A companhia mineira, que completa 50 anos de atividades em 2025, estreia em Florianópolis o novo balé, Piracema, em curtíssima temporada nos dias 9 e 10 de setembro. Os ingressos estão à venda na diskingressos.com.br . O programa da noite ainda traz Parabelo (1997), com música de Tom Zé e Zé
Miguel Wisnik.

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O peixe sobe a correnteza do rio, numa dura jornada, para chegar ao local da desova. Contra a força da corrente, contra os obstáculos, vence a urgência de criar e recomeçar o ciclo da vida. No ano de seu cinquentenário, o Grupo Corpo escolheu o fenômeno da piracema como símbolo de sua trajetória – uma viagem movida pelo irresistível desejo de criar, recriar e resistir, em sua brasilidade profunda e incontestável que deságua na linguagem universal da grande arte. Com trilha inédita composta por Clarice Assad, Piracema inaugura a parceria coreográfica de Rodrigo Pederneiras com Cassi Abranches, que passa a ser também coreógrafa residente.

Completando o programa, o Corpo traz de volta Parabelo, de 1997, a peça de inspiração sertaneja com música de Tom Zé e Zé Miguel Wisnik. O Grupo Corpo é apresentado pela Cemig e pela Petrobras e conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale e da Vivo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

A retrospectiva destes 50 anos também será feita em forma de documentário (direção de Janaína Patrocínio) e livro (elaborado pelo Estúdio Campo e publicado pela editora BEI, que vai reunir as extraordinárias fotos de José Luiz Pederneiras produzidas ao longo de décadas para os espetáculos da companhia). A agência Africa Creative também se integrou às celebrações do cinquentenário.

Criação dividida e multiplicada

Uma inovação radical no método de trabalho dos dois criadores – Rodrigo e Cassi – neste PIRACEMA. Um desafio e tanto, a partir da proposta do diretor artístico Paulo Pederneiras. Com a companhia dividida em dois grupos de 11 bailarinos, cada um dos coreógrafos criou e ensaiou independentemente todo o balé, para depois reunir e combinar as duas versões. “Nossas duas visões se completam. Foi uma experiência riquíssima”, é o que Rodrigo Pederneiras considera sobre o processo de criação. “Cassi é nossa cria, domina a linguagem e, ao mesmo tempo, traz novos elementos, sua bagagem internacional, os dez anos em que evoluiu em outros cenários”. Limites rígidos foram estabelecidos. “Não podíamos nem circular na área em que o outro grupo estava ensaiando”, revela Cassi Abranches.

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E foi exatamente dois meses antes da estreia, em 13 de junho, que os dois grupos finalmente assistiram o trabalho um do outro e os coreógrafos passaram a reunir as concepções. “Nesse momento, foi uma emoção, choro, alegria”, lembra Paulo Pederneiras. A obra combinada resulta inteira, desafiadora, “uma terceira via”, define Rodrigo. “Nossas visões têm características próprias, claro – sou mais intimista na movimentação, Cassi é mais explosiva e aberta”.

Na música, utopias e distopias

O balé Piracema traduz a música de Clarice Assad que, dividida em três grandes movimentos, traça um arco que se inicia no tribal, no ambiente natural intocado, passa pela polifonia sinfônica do clássico e termina no eletrônico, urbano, contemporâneo.

Primeira mulher a compor uma trilha para a companhia, Assad encarou, em suas palavras, “uma maratona”. “Foi minha primeira trilha, e logo com o gigantesco Grupo Corpo, de quem sou absolutamente fã”, conta a compositora direto de Chicago, onde mora. “Honrada e lisonjeada. Encaramos juntos um processo maravilhoso, que me ensinou muito”.

Ela trabalhou com o percussionista Keita Ogawa, da orquestra de cordas New Century Chamber, de São Francisco, e com participações especiais como a de seu pai, o grande violonista e compositor Sérgio Assad. “Usei bastante minha voz em harmonias vocais e até lancei mão, na terceira parte, de ruídos e sons criados por inteligência artificial. No final das contas, foi um quebra-cabeças que o Corpo e eu montamos lado a lado, criando um panorama de evolução, mudança e revolução do mundo. E ainda não sabemos se caminhamos para uma utopia ou uma distopia. Mas o poder regenerativo da arte é real”.

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Parabelo

Sertanejo e contemporâneo, como a trilha composta por Tom Zé e José Miguel Wisnik, o balé Parabelo, de 1997, leva do coreógrafo Rodrigo Pederneiras a definição de “a mais
brasileira e regional” de suas criações. Dos cantos de trabalho e devoção, o baião cadenciado e contrapontos rítmicos emerge uma escritura coreográfica de grande
força expressiva, repleta de jogo de cintura e marcação de pé.

O cenário de Fernando Velloso e Paulo Pederneiras exibe ex-votos de igrejas interioranas em dois painéis, de 15m x 8m, que dão sustentação cenográfica ao espetáculo. Os figurinos de Freusa Zechmeister têm, na primeira parte, a intensidade das cores velada por um tule negro, à exceção das sapatilhas. Na explosiva reta final do balé, as malhas coloridas se libertam do véu.

Grupo Corpo completa 50 anos

Fundado em 1975, ocupando num primeiro momento a casa onde os irmãos Pederneiras – Paulo, Zé Luiz, Miriam, Rodrigo, Pedro e Marisa – foram criados, o Grupo Corpo chega aos 50 anos de atividades como o mais importante grupo de dança contemporânea do país. “Éramos presunçosos. Quando nossos pais cederam a casa em que morávamos, em Belo Horizonte, para que se tornasse a sede da companhia, achávamos que ia dar certo”, graceja Paulo Pederneiras, diretor artístico.

O Corpo, em sua constante produção no nível da excelência, ampliou e consolidou o público de dança no Brasil. É o resultado da originalidade e da poesia do vocabulário coreográfico construído por Rodrigo Pederneiras, com um elenco impecável, e da extrema qualidade, cuidado e ousadia da direção de arte – cenografia, figurinos, iluminação. Sua brasilidade profunda e incontestável deságua na linguagem universal da grande arte. Nas cinco décadas da companhia, alinham-se 43 obras criadas e montadas, com apresentações em 261 cidades de 41 países, além do Brasil. Ao longo da sua trajetória, encomendaram música original a duas dezenas de compositores, e dançaram obras do popular e do clássico. E não há dúvidas de que o Grupo Corpo mudou o panorama da dança no Brasil e tornou-se um embaixador cultural do país nos quatro cantos do planeta, da Tailândia aos EUA, da Rússia ao Canadá.

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Indubitável patrimônio cultural do Brasil, o Grupo Corpo sempre trabalhou pela formação de jovens e de público através de seu Corpo Cidadão, organização sem fins lucrativos que funciona desde o ano 2000, e da Corpo Escola de Dança, criada também há 50 anos. Em outro viés de formação e participação, dois programas estão ativos. Há 10 anos, funciona um bem-sucedido programa de doação incentivada para pessoas físicas (Amigos do Corpo, que oferece abatimento no imposto de renda) e inaugurou, em 2022, os Patronos do Corpo, que reúne figuras de destaque na vida nacional, com doações diretas e mais robustas. São formas de aproximação do público e maneiras de mobilizar a sociedade, trazendo um aporte financeiro importante.

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