médico é maior entre mulheres (29,3%) do que entre homens (26,4%) nas 27 capitais brasileiras. Entretanto, em ambos sexos, a frequência aumentou com a idade, segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023.
Segundo números do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde de 2023, 60% dos idosos brasileiros têm hipertensão.
Sintomas, prevenção e diagnóstico
Por se tratar de uma doença silenciosa, os sintomas podem não se manifestar. Quando presentes, os mais comuns são tontura, falta de ar, palpitações, dor de cabeça frequente e alterações na visão.
Continua depois da publicidade
A prevenção da hipertensão deve começar desde cedo. O especialista indica alimentação saudável, prática regular de atividade física e monitoramento periódico da pressão arterial como pilares fundamentais.
— Reduzir o consumo de sal e embutidos, substituindo-os por temperos naturais e carnes magras, por exemplo, é um passo importante — aponta Simch.
Movimentar o corpo também é essencial, mesmo no frio. Manter-se ativo e praticar atividades — como caminhadas em shoppings, treinos em academias ou exercícios em casa — ajudam a combater o sedentarismo quando o clima não atrai para a prática ao ar livre.
Também é fundamental evitar o consumo excessivo de álcool, mesmo em ocasiões sociais, e aferir a pressão com regularidade, principalmente em pessoas com histórico familiar da doença.
Continua depois da publicidade
Um dos principais entraves para o diagnóstico precoce da hipertensão está na baixa percepção de risco, especialmente entre os mais jovens e aqueles que não apresentam sintomas.
— A hipertensão é, muitas vezes, negligenciada até que provoque uma complicação grave, como um AVC ou infarto. O acompanhamento regular é uma ferramenta valiosa — completa o cardiologista.
*Sob supervisão de Andréa da Luz
Leia também
Dor “incapacitante”, cirurgias e demora no diagnóstico: como é a vida com endometriose
 
				 
                            
                            












